O Partido Democrata não esconde as
intenções: quer mais coletivismo, menos autonomia dos Estados, maior controle
exercido pelo Executivo central e intervenção na economia
Ana Paula Henkel
Há algum tempo venho tentando apresentar por meio de análises e artigos, e direto da Califórnia, um dos maiores caldeirões progressistas dos Estados Unidos, o que grande parte da mídia no Brasil não cobre — e jamais explorará: a preocupante guinada radical para a extrema esquerda do Partido Democrata. E, para entender o motivo de muitos se referirem à última eleição como uma das mais importantes da História, é preciso perceber o que está em jogo além de políticas públicas propostas por democratas ou por republicanos.
A Declaração de Independência e a Constituição Americana, enxuta com suas 27 emendas, não mostram apenas a solidez dos documentos mais importantes da nação mais próspera do mundo. Quando alguns bravos homens das treze colônias britânicas na América do Norte se encontraram no Segundo Congresso Continental e decidiram se unir contra a Coroa britânica, nem tudo foi suave como muitos imaginam. Eram treze colônias independentes, houve muito debate, elas brigaram muito e levantaram muitas questões, mas decidiram colocar seus nomes em um histórico pergaminho que não apenas declarava a independência da Grã-Bretanha, mas poderia significar a sentença de morte de cada uma delas.
Todos estavam cientes dos tempos difíceis que adviriam, mas também era muito claro o que se defendia: independência, liberdade, representatividade no governo, republicanismo. Apesar de serem homens de colônias independentes, eles baseavam suas crenças no brilhantismo ocidental calcado nos valores judaico-cristãos, na força dos indivíduos, nos direitos naturais. Aqueles homens tiveram contemporâneos como Adam Smith e o grande Edmund Burke, com quem estavam completamente familiarizados e a quem fizeram referência em seus escritos e legado.
Aqueles homens, apesar de todas as diferenças entre eles, que não eram poucas, agarraram-se em torno do maior ponto em comum que os unia: o empenho em criar uma grande nação com o maior documento governante que a humanidade já conheceu. E eles foram bem-sucedidos. A Constituição Americana estabeleceu um governo beneficente limitado e protegeu a sociedade civil para nutrir a liberdade, a família e os direitos religiosos. Na Declaração de Direitos (Bill of Rights), também elaborada com empenho e profundidade durante anos, o ponto central, que se tornou o pilar mais sagrado para a nação, não poderia ser outro: a proteção ao indivíduo contra o governo central, a defesa da liberdade de expressão, de imprensa, de associação. E ainda: a garantia da liberdade religiosa, o direito do indivíduo de manter e portar armas contra os inimigos, sejam eles apenas indivíduos ou governamentais.
Os Pais Fundadores dos Estados Unidos ainda fizeram questão de deixar explícito na Magna Carta o devido processo legal, a necessidade de mandados com base em causa provável, julgamentos rápidos, cláusulas pétreas de proteção à propriedade privada e tudo o que é crucialmente importante para uma sociedade civil livre. Nenhum documento na face da Terra é como a Constituição Americana, baseada nas declarações de independência e nos direitos naturais inalienáveis.
O que assusta, a cada dia que
passa, com a possível eleição da chapa democrata para comandar a nação mais
livre do mundo, não é apenas a retórica de discursos politicamente corretos,
globalistas e contra policiais, inflamados para satisfazer a sanha da turba
barulhenta — e violenta — da ala mais radical do partido. O mais aterrorizante
aparece quando você sai da superfície eleitoral e mergulha na plataforma
oficial do partido.
Com parte do país hipnotizada durante quatro anos pela narrativa da mídia de que Donald Trump é o “novo Hitler” e que precisava ser removido a qualquer custo (Reagan, Bush, McCain, Romney… todos eles também foram “Hitler” um dia), forças nada republicanas podem estar em ascendência na sociedade norte-americana. Um mal fantasiado de bom-mocismo e caridoso, mas tão nocivo quanto em qualquer momento da História. Agora com roupagem nova, esse mal atende pelo nome de “Força-tarefa da Unidade Biden-Sanders” (Biden-Sanders Unity Task Force).
Em 110 páginas, o documento que une a ala que já foi moderada no Partido Democrata, representada por Joe Biden, à ala radical, dominante hoje na legenda e com o socialista Bernie Sanders como líder, expõe linhas de deixar os cabelos em pé. Em nenhum lugar há menção alguma à proteção da liberdade individual, ou a direitos sobre propriedade privada, ou a fé religiosa, ou mesmo à liberdade de expressão. O manifesto que celebra a união do novo Partido Democrata é um documento totalmente antagônico à Declaração de Independência, à Constituição Americana e aos valores que fundaram o país.
Os democratas apresentam propostas que parecem ter saído da cabeça de
Dilma Rousseff
Não é novidade que já há algum tempo os democratas andam seguindo políticas que são impraticáveis e impossíveis. A maioria, no entanto, continua parecendo ótima no papel. E de onde eles estão tirando essas ideias? Com uma guinada tão radical para a extrema esquerda no espectro político, a semelhança entre a atual plataforma democrata e a Constituição de 1936 da União Soviética, adotada em dezembro daquele ano, chega a ser perturbadora. Mas o que diz a Constituição de Stalin? Vamos lá.
Poderia parecer apenas o discurso de Kamala Harris, Elizabeth Warren ou do socialista Bernie Sanders, todos lhe pregando um sermão para que não se preocupe pois o Estado vai cuidar de você, de sua vida e, obviamente, de suas escolhas, caso não saiba escolher “o correto”.
Mas não acredite em mim.
