O braço esquerdo erguido, o
punho cerrado. O discurso da vítima, do líder perseguido pela elite, do preso
político. Um punhado de militantes mostra solidariedade às portas do cárcere.
Entoa-se o hino da Internacional Socialista. O PT publica nota de repúdio ao
tribunal.
Pipocam, enfim, lances mais
explícitos da política como paixão no longo, e quase fleumático, processo do
mensalão. E eles não são lá grande coisa. As massas não acudiram às ruas para
abraçar José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Estavam engarrafadas no
feriadão.
A hipocrisia, dizia La
Rochefoucauld, é uma homenagem que o vício presta à virtude. Enquanto fazia
acenos esporádicos aos líderes caídos, o mandachuva petista, Luiz Inácio Lula
da Silva, girava a manivela da engrenagem recicladora.
As pedras de mó esmagaram não
apenas algumas das figuras fundadoras do PT. Lula também aproveitou o escândalo
para diluir o que restava de modernizante em seu partido. A substituta de
Dirceu tornou-se emblema do fim da oposição ao varguismo e, especialmente após
a queda de Palocci, à política econômica dirigista que marcou a ditadura
militar sob Geisel.
Para evitar o impeachment,
Lula abriu os braços a oligarcas e representantes do atraso no país. Sarney,
Collor, Maluf e Renan são hoje amigos do peito do ex-presidente petista. Eles
estão soltos. Dirceu e Genoino estão presos. Faz sentido.
Por isso, aguardam-se
ansiosamente as palavras prometidas por Lula da Silva acerca do mensalão. Vão
confirmar a entrevista de Paris, em 2005, quando jogou o PT aos leões a fim de
preservar o mandato? Foram as mais sinceras frases já pronunciadas por ele
sobre o caso.
Título e Texto: Vinicius
Mota é Secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião
(coordenador dos editoriais) e do caderno Mundo. Escreve a coluna São Paulo, na
Página A2 da versão impressa. Folha de S. Paulo, 18-11-2013
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