sexta-feira, 8 de julho de 2022

[Aparecido rasga o verbo] Ao pé da letra

Aparecido Raimundo de Souza 

ZAROLHITO
, o dono da oficina mecânica, foi chamado para depor na delegacia de polícia do bairro onde tem, há muitos anos, o seu comércio. A confusão toda se deu com um promotor público e um funcionário novato, que fora contratado recentemente. Logo que se identificou na recepção, se viu levado pelo funcionário à presença do escrivão de polícia.
Escrivão de Polícia:
— Bom dia. Seu nome, por favor?

Zarolhito:
— Bom dia. Meu nome é Zarolhito Chimblego de Oliveira.
Escrivão de Polícia:
— O dono da oficina? Senta ai, seu Chimblego. Vou lhe fazer algumas perguntas. Chimblego com “bl” ou com “br?”.
Zarolhito:
— Acho que com “bl”.
Escrivão de Polícia:
— O senhor não sabe se é com “bl” ou com “br?”.
Zarolhito:
— Não seu policial. Deve ser com os dois, senhor...

Escrivão de Polícia:
— Está com a sua identidade?
Zarolhito:
— Qual delas? A identidade, ou a carteira de motorista?
Escrivão de Polícia:
— Qualquer uma com foto que lhe identifique. Me deixa ver as duas, por favor.
Zarolhito entregou os documentos ao escrivão. O sujeito copiou o número, nome do cidadão, do pai, da mãe, o dia e mês de nascimento e, por fim, perguntou o endereço:

Zarolhito:
— O meu ou o da oficina?
Escrivão de Polícia:
— Onde aconteceu o fato que o trouxe até aqui.
Zarolhito:
— Rua das Cabras Desmamadas, nº 69, bairro Olival da Amanda.
Terminada as perguntas de praxe, o escrivão sinalizou ao delegado, sentado ao lado, que a testemunha estava identificada e pronta para responder aos questionamentos.

Delegado:
— Seu Zarocito, bom dia. Eu sou o delegado Pinóquio.
Zarolhito:
— Bom dia, seu doutor. Desculpe, não é Zarocito, é Zarolhito.
Delegado Pinóquio:
— Que seja. Meu escrivão aqui escreveu errado. Mas vamos lá: o que aconteceu na sua oficina, na sexta-feira passada com o seu funcionário, o Luiz dos Parafusos?
Zarolhito:
— Aconteceu o seguinte, seu delegado Pinópilo...

Delegado Pinóquio, interrompendo:
—... Pinóquio, seu... como é mesmo o nome? Zarolhito? Ah, tá. Continue...
Zarolhito:
—... O doutor, não sei lá das quantas, fiquei sabendo depois, trabalha na justiça. No fórum. O infeliz foi jogado à força contra o capô do seu próprio carro, pelo meu funcionário, o Luiz dos Parafusos. Eu vi com os olhos que agora lhe enxergam e a terra haverá de comer...

Delegado Pinóquio:
— E o senhor saberia esclarecer por que referido elemento agiu dessa forma tão esdrúxula?
Zarolhito:
— Tão o quê?
Delegado Pinóquio:
— Expurgante, meu amigo...
Zarolhito:
— Seu doutor delegado, assim o senhor me complica. Não dá para...

Delegado Pinóquio meio que enfezado:
—... Prezado, esdrúxula, expurgante, é a mesma coisa que esquisita, estranha, desagradável... entendeu?
Zarolhito:
— Agora sim, o senhor falou a minha língua. Acho que por burrice minha, doutor. Eu não me expressei direito e disse ao Luiz —, coitado mais burro que eu. Lembro que falei, com todas as letras, que o novo cliente era “PRO MOTOR”.

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. 8-7-2022

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