Mergulhe nas páginas do manifesto do Partido Democrata e leia:
Os democratas se comprometem a firmar um novo contrato social e econômico com o Povo americano — um contrato que investe nas pessoas e promove a prosperidade compartilhada, não um que beneficie apenas as grandes corporações e as poucas mais ricas. Um novo contrato que reconhece que todos os americanos têm direito a cuidados de saúde de qualidade. Um contrato que afirme que moradia é um direito e não um privilégio, e que assuma o compromisso de que ninguém ficará sem teto ou passará fome no país mais rico da Terra. Um novo contrato econômico que aumente os salários e restaure os direitos dos trabalhadores para organizar, aderir a um sindicato e negociar coletivamente. Um contrato que finalmente sustente famílias trabalhadoras e a classe média, garantindo salários iguais para as mulheres, férias familiares pagas para todos e o capital próprio.
Faço o convite para que todos leiam esse texto. A quantidade de medidas que poderão ser implementadas por meio de “ordens executivas”, de acordo com o documento do partido, é assustadora e ao mesmo tempo inacreditável para qualquer nação que tenha um Congresso responsável pela atividade legislativa. E o que dizer da nação que tem em suas bases o federalismo, com ampla autonomia e independência dos Estados?
As medidas que seriam resolvidas na caneta democrata são preocupantes: descriminalização da maconha em todo o país, corte de recursos para corporações policiais, aumento de poder e investimento federal em sindicatos — enaltecendo as decisões coletivas, e não as individuais — e revogação da espetacular reforma tributária da administração de Donald Trump, que por meio das Oportunity Zones trouxe enormes benefícios e pleno emprego a mais de 8 mil comunidades negras pelo país. Em um trecho do manifesto, o partido afirma “que os democratas continuam a apoiar a abolição da pena de morte”, mas, na plataforma oficial, assinala comprometimento com recursos federais para as clínicas de aborto em todo o país (verba cortada por Donald Trump), sob a cantilena de “cuidados com a saúde das mulheres”.
Sobre a pandemia, o documento afirma que Donald Trump é responsável pela morte de dezenas de milhares de norte-americanos e pela atual recessão econômica. O bizarro “contrato com os EUA” (parece familiar?) promete uma série de aumentos de salários, benefícios estendidos a todos, como educação gratuita desde o jardim de infância até a universidade, perdão das dívidas universitárias de milhões de pessoas, extensão para licenças-maternidade e paternidade remuneradas — tudo isso sem aumentar impostos da classe média. A conta não fecha. A cereja desse bolo de Halloween? Criar algumas empresas estatais que, segundo os ungidos democratas, trarão enormes benefícios à sociedade norte-americana. Eu conto, ou vocês contam?
Não acabou, não. O ex-partido de John F. Kennedy, que deve estar se revirando no túmulo com o sequestro de sua agremiação pelo Psol ianque, não apoia apenas a criação de mais sindicatos, mas firma compromisso com a obrigação de um minimum wage de US$ 15 por hora para todo o país. O utópico roteiro tragicômico de 110 páginas ainda inclui como as boas almas democratas deixarão o país mais verde e feliz — e sem aumentar um centavo de impostos da classe média: “Democratas vão lançar uma revolução por meio de investimentos históricos em energia limpa, transporte limpo, eficiência energética e fábricas limpas e avançadas. Vamos consertar todas as nossas rodovias, estradas, pontes, portos e aeroportos e lançar a segunda revolução ferroviária no país, investindo em ferrovias de alta velocidade”. Alô, Dilma, é você? Discurso tão bonito que até escorreu uma lágrima aqui.
Eu poderia me estender em mais uma hora de resenha só acerca do manual direto do inferno dos democratas que prega um Estado maior, mais centralizado e mais poderoso, e com menos liberdades individuais — ou seja, tudo o que sempre pregou o marxismo de roupa nova, cabelo cortado e sapato de marca.
A América, o pilar mais sólido na defesa inviolável da liberdade no Ocidente e no mundo, pode estar a um passo de uma perigosa mudança, aquela que vem de dentro para fora. A prosperidade que os desmiolados democratas pregam nesse funesto manifesto não é apenas irreal e inatingível, é perigosa para os norte-americanos e para o resto do mundo.
Embora figuras como Thomas Jefferson e George Washington possam vir mais facilmente à mente quando pensamos no período revolucionário e na fundação da América, o principal defensor da causa da independência foi verdadeiramente John Adams. Ninguém fez mais discursos vigorosos pela liberdade do que o admirável e dedicado advogado de Boston. Por causa disso, ele foi o líder de um comitê de cinco notáveis que redigiram a Declaração de Independência. Adams tornou-se o defensor mais ardente desse documento e de seus princípios.
Em um de seus memoráveis discursos,
aquele que veio a se tornar o quinto presidente dos EUA disse: “A tirania
dificilmente pode ser praticada em um povo virtuoso e sábio”. Rezo para que as
palavras de homens tão fundamentais para a América como John Adams, agora mais
do que nunca, sejam redescobertas no inconsciente da nação, e que o povo
norte-americano entenda que a América é a nação mais próspera porque é a mais
livre. E não o contrário.
Título e Texto: Ana Paula Henkel, revista Oeste, nº 35, 20-11-2020
Relacionados:O resgate de Tocqueville
Recontagem na Geórgia (EUA) revela mais de 2,6 mil cédulas
A retórica Democrata e os resultados Republicanos
Biden e a inclusão dos mortos
Covid-19 é ‘presente de Deus para a esquerda’, comemora Jane Fonda
Quem é (de verdade) Kamala Harris
Na Pensilvânia, 21 mil mortos constam na lista de eleitores
When ‘Unity’ Means ‘Shut The Hell Up’
Até Glenn Greenwald alerta para a falsidade de Biden
The Multi-Front Attack on Free Speech (rerun)
Banana e abacaxi
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-