O texto abaixo transcrito já
tinha chegado à minha caixa postal duas ou três vezes. Como não sou muito
chegado a textos apócrifos e, em rápida pesquisa, tê-lo localizado em dois
blogues com data de 2011, não dei bola.
Hoje pela manhã recebi um
e-mail do amigo e valioso colaborador deste blogue, Otacílio Guimarães, pedindo-me esse texto.
Respondi-lhe: “Lembro-me desse texto, mas
não o tenho nem o postei.”. E cliquei em “Enviar”.
Logo em seguida clico em “Receber”,
e eis que via Pierre Pereira me chega o referido texto, desta vez constando uma
assinatura. Ops! Muita coincidência!
Depois da carta do piloto, leia a matéria do jornal “Estado de Minas”, com data recente, 07 de abril de 2013:
“Uma carta escrita por um piloto
anônimo circula nas redes sociais com severas críticas à falta de planejamento
e investimento do setor. O Estado de Minas
encaminhou o documento para especialistas em aviação que corroboraram o
conteúdo argumentado e aprofundando o debate sobre alguns do problemas.
Entre as dezenas de pontos levantados no texto, o autor cita a insuficiência de
vagas para aeronaves nos pátios dos principais terminais; a condição precária
de trabalho dos controladores de voo; a inexistência de taxyways (área para taxiamento rumo à pista principal); o fato de a
tecnologia para pouso em situações críticas (neve, chuva e névoa) ser defasada;
a inexistência de metrôs conectando o terminal ao Centro das cidades… ‘Para
entender o que é aviação no Brasil deve-se partir da seguinte ideia: imagine-se
dirigindo um carro BMW luxuoso no meio de um safári na África: é mais ou menos
assim que um aviador se sente voando no Brasil. Você tem uma tecnologia de
ponta dentro do seu avião e um sistema precário e ultrapassado à sua volta’,
diz a carta.”
![]() |
Foto: Silva C. A., 2008 |
Entenda a aviação brasileira (para leigos)
Escrito por um piloto de companhia aérea para todos os brasileiros que
utilizam o meio de transporte aéreo.
Para você entender o que é a
aviação no Brasil deve-se partir da seguinte ideia: imagine-se dirigindo um
carro BMW luxuoso no meio de um safári na África; é mais ou menos assim que um
aviador se sente voando no Brasil; você tem uma tecnologia de ponta dentro do
seu avião e um sistema precário e ultrapassado à sua volta. Vou explicar por
quê.
Atrasos.
Os atrasos no Brasil têm características
incomuns comparadas ao mundo afora; Quando se tem nevoeiro... Somente Guarulhos
tem sistema mais preciso para pouso por instrumento, conhecido como “ ILS
categoria 2”. Curitiba também tem, mas lá é tão engraçado que colocam o sistema
para manutenção exatamente em época de nevoeiro. Vergonhosamente, Porto Alegre,
Florianópolis e Confins não têm esse sistema, estes sempre fecham por causa de
nevoeiro. Manaus que tem uma localização extremamente estratégica e que sempre
tem nevoeiro também não tem. Detalhe: nos EUA, são mais de 100 aeroportos com
categoria 2 (!).
Se você, passageiro, está indo
para Porto Alegre, fique sabendo que seu avião não pode alternar Florianópolis
caso Porto Alegre esteja fechado. Florianópolis tem um vergonhoso pátio para
cinco aviões apenas; lembrando que no verão Florianópolis recebe mais 150 voos
de fretamento, além dos regulares. Este aeroporto supracitado, vergonhosamente
não tem taxiway (pista para a
aeronave taxiar até à pista principal), sendo necessário a aeronave taxiar pela
pista principal gerando espaçamento maior entre as aeronaves que se aproximam,
ou seja, ocasionam atrasos.
Se você está chegando a São
Paulo, o problema é parecido. Guarulhos está sempre com o pátio lotado, Vitória
e Confins também. Galeão e Congonhas dias atrás ficaram nesta situação, com o
pátio lotado. Quem tinha Galeão como alternativa de pouso teve que escutar um
“negativo” do controlador para alternar aquele aeroporto. Estava no plano de voo
que Galeão seria o “alternado”, Se o controlador aprovou o plano antes de
decolar isso significa que é questão de lei e não de conveniência de pátio.
Nordeste.
Voar no Nordeste é mais
tranquilo por haver menor tráfego de aeronaves, porém, lá tem outro problema: o
controle de tráfego aéreo tem o desserviço de colocar aeronaves militares
fazendo treinamento e, consequentemente, gera atrasos, geralmente de mais de 20
minutos nas decolagens; o que desencadeia um atraso bem maior quando essas
aeronaves chegam atrasadas ao sul do Brasil. Na regra internacional uma
aeronave em instrução militar tem preferência sobre aeronaves civis de
passageiros em pousos e decolagens, porém, se o país quer adotar regras
internacionais ao pé da letra... que construa bases militares específicas para
a função militar. Lembrem-se que aqui é o Brasil e não Europa ou EUA, no qual
os aviões são sequenciados para pouso com separações de 4 km entre aeronaves, enquanto
no Brasil é 8 km entre aeronaves e no caso de Florianópolis chega a 20 km por
aeronaves por falta de taxiway.
