Agência reguladora seguiu protocolo para interrupção; politização da vacina é cilada para governantes
Silvio Navarro
O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informe em 48 horas o motivo da decisão de interromper a análise da vacina chinesa contra a covid-19 do governo de São Paulo. É o tema do dia. Um voluntário que participou dos testes morreu — e, segundo fontes oficiais que se manifestaram depois de a notícia ganhar a mídia, trata-se de suicídio, algo para lá de sensível e que não será abordado aqui.
É evidente que uma vacina real contra a peste do século interessa a qualquer cidadão do planeta. Só alguém com a cabeça fora do lugar seria contra algo cientificamente testado e aprovado. Também é fato que há politização demais de lado a lado sobre o assunto e que os governantes insistem em cruzar o meio-fio para escorregar em cascas de banana (leia-se: em microfones). Mas eis que a interrupção protocolar do estudo ante uma intercorrência trágica passou a ser noticiada como escândalo, um atentado contra a humanidade do governo Jair Bolsonaro. Opa! Vamos aos fatos.
Segue a explicação do presidente da Anvisa, o contra-almirante Antônio Barra Torres: “As informações foram consideradas incompletas, insuficientes para que se continuasse permitindo o procedimento vacinal […]. Quando temos eventos adversos não esperados, a sequência de eventos é uma só: interrupção dos estudos. A responsabilidade é nossa, de atestar a segurança de uma vacina e sua eficácia. Que outra decisão é possível diante de um evento adverso grave não esperado e com informações incompletas? O protocolo manda que seja feita a interrupção do teste”.
O que há de errado na decisão da Anvisa? A resposta é simples: tecnicamente, nada. Se confirmado que a morte do voluntário não tem a ver com o teste da vacina — o que nem os cientistas talvez tenham a resposta —, a análise será retomada, informaram as autoridades. Afinal, agências reguladoras devem seguir protocolos e não podem — nem devem — ter lado. Ou seja: a cartilha reza que, se algo ocorreu fora das diretrizes, a suspensão do imunizante deve ser imediata — nada muito diferente do que um médico pratica. Até hoje não temos uma vacina contra a dengue, por exemplo, porque a fórmula francesa foi considerada arriscada há alguns anos depois do uso.
Tirar uma vacina da manga a toque de caixa é imprudente. E produzir vacinas, infelizmente, não é como produzir uma fornada de pães — a mais rápida até hoje, contra a caxumba, uma infecção viral aguda, levou quatro anos para ter a eficácia contemplada. Centenas de médicos têm dito isso diariamente pelo mundo, embora o mainstream queira a saída mais rápida possível da confusão que suas manchetes olímpicas causaram.…………….
Ao chegar ao meu condomínio, nesta terça-feira, 10, o porteiro falava sobre o assunto do dia com um morador. Ele não sabe ainda em quem vai votar para vereador no próximo domingo, muito menos tem ideia do que será a eleição de 2022. Mas, sobre a vacina chinesa, disse ter convicção de que pode ser aplicada no posto da esquina: “Eles nos prenderam em casa e querem achar logo um alvará de soltura”.
Título e Texto: Silvio Navarro, revista Oeste, 10-11-2020, 20h56
Relacionados:Anvisa do Reino Unido diz que não comprometerá segurança por vacina
Testes da CoronaVac serão retomados, decide Anvisa
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-