segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Biden e a inclusão dos mortos

O 'lockdown' foi medida fundamental para que os mortos pudessem conquistar sua inclusão eleitoral e os carteiros do bem fossem capazes de operar seus milagres

Guilherme Fiuza 

Foi tudo normal na eleição norte-americana. Só porque os mortos resolveram votar (21 mil só na Pensilvânia) os aliados do Trump reclamaram. Esses fascistas detestam a inclusão. Por que os mortos não podem participar da festa democrática? A pessoa já teve o seu direito de viver cassado e ainda por cima tem que perder o direito de votar? É muita falta de empatia. 

Essa democratização do voto para o Além aconteceu graças à covid-19 — que por sua vez foi um presente de Deus, como explicou a Jane Fonda. Ou melhor: a quebra do monopólio dos vivos sobre a democracia se deu graças ao truque de prender a população em casa fingindo que isso salva a vida de alguém. A eleição nos EUA esclareceu tudo: o lockdown salvou os mortos. Ou pelo menos o seu sagrado direito de votar no poste do Obama. 

Foi lindo ver a galera do fique em casa se aglomerando nas ruas para comemorar a façanha de Joe Biden, o herói dos carteiros mágicos. Para você entender a paixão do povo norte-americano por Biden, passou o dia da eleição e os votos continuaram chegando de todas as partes — mostrando que quem tem convicção real sobre o seu candidato vota nele todo dia. O tsunami da paixão comoveu os mesários mais sensíveis, que acharam justo retocar as cédulas atrasadas com a data certa da eleição — porque uma exigência burocrática jamais poderia atrapalhar a vitória do Bem. 

E aqueles softwares conscientes do Michigan? Cumprindo bravamente seu papel revolucionário, saíram tabulando para Biden milhares de votos dados a Trump. É assim mesmo que tem que ser: se o eleitor se enganou votando no candidato errado, a tecnologia democrata conserta. 

Os norte-americanos tiveram quatro anos de ascensão socioeconômica, e isso revolta mesmo a pessoa

Mas nem tudo foi perfeito. A parte desagradável dessa beleza toda foi a tensão criada por observadores oficiais que cismaram de querer ver as contagens de votos. Essa gente fascista é muito abelhuda, quer se meter em tudo. Os democratas fizeram muito bem em tapar com papelão as salas de tabulação. Ninguém consegue ter paz para contar votos com um monte de bisbilhoteiro botando olho em cima. Aí ficou tudo bem. Inclusive muitas cédulas que não tinham nada escrito puderam ganhar uma marquinha no nome Joe Biden — e só, porque para marcar nome de deputado, senador e demais opções da cédula a eleição só acabaria no ano que vem, e o Obama já avisou que está com pressa. 

E assim se deu a virada sobrenatural do companheiro Biden, transformando-o no maior fenômeno eleitoral da História dos Estados Unidos da América. Essa façanha foi conseguida por um poste sem luz, segundo especialistas, graças à revolta do povo norte-americano contra Donald Trump. De fato, os norte-americanos tiveram quatro anos de ascensão socioeconômica, e isso revolta mesmo a pessoa. Todo mundo sabe que o que faz um ser humano feliz e satisfeito é eleger o governo dos amigos da Jane Fonda

Foram quatro anos de índices de aprovação governamental em alta — tudo truque para os republicanos acharem que a eleição estava no papo. Na hora certa Jane e seus amigos ganharam dos céus o lindo presente viral e mandaram todo mundo se trancar em casa. Mesmo com a constatação de que a população na quarentena se infectava mais do que fora dela, continuaram pregando o lockdown — medida fundamental para que os mortos pudessem conquistar sua inclusão eleitoral e os carteiros do bem fossem capazes de operar seus milagres. 

Obama disse que Trump matou milhares de pessoas. É nisso que o povo norte-americano acredita — não em liberdade e dinheiro no bolso. O povo norte-americano acredita em Obama e em Papai Noel, por isso votou num poste que promete deixar todo mundo preso em casa. Obama disse que a eleição acabou. Danem-se o procurador-geral e as investigações em curso. Obama é a lei — e a imprensa amiga é o carimbo. 

Vivam os mortos. 

Título e Texto: Guilherme Fiuza, revista Oeste, 13-11-2020

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