Cesar Maia
Metade dos eleitores inscritos
não votou em nenhum dos dois no primeiro turno.
1. As pesquisas eleitorais sobre a eleição presidencial no Brasil
começaram a ser divulgadas. Mas devem ser tomadas com prudência neste início de
segundo turno. Quando se acompanha as curvas nas séries de pesquisas e se
observa tendências ascendentes ou declinantes, deve-se imaginar um processo em
que os eleitores estão formando sua opinião e convencendo outros. Por isso as
curvas.
2. Na abertura do segundo turno, aquele candidato que tem curva
ascendente, tende a ter uma taxa de agregação, inicial, maior que seu
adversário, pois o entusiasmo dos que votaram nele no primeiro turno atinge os
que votaram em outros ou não escolheram candidato no primeiro turno. Mas ainda
não se pode tomar esta decisão dos “outros” eleitores como cristalizada. A
campanha eleitoral na TV e no boca a boca que provoca é que vai ajustando ou
sedimentando esta reação inicial.
3. A campanha de Aécio Neves levou/leva uma vantagem técnica sobre
a de seus adversários e vai manter esta vantagem técnica no segundo turno. Explica-se.
Usou e usa o instituto de pesquisas GPP, que desenvolveu nos últimos anos uma
metodologia de amostragem superior aos demais (este Ex-Blog já comentou sobre a
prevalência do fator espacial sobre os demais, etc.). Além disso,
diversificando a amostra e usando perguntas sinalizadoras e em seguida
cruzando-as com as intenções de voto, consegue-se antecipar tendências
eleitorais, subsidiando a comunicação do candidato.
4. Numa política inorgânica como a brasileira, é ingenuidade pensar
que o apoio de um ou outro candidato que não passou para o segundo turno, em
nível nacional ou regional, transfira automaticamente os votos. Na verdade, o
que se pode transferir é o voto potencial no candidato que passou para o
segundo turno e que estava contido nos candidatos que não passaram para o
segundo turno.
5. Isso se poderia saber ainda no primeiro turno com as perguntas e
cruzamentos diversos. Sendo assim, na campanha eleitoral no segundo turno (que
começou ontem na TV), com essa informação, a comunicação pode atrair e
cristalizar os votos potenciais contidos em outras candidaturas, antes que
sejam atraídos pela campanha virtual de seu adversário.
6. Não se trata de perguntar em que proporção a votação de Marina
será transferida para os demais usando simplesmente as pesquisas que começam a
ser divulgadas e que darão esse destaque. Há que se ir mais longe. A própria
pergunta ao eleitor, em quem votou no primeiro turno, mostrará respostas que
não são iguais aos votos depositados nas urnas. Mas não se trata de explicar
aqui.
7. Há que se saber – desde o fim do primeiro turno- que potencial
de re-decisão do eleitor que votou Marina ou não votou, tem para ir para um ou
outro lado ou nenhum lado. Portanto, o fundamental é a demanda, ou seja, a
lógica do eleitor. As declarações de Marina não serão capazes de fazer trocar
de lado as razões do eleitor: não há transferência automática. Da mesma forma
em relação aos 35% de eleitores que se abstiveram ou anularam o voto. Pode ter
sido uma decisão ativa, ou apenas uma espera para decidir no segundo turno,
quando se sentir mais empoderado.
8. Conhecidas as razões potenciais do eleitor – espaciais,
valorativas, programáticas, temáticas, emocionais – que combinam com a desse ou
daquele candidato/a, a comunicação fala para o eleitor certo e produz imediata sinergia.
Mas se as fotos e declarações bastarem aos candidatos e se deitarem em berço
esplêndido, verão com surpresa que o eleitor não foi junto quando o trem
passou.
9. Quem tiver essas informações, vence a eleição. Se – se – a
equipe de Aécio analisou em profundidade as pesquisas do GPP, no primeiro
turno, partirá com vantagem até se tornar favorito. Se...
Título e Texto: Cesar Maia, 10-10-2014
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