Dentro de 40 dias, começa o
maior ciclo de grandes eventos da história do Brasil. A Copa das Confederações,
que aquece as equipes para 2014 e testa estádios e transportes de seis das doze
cidades-sede da Copa do Mundo, inaugura uma era de grande fluxo de visitantes e
de visibilidade internacional para o Brasil. Para o Rio de Janeiro, em
especial, o calendário de acontecimentos será intenso. Três semanas após a
final da competição, começa, em 23 de julho, a Jornada Mundial da Juventude
(JMJ), reunião de católicos que levará à cidade o papa Francisco e deve atrair
mais de 2 milhões de visitantes – grande parte deles pelo Aeroporto
Internacional do Galeão-Tom Jobim. Estratégicos para a segurança e para a
logística das grandes cidades, os aeroportos são elos sensíveis da cadeia de
planejamento dos grandes eventos. E no caso do Rio de Janeiro a situação atual
do terminal internacional não é das melhores. Um relatório da Polícia Civil e
do Ministério Público obtido pelo site de VEJA enumera falhas de segurança que
tornam as áreas de desembarque e os setores de carga e descarga altamente
vulneráveis para roubos e furtos de mercadorias, com alertas sobre a conivência
de funcionários e até de deficiência das empresas aéreas.
O problema do momento
diagnosticado pela Delegacia do Aeroporto Internacional, órgão da Polícia Civil
instalado nas dependências do terminal, está restrito ao dano patrimonial para
quem viaja. Perfumes, presentes, roupas e objetos de pequeno porte ‘escoam’
pelos furos do Galeão. Com porões mal vigiados, brechas no transporte das
bagagens e falta de fiscalização sobre pessoal interno, é fácil desviar itens
de viagem. A análise da polícia, no entanto, impõe a pergunta: o terminal que
será a principal porta de entrada da JMJ e da Olimpíada de 2016 tem condições
de oferecer segurança contra ameaças maiores, como atentados terroristas
planejados e ações tresloucadas altamente ofensivas, como a dos irmãos Tsarnaev,
na maratona de Boston?
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Foto: Genilson Araújo/Parceiro/Agência O Globo |
O relatório da Polícia Civil
enumera as principais fragilidades do Galeão. A maioria dos furtos acontece no
interior dos porões das aeronaves, poucos deles no trajeto até as esteiras. O
motivo: A maioria das companhias aéreas não tem câmeras nos porões. A iluminação
nos porões também é insuficiente.
Tratar delitos corriqueiros de
funcionários como ocorrências de menor importância não é recomendável quando a
área em questão é um aeroporto de grande movimento. Um dos itens destacados
pelo relatório da Polícia Civil, assinado pela delegada Izabela Silva Rodrigues
Santoni e elaborado com base nas ocorrências de 2011, diz respeito ao furto de
armas de fogo. De acordo com o documento, os lacres utilizados pelas empresas
aéreas são frágeis e podem ser abertos “inclusive com as mãos”. “Estes mesmos
lacres são utilizados nos cofres das aeronaves, motivo que tem possibilitado
furtos de armas de fogo”, escreveu a delegada. Procurada pelo site de VEJA,
Izabela, que deixou recentemente a delegacia do aeroporto, não quis se
pronunciar. O relatório foi encaminhado em dezembro do ano passado ao
Ministério Público Federal, que oficiou a Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac) e a Infraero. O MPF cobrou ações da Anac e da Infraero.
“Expedi ofícios comunicando as
irregularidades à Anac e à Infraero para que adotem providências cabíveis e
prestem informações sobre tudo o que foi denunciado”, afirmou o procurador da
República Márcio Barra Lima. O MPF, por enquanto, continua sem resposta.
