quinta-feira, 19 de novembro de 2020

[Diário de uma caminhada] Justiça social: ciganos, negros e demais minorias. André Ventura e a morte moral da esquerda (I)


Gabriel Mithá Ribeiro 

André Ventura vai impondo a sua força messiânica. Não no sentido de ser mensageiro do Divino, apenas na capacidade de instigar transformações irreversíveis sustentadas numa profunda regeneração do ideal de justiça social. 

Sem alternativas, as pessoas comuns brancas, heterossexuais e de matriz cultural cristã têm vivido subjugadas ao dogma da discriminação positiva a favor das minorias (como a cigana, negra, islâmica, homossexual), uma suposta superioridade existencial coletiva que conduziria à justiça social. Nas décadas recentes, o que a realidade acabou por tornar salientes foram resultados crescentemente inversos em relação às intenções originárias. Eles resumem-se hoje à autocondenação dos portugueses enquanto povo por supostos crimes de discriminação negativa desde os tempos do Império Ultramarino, sem que restem esperanças de reforço da dignidade e cordialidade das relações entre a maioria e minorias. Fecha-se um ciclo histórico em que ninguém saiu beneficiado. 

A instigação política, pela Esquerda, de sentimentos de discriminação social entre as minorias acabou por gerar o efeito paradoxal de contaminar no mesmo sentido a maioria portuguesa autóctone. O que hoje temos é o falhanço em toda a linha do projeto moral da Esquerda sustentado no seu ideal de justiça social. A conclusão óbvia é a da discriminação, enquanto orientadora da ação política e governativa, nunca ser uma solução aceitável para os desafios sociais na fórmula da discriminação positiva (a atual), a repetição de um falhanço que já havia ficado comprovado na fórmula da discriminação negativa (passado). 

André Ventura está a lançar as sementes para que portugueses, por si mesmos, rompam definitivamente com uma e outra herança. Afirmações ou insinuações de regresso a qualquer passado racista são tão falsas quanto impossíveis. O que o líder do CHEGA representa é a voz corajosa e solitária de sensibilidades sociais que rejeitam liminarmente todo e qualquer tipo de discriminação social, negativa ou positiva. Esse é o terramoto moral e cívico que está em marcha sustentado na reivindicação da repartição em doses iguais por todos dos deveres sociais e cívicos, primeiro, e dos direitos, depois, sem distinções entre maioria e minorias. 

Se não confundirmos o essencial com o acessório, prática típica do histerismo mental, isto é, se nos abstivermos dos detalhes (disse isto dos ciganos, aquilo dos negros, falou destes, falou daqueles) resulta muitíssimo claro que, pela primeira vez em Portugal, a moral social está a fragmentar-se em dois ideais antagónicos de justiça social organizados em torno do olhar sobre as minorias. Como a moral nunca tem dois lados – ou é justa ou injusta, certa ou errada, boa ou má – só um dos ideais acabará por ser socialmente válido. 

Ainda assim, numa democracia com maturidade a liberdade de discutir abertamente o assunto é tão fundamental quanto legítima e não deveria suscitar estranheza. Mas não é isso que está a acontecer. Quer nas instituições, quer no espaço público sobressai uma casta letrada que tudo faz para boicotar ou interditar que o senso comum entenda, com a clareza necessária, os argumentos de cada um dos campos. E não há memória de uma disputa equiparável e tão relevante para o destino coletivo no último meio século. 

Quem boicota ou interdita o debate está a adulterar a dignidade da cidadania, está a recusar o direito de cada português de fazer as suas escolhas morais, cívicas ou políticas de forma consciente. É cada dia mais claro quem são, e onde e como se manifestam os inimigos da Verdade, da Liberdade, da Democracia. Basta prestar atenção mínima aos jornais, rádios, televisões. 

No atual contexto, as presidenciais de 2021 serão a primeira grande prova de maturidade da democracia portuguesa e das suas instituições, um leque que inclui, entre outros, os órgãos de soberania, os partidos políticos ou a comunicação social politizada. Se até ao dia do voto os portugueses não ficarem esclarecidos sobre os ideais de justiça social em disputa, reprovaremos todos no teste da maturidade democrática e cívica. Todavia, a comunicação social terá especiais responsabilidades em mais esse falhanço coletivo. 

Para que os dados lançados sejam cristalinos, de um lado estarão os candidatos presidenciais que, de forma manifesta ou latente, se reveem no ideal de justiça social sustentado na discriminação positiva, os candidatos protetores das minorias identificados com a III República, a saber, Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Gomes, Marisa Matias ou João Ferreira e as respetivas forças políticas que os apoiam. Em rutura com a elite do regime, por isso próximo das sensibilidades dos portugueses comuns, do lado contrário estará André Ventura e as forças políticas que o apoiam, os que se reveem no ideal de justiça social assente na rejeição liminar de qualquer tipo de discriminação entre a maioria e as minorias, negativa ou positiva, o lado dos que defendem um ideal universal de justiça social. A diferença é de tal modo substantiva que legitima que os últimos reivindiquem a IV República. 

Na disputa em causa, a crítica social desempenha uma função crucial (próximo artigo). 

[Continua.] 

Título e Texto: Gabriel Mithá Ribeiro, Vice-Presidente do CHEGA! 19-11-2020

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