Saibam que todo piloto brasileiro
se sente mais seguro voando nos EUA, Europa e Ásia do que voar aqui no Brasil,
fato este decepcionante, mas vou explicar o por quê... Aqui no Brasil existe
uma regra: “a menor distância entre dois pontos é uma curva”. Você sabia que
quando você sai do litoral brasileiro e vai pra São Paulo você voa em curva? É
necessário passar por cima do Rio de Janeiro podendo ser direto via Minas
Gerais. Esse contorno do litoral gera em cada voo pelo menos 1000 litros a mais
de combustível consumido. Nos EUA já não existe mais aerovia, somente proa
direta para o destino. Lá, eles têm acordos com as ONG’s e entendem que quanto
menos tempo um avião ficar no ar menor é o efeito estufa. Se fosse aqui seria o
equivalente a você decolar de Salvador e o controlador autorizar proa direto de
São Paulo. São 1000 litros de querosene desperdiçados, sendo queimados na
cabeça dos cariocas a cada 2 minutos. “Deixe o Greenpeace saber disso, o Greenpeace
ficará super feliz”. A desculpa não pode ser separação de fluxo, já que os EUA são
maiores do que o Brasil e onde o fluxo aéreo é cinquenta vezes maior do que no
Brasil. O que o Brasil voa em horas de voo em 50 dias, os EUA voam o mesmo em
apenas um dia. “Poderia ser pior, se caísse neve no Brasil a desorganização
aérea seria uma catástrofe diária”.
Mas não coloco a culpa nos
controladores. A culpa não é deles. O sistema brasileiro é que é arcaico e bem
precário. Os salários deles são baixos e cheios de "concurseiros" sem
compromisso com o seu trabalho. Alguns são sérios e dedicados, porém, não têm
as condições de trabalho dignas. Apenas um controlador cuida de várias regiões
do País e todos sofrem muita pressão para no final das contas serem menos
eficientes que os controladores americanos, europeus e asiáticos. Outro dia
ouvi um controlador se despedindo no rádio por que tinha passado em um concurso
melhor – isto é vergonhoso para um país que quer ser “primeiro mundo” -, mas
desejei a ele sucesso e espero que ele esteja feliz no emprego bem remunerado
que ele tem agora. Talvez ele não foi valorizado como deveria.
Eu, como piloto de linha aérea,
digo sem exagero, que voar no Brasil hoje estaríamos voando numa espécie de
alerta amarelo. Outro acidente está bem próximo de acontecer. Ao decolar não
significa que temos a certeza de pousar no destino e nem no aeroporto de
alternativa. Outro dia cinco aeroportos estavam literalmente fechados por falta
de pátio: Confins, Galeão, Vitória, Guarulhos e Campinas. Você tem que decolar
de Brasilia para São Paulo com combustível suficiente para alternar Salvador.
Isso irá tornar a aviação brasileira inviável, sem mencionar a venda de nossas
companhias aéreas para países vizinhos, em decorrência das altas taxas de
impostos sobre as mesmas, as quais para sobreviverem no mercado, submetem-se a
parcerias miraculosas inclusive mudando a sede da empresa para países vizinhos
para poder aguentar pagar impostos absurdos daqui, ou seja, irão agora pagar
impostos no outro País... Por que será? Porque aqui não há incentivo. Falta de
estrutura e falta de protecionismo, isso que eu chamo de “ Entregar a Soberania
Nacional”.
Soberania não é somente colocar soldados militares nas fronteiras. O País nunca foi tão próspero, problema é que nossos governantes ganham eleições por saberem aparecer e ainda têm mentalidade medíocre. São vendidos. Basta colocar dólares na mão ou falar com um pouco de sotaque que eles entregam tudo. Voei muito na Amazônia e garanto que depois que aquilo virar um deserto ninguém mais vai querer assumir. A razão é de um campo de futebol por segundo em desmatamento. Hoje só fazem hidrelétricas por causa do apagão de 2002. Esses apagões na aviação irão se repetir pelos próximos 20 anos. E lembre-se que a Copa do Mundo e as Olimpíadas serão em época de nevoeiro. A Infraero já arrumou duas soluções; tirar os bancos de suas “Rodoviárias” para dar mais espaço para os passageiros ficarem em pé, e liberar internet Wi-Fi de graça como se fosse um “cala-boca” para seus usuários. Hoje a aviação brasileira é realmente uma surpresa diferente a cada dia, “a mess”, (uma bagunça), como definiu um piloto europeu esses dias atrás, e garanto a vocês que ser pego de surpresa na aviação tem consequências trágicas.
