Murray N. Rothbard
Com a instituição do papel-moeda fiduciário e de curso forçado e com a proibição do ouro, o caminho estava sedimentado para uma inflação em grande escala conduzida pelo governo. Restou apenas uma única restrição: a ameaça de uma hiperinflação e a consequente destruição da moeda.
A hiperinflação ocorre quando
o público percebe que o governo está determinado a continuar inflacionando –
quase sempre para financiar seus próprios gastos – e decide se esquivar do
imposto inflacionário gastando o mais rapidamente possível seu dinheiro,
enquanto ele ainda possui algum valor. Entretanto, enquanto a hiperinflação não
ocorre, o governo pode continuar gerenciando a moeda e a inflação sem maiores
problemas.
Todavia, surgem novas
dificuldades. Como sempre, a intervenção governamental para sanar um problema
acaba gerando uma série de outros novos e inesperados problemas. Em um mundo de
moedas fiduciárias, em que cada país possui seu próprio dinheiro, a divisão
internacional do trabalho é gravemente afetada, e os países, que antes estavam
unidos pela mesma moeda metálica, agora se fragmentam em unidades autárquicas.
A ausência de uma certeza monetária afeta ainda mais o comércio. O padrão de vida de cada país fica aquém do potencial. Cada país possui taxas de câmbio que flutuam em relação a todas as outras moedas. Um país que inflacione muito mais do que os outros agora não mais tem de temer uma perda de ouro. Mas ele sofrerá outras consequências desagradáveis: a taxa de câmbio de sua moeda cairá em relação às moedas estrangeiras. Isso não apenas será constrangedor, como também será perturbador para seus cidadãos, que temerão uma desvalorização contínua. Tal inflacionismo também aumenta enormemente o preço dos bens importados, o que afetará bastante aqueles países cuja economia depende do comércio internacional.
Exatamente por isso, a
tendência é que os governos cada vez mais adotem políticas conjuntas visando à
abolição, ou a limitação máxima, das taxas de câmbio flutuantes. Taxas de
câmbio fixadas arbitrariamente em relação a outras moedas já foram tentadas. A
Lei de Gresham nos informa exatamente qual será o resultado de qualquer
controle de preço arbitrário desse tipo. Qualquer que seja a taxa adotada, não
será a do livre mercado, já que esta só pode ser determinada no dia a dia do
mercado. Consequentemente, uma moeda sempre estará artificialmente
sobrevalorizada e a outra, subvalorizada.
Historicamente, e também ao
longo do século XX, os governos sempre optaram por sobrevalorizar
deliberadamente suas moedas – por razões de prestígio, e também por causa das
consequências inerentes. Quando uma moeda é sobrevalorizada por decreto, as
pessoas correm para trocá-la pela moeda subvalorizada, cujo preço, obviamente,
está artificialmente baixo. Isso gera um excedente da moeda que está
sobrevalorizada e uma escassez da moeda que está subvalorizada. A taxa de
câmbio, em suma, não tem a liberdade de se mover em direção a um valor que
equilibre este mercado de câmbio. Ao longo do século XX, as moedas estrangeiras
geralmente foram artificialmente sobrevalorizadas em relação ao dólar. O
resultado foi o famoso fenômeno da “escassez de dólares” – outro exemplo
prático da Lei de Gresham –, o que levou estes países a clamar por auxílio dos
Estados Unidos para contornar este “problema”.
No presente, o mundo está
mergulhado em uma caótica rede de controles cambiais, blocos monetários,
restrições à conversibilidade e múltiplas taxas de câmbio. Em alguns países, um
“mercado negro” para o câmbio de moedas é legalmente estimulado para que a taxa
de câmbio verdadeira possa ser determinada, e várias taxas discriminatórias são
estipuladas para diferentes tipos de transações. Já está claro que o sonho dos
inflacionistas é algum tipo de papel-moeda mundial, manipulado por um governo e
por um Banco Central mundiais, A Interferência do Governo na Moeda 73
inflacionando a oferta monetária de todos os países a uma taxa comum. No
entanto, este é um sonho mais distante, para um futuro muito indefinido; ainda
estamos longe de um governo mundial, e os problemas das moedas nacionais têm
sido variados e conflitantes demais para permitirem que tudo seja mesclado em
uma única unidade monetária. Contudo, o mundo tem se movido a passos firmes
para essa direção. O Fundo Monetário Internacional, por exemplo, é uma
instituição basicamente criada para estimular, em termos gerais, controles de
câmbio e de capital. O FMI requer que cada país membro contribua com o dinheiro
de seus pagadores de impostos para um fundo destinado a socorrer governos que
estejam com déficits em seus balanços de pagamento e que necessitem de dólares
para manipular suas taxas de câmbio.
Título e Texto: Murray N.
Rothbard, “O que o governo fez com o nosso dinheiro?”, Instituto Ludwig Von
Mises Brasil, 2013, páginas 71 a 73
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