Rodrigo Constantino
"Há uma parcela da nossa
sociedade que considera que o nosso processo [eleitoral] tem problemas. Eu, de
minha parte, vejo que nós precisamos dar mais transparência a esse processo.
Não bastam, pura e simplesmente, respostas lacônicas do nosso Tribunal Superior
Eleitoral no sentido de contestar eventuais denúncias ou denúncias ou
argumentações", disse o vice-presidente e senador eleito Mourão, durante
viagem oficial a Portugal.
Sobre a população ainda nas
ruas após mais de vinte dias, Mourão disse: "As manifestações não são
golpistas. Isso é uma coisa que vocês da imprensa estão colocando. É uma
manifestação de gente que não se conformou com o processo, que considera que o
processo é viciado. Essas pessoas não estão na rua de forma desordeira. Estão
num processo de, digamos, catarse coletiva, no sentido de aceitar algo que eles
consideram que não foi correto."
O termo catarse provém do
grego “kátharsis” e é utilizado para designar o estado de libertação psíquica
que o ser humano vivencia quando consegue superar algum trauma como medo,
opressão ou outra perturbação psíquica. A catarse representa a cura de um
paciente, que é alcançada através da expressão verbal de experiências
traumáticas recalcadas. Mas os manifestantes não querem curar um trauma, e sim
impedir que um pesadelo se torne realidade.
A velha imprensa tenta dar um
ar de mau perdedor ao povo que não engoliu ainda a vitória de Lula, mas é este
mesmo o caso? Participei de um podcast americano com enorme audiência nesta
quarta, e ao ter de explicar para os estrangeiros o que se passa no Brasil, foi
necessário fazer um breve resumo desde o começo, quando o ministro supremo
Lewandowski rasgou a Constituição para garantir direitos políticos a Dilma.
Nesse exercício de relembrar passo a passo a escalada autoritária e ilegal do nosso Poder Judiciário, tudo para soltar, tornar Lula elegível e perseguir bolsonaristas, fica muito claro que o Brasil não é um país sério, mas sim uma republiqueta das bananas mergulhada no caos jurídico. Alguns episódios que revelei foram encarados com grande desconfiança pelos apresentadores, que tiveram de checar as informações na internet durante o programa. Eles ficaram incrédulos com alguns relatos, que são mesmo surreais demais.
Quando contei, por exemplo,
que um grande empresário teve a visita da polícia federal em sua casa pelo
“crime” de dar uma curtida num comentário de um grupo fechado de WhatsApp, o
entrevistador quase caiu da cadeira. O Brasil não é para amadores – ou para
gringos. Alexandre de Moraes, com sua pinta de vilão do 007, abusou tanto do
poder que nem é possível listar numa conversa de poucas horas tudo que ele já
fez ao arrepio da Constituição da qual deveria ser o guardião.
Em suma, catarse coletiva pode
ser uma expressão adequada para ilustrar o povo revoltado, chocado, mas é
preciso contextualizar: quem não está estarrecido com tudo que foi feito pelo
sistema podre para recolocar o ladrão na cena do crime está ou hibernando há
anos ou sem lastro ético algum. Qualquer brasileiro decente está indignado e
traumatizado com tudo isso. E de preferência lutando com todas as suas armas
para reverter a situação.
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, Gazeta do Povo, 23-11-2022, 15h32
Bolsonaro recorre ao TSE. Mas não quero alimentar falsas esperanças
A gota que faltava para levar o povo às ruas
Como nos tempos do AI-5, as instituições brasileiras pararam de funcionar
Equipe de Transição...
Trapaça sem fim
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não aceitamos/não publicamos comentários anônimos.
Se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-