sexta-feira, 20 de novembro de 2020

[Diário de uma caminhada] André Ventura e a Questão Cigana. CHEGA de ignorância e de humilhação dos portugueses honestos! (II)


[Conclusão do artigo anterior.] 

Gabriel Mithá Ribeiro 

A fronteira que separa os ideais de justiça social em disputa nas presidenciais de 2021 é determinada por posicionamentos distintos sobre a crítica social. 

O campo dos candidatos presidenciais do regime, e das forças políticas que os suportam, Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Gomes, Marisa Matias ou João Ferreira orienta-se por um ideal de crítica social derivado de interpretações justicialistas do passado histórico, isto é, a geração do presente tem de pagar por supostos crimes cometidos por gerações e séculos passados, incluindo a possibilidade dos indivíduos serem judicialmente processados, arguidos, multados, sujeitos a penas de prisão. Neste caso, a crítica social é apenas admissível como livre e radical quando o objeto é a maioria social portuguesa (branca, heterossexual, de matriz ancestral cristã), porém essa mesma crítica social tem de ser contida, evitável ou ser interditada quando o objeto são as minorias sensíveis (ciganos, negros, islâmicos, certos imigrantes, radicais das ideologias de género, entre outros). 

O campo contrário, protagonizado por André Ventura e pelo CHEGA, defende a absoluta liberdade da crítica social desfiliando-a de manipulações justicialistas do passado histórico, a fonte geradora de totalitarismos. Em André Ventura, a voz dos que estão em rutura com o atual regime, a legitimidade da crítica social apresenta-se como um valor moral universal. Nenhum indivíduo, grupo ou segmento social pertencente à maioria ou a qualquer minoria deve ser tratado com especial privilégio ou deferência, ninguém deve ser poupado à crítica social. 

Com variantes ao longo da história, a tradição ocidental demonstra que na família, na escola, na empresa, na comunidade, na vida quotidiana quem tem o privilégio de ser criticado acaba não apenas por aprender a tolerar a crítica, mas acima de tudo melhora continuadamente as suas atitudes e comportamentos. Com isso integra-se socialmente com muito maior eficácia. Neste caso, o quotidiano habitual pressiona os indivíduos a domesticarem os seus instintos primários, a serem educados, cordiais, respeitadores, empáticos, a darem espaço ao recato e à existência aos outros, assim como a sublimarem os seus instintos primários direcionando-os para as artes superiores (música, pintura, literatura, artes) ou para interesses como o mundo dos negócios ou do desporto. Foi esse processo que Freud designou por civilização que conjuga o equilíbrio individual com o coletivo, o pressuposto da prosperidade de um e de outro. 

Em sistemas sociais e políticos livres, a legitimidade da crítica aos outros sustenta-se nas práticas quotidianas de quem crítica, uma vez que a crítica tem retorno. O indivíduo critica quem é mal-educado quando ele mesmo é educado. Critica quem não se responsabiliza pela respetiva família e descendência porque ele mesmo não abandona os seus. Critica quem não estuda porque ele mesmo estuda. Critica quem não quer trabalhar porque ele mesmo trabalha. Critica quem não paga impostos porque ele mesmo cumpre a obrigação. Critica quem rouba e quem é corrupto porque ele mesmo não se envolve em tais práticas. Critica quem é violento porque ele mesmo é pacífico. Por aí adiante. 

É isso que permite que as sociedades se regulem por si mesmas apenas por uma autoridade moral partilhada, sem tutelas autoritárias ou totalitárias, isto é, sem abrirem mão da liberdade individual. São características que anulam as tentações discriminatórias, corrosivas ou destrutivas da crítica social, uma vez que a legitimidade da última não tem um único sentido, não é propriedade das minorias, nem da maioria, nem das demais subdivisões sociais. É um direito cívico elementar e universal. 