Diariamente, cerca de 50.000 pessoas embarcam e desembarcam do aeroporto
internacional do Galeão. Durante a Copa das Confederações e a Jornada Mundial
da Juventude (JMJ), o aumento do número de passageiros no principal aeroporto
do estado, somado à fragilidade da segurança, pode facilitar a ação dos
bandidos. Superintendente Regional da Infraero no Rio de Janeiro, André Luís
Marques de Barros admite que uma das preocupações em relação aos dois eventos é
o furto de malas. “Bagagem violada incomoda a administração do aeroporto e os
órgãos de segurança porque denota certa fragilidade. Nós administramos mais de
50.000 bagagens por dia, e os furtos, violações e extravios não são
significantes a ponto de aparecerem em estatísticas”, afirma.
De acordo com Barros, durante
os dias da JMJ, a Infraero vai aumentar seu efetivo em 30%. Além de
intensificar a fiscalização do transporte das malas desde as aeronaves até os
passageiros, a Infraero vai fazer blitz em locais considerados estratégicos,
como no pátio do aeroporto.
Procurada pelo site de VEJA, a
Anac informou que respondeu o ofício do MPF sobre o sistema de segurança do
aeroporto do Galeão. O ofício em atenção ao MP está no protocolo da Agência
para expedição. A Anac acrescentou ainda que só vai se manifestar após o
recebimento do ofício e publicidade das informações pelo MP.
Atualmente, o Galeão passa por
reformas nos terminais 1 e 2. A revitalização começou em agosto de 2012, como
parte da programação da Infraero para modernizar o aeroporto para a Copa das
Confederações e a Copa do Mundo, em 2014. Com a conclusão das obras, o
aeroporto passará a ter capacidade para processar 44 milhões de passageiros por
ano. Hoje, a capacidade é de 21 milhões por ano, segundo a Infraero. Dez novas
escadas rolantes serão instaladas no terminal 1, entre os setores A e B, e
atenderão, principalmente, passageiros de voos domésticos e aqueles que desejam
chegar ao estacionamento e à praça de alimentação. De acordo com Barros, outra
mudança será o aumento do número de terminais de check-ins. No Terminal 2, até
janeiro eram pouco mais de 40. Hoje, são 80. Em abril de 2014 serão 112 pontos.
A segurança é o aspecto mais
grave de uma lista de melhorias necessárias para que o Galeão seja um aeroporto
internacional com a qualidade compatível com sua importância. Atualmente, os
usuários enfrentam uma série de desconfortos que tornam a viagem
desnecessariamente estressante. Longa espera para a retirada de malas,
extravios de bagagens e demora para embarque e desembarque são algumas das
reclamações dos passageiros que utilizam o aeroporto do Galeão. Moradora de
Cabo Frio, no Rio de Janeiro, a professora Patrícia Bomfim, 51 anos, viajou com
a família para Foz do Iguaçu na semana passada. Nesta sexta-feira, no
desembarque, ela lembrou os problemas que teve na ida e na volta.
“O voo saiu do Rio com mais de
uma hora de atraso. E ninguém dá informação correta. Parece que você tem a
obrigação de esperar. Na volta, não tivemos problemas com o voo, mas todas as
malas chegaram muito sujas. Fica claro que, durante o transporte da mala, eles
não têm o menor cuidado”, disse a professora.
As irmãs Camila Fernandes, 19
anos, e Caroline Fernandes, 25 anos, também saíram insatisfeitas do Galeão.
Moradoras de Santa Catarina, elas chegaram de Orlando nesta sexta-feira e
esperaram meia hora para desembarcar. “Depois de um voo cansativo de dez horas,
meia hora de espera é o bastante para irritar os passageiros. Parece que não
tinha ônibus para nos buscar no avião. Depois, esperamos por mais de 20 minutos
para que as malas fossem colocadas na esteira. Ou seja, perdemos quase uma hora
em terra”, disse a advogada Caroline.
Título e Texto: Ana Clara Costa e Pâmela Oliveira, na VEJA.com.
Via ReinaldoAzevedo, 05-05-2013
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