Tiago Franco
As atenções no conflito
ucraniano passam agora para a mesa das negociações e, até nesta temática,
conseguimos formar barricadas de opinião. Discute-se sobre quem está de boa-fé
ou a quem um acordo de paz não interessa.
Por vezes, fico com a sensação
de que nos embrenhamos tanto num tópico, que acabamos por perder o contacto com
a realidade e, sem querer, assumo, estamos a debater a paz como quem troca o
Rossio pela Avenida da Liberdade no Monopólio.
Nesse caso, do Rossio, todos
sabem que é mau negócio, mas no caso das conversações de paz, poderíamos baixar
o nível de arrogância e tentar vestir a pele de quem está no terreno.
Dos vários discursos que ouvi, o prémio “pimenta no cu dos outros é refresco” vai para o major Isidro de Morais Pereira, que anda há seis meses a vender a receita da NATO para conflitos de longa duração. Dizia ele que, neste momento, um acordo de paz não faria qualquer sentido para a Ucrânia, porque, segundo a doutrina dos conflitos, o tempo seria desfavorável aos russos e a iniciativa estava do lado ucraniano. Traduzindo, queria ele dizer que o poder negocial da Ucrânia aumentaria com o tempo e o inverso aconteceria com os russos.
Esta é a posição de quem
analisa o conflito a 5.000 quilómetros de distância e que, quando chega a casa,
vê paredes inteiras, aquecimento e a família dentro de portas. Tenho alguma
dificuldade em conceber que quem está na linha da frente, a morrer todos os
dias (seja de que lado for), pense lá no seu íntimo que é melhor aguentar mais
um mês ou dois a fugir de bombas para o Zelensky ou o Putin terem mais cartas
para meter na mesa.
É um pouco aquele pensamento das elites que se dignam a pensar e escolher como deve a plebe morrer. Aguentem, vão morrendo mais uns pais de família em nome do melhor timing de negociação. E não se preocupem porque, se faltar dinheiro, há mais uns milhões de europeus para esmifrar. Para tudo, menos o Inverno frio, as elites parecem ter uma solução. Sempre, obviamente, à custa do couro alheio.
Pessoalmente, acho que, não se
evitando a guerra, um acordo de paz deve ser o objetivo desde o primeiro dia.
Mas aceito que deve ser um pensamento utópico. Há que ir matando uns
quantos pobres por dia até que os milionários que nos dirigem decidam que a
altura de falar chegou. Assim como assim, também temos pobres para dar e
vender, estamos só a escoar produto.
Zelensky apresentou uma lista
de exigências para se sentar à mesa que é uma espécie de máquina do tempo para
um dia qualquer de dezembro de 2013. Russos fora do país, territórios
devolvidos, fim dos ataques, reparações e mudança de regime [ou pelo menos
outro a decidir que não Putin].
Para muitos, esta é uma lista
realista e justa porque, lá está, a Ucrânia foi invadida. Concordo com esse
argumento, o de voltar tudo ao que era, mas isso transformar-me-ia num
negacionista da guerra. Já me bastou a experiência com os confinamentos…
Tendo existido a invasão, e
tendo a Ucrânia perdido territórios, a realidade é essa, pelo que, chegar com
uma lista exigências ao nível de “vamos fingir que não aconteceu nada”, é o
mesmo que dizer que não se quer negociar.
Se a Rússia aceitasse as
exigências do Zelensky para se sentarem… iam discutir o quê? Se o pagamento
seria feito em rublos ou dólares? É que não haveria muito mais para discutir.
E repito: justo seria a total
retirada russa sem perdas de território para a Ucrânia, mas, normalmente, não é
esse o cenário depois de uma invasão de uma potência mais forte. E, numa
guerra, vence o mais forte, não o mais justo.
Bem sei que, neste momento,
aplicamos um filtro histórico para condenar o invasor, enquanto nos 70 anos
anteriores não nos preocupámos muito com o tema, quando o invasor tinha as
nossas cores, mas é assim que, normalmente, estas coisas acabam. Regra geral,
com o nosso consentimento.
Portanto, nesta luta de barricadas pela moral adquirida em 2022, eu pergunto, de forma pragmática: qual é a solução?
Ainda há quem acredite nas
conversas da Ursula do “as long as it takes” (leve o tempo que
levar)? Os alemães já avisaram que o stock de armas está em
baixo, os italianos já não têm nada para dar, os americanos também já começam a
apertar o bolso.
Os indianos, chineses e turcos
fazem negócios com os russos, sendo que os turcos jogam nas duas frentes. Os
bálticos, sempre afoitos na condenação aos russos, como se viu no “míssil russo
que caiu a Polónia”, já vão nos dois dígitos de inflação.
Portugal envia equipamento que
não funciona, os iranianos produzem armas para os russos, a Escandinávia está
com um custo de vida descontrolado, o Sul da Europa está cada vez mais pobre e,
na Alemanha, vão-se fazendo negócios à margem da estratégia europeia para
garantir empregos e menos convulsão social.
Neste cenário de catástrofe,
repito a questão: qual é a solução? Até quando podemos pagar esta guerra que
não nos diz respeito? E, por favor, não me venham falar em democracias, que é
para não ter que ir buscar a posição da Rússia ou da Ucrânia no ranking das
democracias até ao dia 23 de fevereiro de 2022.
Quantas vezes temos que ver o
aumento da prestação da casa, perder empregos ou ficar sem comida na mesa?
Quantos russos ou ucranianos pobres é que têm que morrer mais na frente da
batalha? Digam-me, qual é a solução que não esteja presa a um acordo de paz?
Eu vejo três hipóteses:
a) chegam a acordo agora e a
Ucrânia perde territórios;
b) chegam a acordo mais tarde
e a Ucrânia perde territórios, mais soldados morrem e mais europeus empobrecem;
c) a NATO entra oficialmente
no conflito, havendo a hipótese de os ucranianos recuperarem o terreno todo.
Morrem muitos mais soldados, empobrecem muitos mais europeus. Estamos na III
Grande Guerra.
Perdoar-me-ão os moralistas
que acordaram para a História das Nações em 2022, mas, visto daqui, a escolha é
tremendamente simples. Para hipocrisia, já me chegaram os 20 anos em que a
Europa apertou a mão ao Putin e com ele fez todo o tipo de negócios, sem querer
saber de democracias ou teorias imperialistas.
São, somos, cúmplices do que
se está agora a passar. Já que não o soubemos evitar, tenhamos pelo menos a
capacidade de lhe colocar um fim.
Título e Texto: Tiago
Franco, engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia), Página Um, 21-11-2022
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