Soberania não é somente colocar soldados militares nas fronteiras. O País nunca foi tão próspero, problema é que nossos governantes ganham eleições por saberem aparecer e ainda têm mentalidade medíocre. São vendidos. Basta colocar dólares na mão ou falar com um pouco de sotaque que eles entregam tudo. Voei muito na Amazônia e garanto que depois que aquilo virar um deserto ninguém mais vai querer assumir. A razão é de um campo de futebol por segundo em desmatamento. Hoje só fazem hidrelétricas por causa do apagão de 2002. Esses apagões na aviação irão se repetir pelos próximos 20 anos. E lembre-se que a Copa do Mundo e as Olimpíadas serão em época de nevoeiro. A Infraero já arrumou duas soluções; tirar os bancos de suas “Rodoviárias” para dar mais espaço para os passageiros ficarem em pé, e liberar internet Wi-Fi de graça como se fosse um “cala-boca” para seus usuários. Hoje a aviação brasileira é realmente uma surpresa diferente a cada dia, “a mess”, (uma bagunça), como definiu um piloto europeu esses dias atrás, e garanto a vocês que ser pego de surpresa na aviação tem consequências trágicas.
Solução.
Primeiro de tudo é: Os
políticos começarem a pensar como os governantes de países desenvolvidos pensam
ou, como disse o Raul Seixas: A solução é alugar o Brasil. Nos EUA, Europa e
Ásia seus governantes constroem um aeroporto para atender uma demanda que só
terá daqui 20 ou 30 anos e com pátio suficiente para estacionar mais de 100
aviões de grande porte juntos. Isso é bem diferente dos puxadinhos brasilleiros
que não dão conta nem da demanda atual. Enquanto você lê este e-mail, na Índia
estão sendo construídos mais de 10 aeroportos maiores que Guarulhos.
Na China são mais de 70 sendo construídos e os 3 países, China, Brasil e Índia, fazem parte do mesmo grupo chamado “BRIC”, que ainda inclui Rússia e África do Sul. Parece que só o Brasil, entre esses cinco, ainda não acordou. Já é um absurdo os aeroportos brasileiros não ter metrôs. Os estrangeiros quando chegam aqui e não veem metrôs nos aeroportos, acham que é uma piada até entenderem que não existe mesmo. Em qualquer aeroporto no estrangeiro tem metrô. Que país é esse? O brasileiro se compara muito aos EUA, porém o povo americano sabe exigir de seus governantes, por isso o governo não espera ser pressionado pra poder começar a fazer algo. “ O povo brasileiro sabe só reclamar, só não sabe reclamar para a pessoa certa, ou orgão “competente”.
Reclama pro vizinho e para o amigo, mas quase ninguém entra no site do Senado ou da Câmara dos deputados pra enviar e-mail para o seu político ou pelo menos saberem o que eles estão fazendo ”.
Na China são mais de 70 sendo construídos e os 3 países, China, Brasil e Índia, fazem parte do mesmo grupo chamado “BRIC”, que ainda inclui Rússia e África do Sul. Parece que só o Brasil, entre esses cinco, ainda não acordou. Já é um absurdo os aeroportos brasileiros não ter metrôs. Os estrangeiros quando chegam aqui e não veem metrôs nos aeroportos, acham que é uma piada até entenderem que não existe mesmo. Em qualquer aeroporto no estrangeiro tem metrô. Que país é esse? O brasileiro se compara muito aos EUA, porém o povo americano sabe exigir de seus governantes, por isso o governo não espera ser pressionado pra poder começar a fazer algo. “ O povo brasileiro sabe só reclamar, só não sabe reclamar para a pessoa certa, ou orgão “competente”.
Reclama pro vizinho e para o amigo, mas quase ninguém entra no site do Senado ou da Câmara dos deputados pra enviar e-mail para o seu político ou pelo menos saberem o que eles estão fazendo ”.
É muito fácil ir ao Estados
Unidos passear, fazer compras e voltar falando que lá é o máximo e aqui é o fim
do mundo. De fato são décadas de diferença, porém, lá o povo é mais consciente
com o que os seus políticos estão fazendo com o dinheiro público e a burocracia
do funcionalismo público deles praticamente inexiste se comparada ao nosso. No
Brasil a ANAC leva 30 dias para emitir uma carteira de aeronauta, gerando assim
uma queda no salário dos pilotos e comissários e prejuízo também para os
empregadores. Quem vai pagar essa conta? A Anac? O Governo Federal? Nos EUA a
mesma carteira é emitida em apenas uma hora pela FAA. Sem deixar de lembrar que
no Brasil a ANAC tem 20 mil pilotos comerciais enquanto os EUA tem mais de 600
mil.
Nos EUA poucos empregos no
setor público têm estabilidade, talvez seja por isso que o funcionário público
trabalhe mais, tenha mais eficiência, trabalhe em função do próximo, pede
desculpa se atrasou e o trata bem, mesmo que você seja latino-americano. No
mais...
Boa sorte a todos e que Deus
nos proteja!
Antonio Carlos Cruzeta (piloto), 2011 (?)
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