sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Lula com os copos

Vasco M. Rosa
Lula da Silva é certamente uma das figuras da história contemporânea do Brasil. É muitas vezes sobrevalorizado como pau de arara e sindicalista que acabou por presidir ao mais influente — e simpático — país sul-americano. A simpatia pela sua ascensão inusitada não sobreviveu ao conhecimento de todas as suas trapaças, artimanhas, alianças esconsas, que deixaram uma nódoa inesperada no percurso de quem fez uma reputação supondo moralizar a história política do seu país.

Nunca me hei-de esquecer (vivia em São Paulo nessa altura) a expectativa criada por uma comunicação política aquando do vórtice do Mensalão, que foi adiada por horas, em que se esperava que ele admitisse decidir tudo aquilo, e acabou por negar tudo, deixando cair todo o seu entourage partidário, amigos duma vida, comparsas desde sempre.

Quando saiu do Planalto, teve um cancro, que foi tratado em hospital paulista onde jamais entraria o Lula da Silva de 1980 ou 1990, da mesma maneira que nenhum dos seus camaradas de infortúnio tiveram nenhures a sua vidinha de luxos, pinga e charutos que foram tema dos grandes caricaturistas que o Brasil felizmente tem. Lula fala como se o seu partido não tivesse revertido o indispensável jogo democrático eleitoral ao comprar com donativos aos pobres e desocupados dos estados medievais dum país empreendedor e criativo a permanência governativa do seu partido, usando dinheiros públicos para grandes eventos, deixando largas parcelas do gigantesco território ao abandono e à criminalidade de todo o tipo.

O que Lula não é capaz (desonesto que ele é) de reconhecer é que Marina Silva, cuja experiência de vida se lhe assemelha de algum modo, é melhor candidata à presidência do país do que Dilma Rousseff, seu clone. Manter o partido no controlo absoluto do Estado é o seu alvo. A política internacional do Brasil cedeu a um evidente anacronismo ideológico.

Há dias caiu dum palco, numa campanha eleitoral em que se lançara, tentando conservar o índice do seu partido e seus parceiros políticos, quaisquer que sejam, desde que a vitória seja garantida. Estaria com os copos? Dizem que sim, o que a ninguém surpreenderia.

Um país tão importante como o Brasil merece mais e melhor do que isto.


Título, Imagem e Texto: Vasco M. Rosa, “Corta-fitas”, 05-09-2014

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