Quanto mais a crítica se manifesta no interior dos segmentos sociais socioeconomicamente desfavorecidos, quanto mais o pobre critica o pobre, tanto maior a capacidade dos sistemas sociais em promoverem a integração e promoção social dos que mais necessitam. É o que permite articular coesão social com mobilidade social, uma característica peculiar da civilização ocidental que gerou sistemas sociais, políticos e económicos pacíficos, funcionais, integrados, prósperos. 

Tudo isso hoje está seriamente ameaçado por ação dos progressistas-esquerdistas cujos ideais desvirtuaram, manipularam, se é que não destruíram mesmo a crítica social livre. A pretexto de terem sido vítimas da história ou de serem vítimas da sociedade, tem sido entre as minorias blindadas pela Esquerda enquanto objetos da crítica social (ciganos, negros, islâmicos, imigrantes, entre outros) que mais se acentuou a marginalização social, a autoguetização suburbana, a pobreza, a frustração, a delinquência. 

Freud ficaria horrorizado se voltasse a viver num tempo desastroso de descontrolo politicamente instigado dos instintos primários da espécie onde causam mais estragos, entre os mais carenciados. Naquilo que é decisivo, a moral social e o pensamento social, a esquerda atual é a maior promotora de exclusão. 

Daí que não espante a denúncia do Alto Comissariado para as Migrações que transformou André Ventura em arguido por «discriminação por assédio» à comunidade cigana por tê-la criticado, um hino à subversão, por via legal, dos mais elementares princípios morais, cívicos e civilizacionais do Ocidente, uma ode à ignorância à qual Joacine Katar Moreira se associou. Se a moral fizesse justiça, não seria o líder do CHEGA a ter de pagar uma multa de 438,81 euros, antes os legisladores e queixosos a entrarem em penitência para o resto das suas existências. 

O terramoto no ideal de justiça social, por via da crítica social, que André Ventura está a impor significa isto: se a comunidade branca ocidental é criticada pelas minorias ou se a comunidade branca ocidental passa a vida a criticar-se entre si – por que razões a minoria cigana, negra, islâmica, mestiça, imigrante, entre outras, não podem ser criticadas e, mais do que isso, por que razões os que pertencem a cada minoria não se podem criticar entre si? Por que razões as minorias não se podem criticar umas às outras? Por que razões um cigano ou um negro não pode criticar outro cigano ou outro negro, ou criticarem-se entre eles? Por que razões um islâmico não pode criticar a sua própria comunidade islâmica ou o mundo árabe? Por que razões o conjunto das minorias só é instigado a criticar a maioria branca quando o que é disfuncional reside, por norma, no interior de cada identidade coletiva, no seu quotidiano? 

Certos indivíduos pertencentes às minorias podem fazer da vida das suas próprias famílias num inferno; podem desrespeitar os seus pais ou professores; podem não cumprir os deveres de estudar ou de trabalhar; podem todos os dias ameaçar a segurança dos seus vizinhos no bairro onde vivem; podem impedir que a polícia restabeleça a ordem nos seus bairros e comunidades; podem não manifestar as mais elementares preocupações cívicas – ainda assim o aparelho ideológico da III República inibe que sejam criticados, mesmo que as maiores vítimas sejam persistentemente as suas famílias, os seus grupos de pertença, as suas próprias comunidades. 

Tais atitudes e comportamentos reprováveis podem até ser presenteados com a visita desculpabilizadora de notáveis, incluindo Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, que não deixou dúvidas sobre essa orientação moral do regime ao visitar o Bairro da Jamaica, no Seixal, após tumultos próprios da sanzala. Que fique muito claro: a crítica social livre vale o mesmo que praticar o bem sem olhar a quem. 

Os portugueses merecem disputas eleitorais em que os temas da justiça social (artigo anterior) e da crítica social (este artigo) sejam debatidos com clareza, verdade, honestidade, pluralismo, liberdade. Façamos das eleições presidenciais de janeiro de 2021 o primeiro grande teste à decência do regime. 

Título e Texto: Gabriel Mithá Ribeiro, Vice-Presidente do CHEGA! 20-11-2020 

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