segunda-feira, 16 de novembro de 2020

A retórica Democrata e os resultados Republicanos

Parece pouco convincente a ideia de que Biden teria uma postura mais firme com a China. Trump, por outro lado, é o cara dos resultados

Rodrigo Constantino 

Os Estados Unidos seguem sem um presidente oficialmente definido, já que Donald Trump e os republicanos não concederam a vitória e o Colégio Eleitoral não deu o resultado final. A mídia anunciou o suposto vitorioso com base em projeções, mas a recontagem de votos é um direito legal e, como houve indício de fraudes, a judicialização era um caminho legítimo e natural, que o democrata Al Gore também tomou em 2000. 

Enquanto o imbróglio não é resolvido, podemos refletir sobre qual o impacto de uma eventual e talvez provável mudança no comando da nação quanto ao relacionamento com a China. O que mudaria? 

Se quisermos dividir a visão geopolítica dos democratas e dos republicanos de forma binária, temos basicamente o seguinte: os primeiros, mais progressistas, acreditam na influência pela retórica, costumam ser mais “suaves”, confiam no soft power, enquanto os últimos seriam menos românticos e mais realistas, pregando uma Realpolitik focada nos resultados concretos.

Essa divisão, um tanto simplista e arbitrária, sem dúvida, acaba servindo para traçar uma linha divisória entre esquerda e direita em geral. A esquerda adota uma visão mais estética, enquanto a direita tende a ser mais pragmática. Materialista, a esquerda normalmente culpa a “desigualdade” até pelo terrorismo, enquanto a direita dá mais peso aos valores morais e culturais. 

Os democratas acreditam, em suma, que podem “comprar” aliados e, com isso, disseminar a democracia mundo afora, enquanto os republicanos desconfiam desses atalhos e entendem que os inimigos da liberdade precisam ser contidos com ameaças críveis até de atos militares. Os democratas são dovish, os republicanos são hawkish. Uns desejam solucionar tudo pelo diálogo, como se um chá das 5 pudesse dirimir conflitos, enquanto os outros querem falar grosso com seus adversários. 

Quando o xerife cochila, os bandidos ficam mais ousados

Esse resumo breve serve para termos uma ideia de como seria um governo democrata no lugar do governo Trump em termos geopolíticos, e como isso afetaria o trato com a China. Historicamente, uma mistura dos dois estilos tem sido útil. É a estratégia do good cop/bad cop, que vemos nos filmes, ou do carrot and stick. Ou seja, abre-se um caminho para a conversa, desde que exista por trás a força dos canhões para “persuadir” melhor. A dissuasão não pode vir só com palavras, eis o ponto que os republicanos entendem melhor. 

Vamos para exemplos concretos. Jimmy Carter era um presidente muito querido por alguns à esquerda, tido como uma referência moral. Mas, na prática, sua gestão na geopolítica foi sofrível e permitiu a revolução dos aiatolás no Irã, que se tornou, desde então, uma enorme ameaça para o Oriente Médio e o mundo. Ronald Reagan, tido como um cowboy beligerante e irresponsável, levaria o mundo a uma guerra nuclear, segundo os progressistas. Na prática, foi um dos grandes responsáveis pela queda do Muro de Berlim e do império soviético. 

Durante o governo Obama, os Estados Unidos se aproximaram de Cuba e do Irã e se afastaram do velho aliado Israel. Obama levou o Prêmio Nobel da Paz antes mesmo de começar a governar, e sua gestão, calcada na visão de que não há nada de excepcional na América, que deveria ser modificada “fundamentalmente”, tornou os Estados Unidos mais fracos perante o mundo. Quando o xerife cochila, os bandidos ficam mais ousados. Vimos o avanço do Isis, do Irã e do Foro de São Paulo na América Latina, com a Venezuela virando uma ditadura socialista de vez. 

Obama talvez seja o maior ícone dessa visão estética na era moderna. Tinha fala de estadista, enaltecia os órgãos internacionais e a importância da conversa, mas os resultados foram, uma vez mais, lamentáveis. O globalismo, afinal, não funciona. Se o mundo ocidental dependesse da ONU e de sua antecessora, a Liga das Nações, para preservar a liberdade, estaríamos todos falando russo, alemão ou chinês hoje. Tivemos no passado a Pax Romana, mais recentemente, nos séculos 18 e 19, a Pax Britannica, e agora, queiram ou não os antiamericanos, vivemos sob uma Pax Americana

O “eixo do mal” prefere um presidente democrata

Cabe ao líder do mundo livre liderar, lutar pela liberdade, e a premissa básica aqui é ter ao menos clareza moral do que está em jogo. Estamos numa espécie de Guerra Fria 2.0, com a China no lugar da União Soviética. Os relativistas morais, incapazes de reconhecer qual lado defende de fato os valores certos, acabam enfraquecendo aqueles que defendem os valores ocidentais e fortalecendo seus inimigos. Para Nikki Haley, embaixadora norte-americana na ONU durante os primeiros anos do governo Trump, a China e a Rússia representam as maiores ameaças geopolíticas hoje. Trump tentava, com seu nacionalismo, fortalecer a musculatura norte-americana na mesa de negociações. Joe Biden, caso confirmado presidente, fará o mesmo? 

É verdade que Biden já adotou eventualmente uma retórica mais dura contra a China, mas parece pouco convincente a ideia de que teria, de fato, uma postura mais firme. Trump, por outro lado, é o cara dos resultados. Trouxe até o coreano atômico para a mesa, conseguiu ajudar na costura de importantes acordos no Oriente Médio com Israel, deu golpes severos no regime iraniano e acabou com a política de “pai para filho” de Obama com Cuba e Venezuela. 

Aqueles que temiam um confronto mundial em larga escala por conta do estilo de Trump morderam a língua. Uma vez mais, os “belicosos republicanos” entregaram bons resultados, enquanto as “pombas democratas” ficaram com os belos discursos e os prêmios internacionais. 

Aqueles que se importam mais com a “imagem” dos Estados Unidos frente ao mundo desejam um presidente democrata. Afinal, os demais países adoram uma América mais fraca, sujeita aos ditames supranacionais, que fale bonito e em linha com a retórica da ONU. 

Já aqueles que se importam mais com a liberdade de fato, com os resultados, normalmente preferem um presidente republicano, duro na queda, patriota e que fale grosso com os adversários da nação. 

A pergunta mais importante para sintetizar tudo o que foi dito é esta: os regimes de Cuba, Venezuela, Irã, Rússia e China torcem para uma vitória de Biden ou de Trump? Acho que a resposta é evidente. E, se o “eixo do mal” prefere um presidente democrata, não resta muita dúvida de que os amantes da liberdade deveriam torcer por Trump. Num governo Biden, os inimigos da liberdade ficarão mais ousados, e isso não pode ser algo positivo. 

Título e Texto: Rodrigo Constantino, revista Oeste, 13-11-2020 

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