No Qatar, as mulheres gozam da liberdade compatível com o islão, que permite a existência delas. O tráfico de crianças é corriqueiro. Não sei a que título alguns protestam contra o “mundial” do Qatar
Alberto Gonçalves
Em 2010, o “mundial” viu-se
entregue à festiva África do Sul, que distraidamente pagou aos senhores da FIFA
uma quantia apreciável e que, a fim de acomodar o evento, passou os meses
anteriores ao mesmo a escorraçar e prender mendigos e outros elementos
susceptíveis de perturbar os visitantes. Em 2014, a honra coube ao soalheiro
Brasil da dona Dilma e do sr. Lula, que possivelmente pagou aos senhores da
FIFA uma quantia apreciável e patrocinou viçosos subornos e “derrapagens” na
construção dos estádios, a exploração de inúmeros trabalhadores, a morte de uma
pequeníssima percentagem desses trabalhadores, o desalojamento de largos
milhares de desgraçados das suas casas e, no geral, uma operação de propaganda
que revelou à Terra o esplendor da corrupção local e um “time” capaz de
encaixar sete golos. Em 2018, coube a vez da impoluta Rússia (sim, essa Rússia)
do sr. Putin (sim, esse sr. Putin), que inevitavelmente pagou aos senhores da
FIFA uma quantia apreciável, desatou a explorar nacionais e a escravizar
norte-coreanos para erguer estádios, e orientou o espancamento e o sumiço dos
indigentes que poluíam as cidades onde os estádios estavam.
Perante tal currículo, seria
um desconsolo que o anfitrião do torneio de 2022 baixasse as expectativas. Se
possível, a FIFA subiu-as: escolheu o Qatar. É verdade que o Qatar ajudou à
escolha, pois evidentemente pagou aos senhores da FIFA uma quantia apreciável,
incrementou a escravatura de imigrantes para produzir infra-estruturas
modernaças e, no processo, matou-os em quantidades discutíveis (entre 3 – três
– segundo as autoridades indígenas e 6500 – seis mil e quinhentos – ou 10000 –
dez mil – segundo a imprensa estrangeira).
O engenho do Qatar não se esgota aqui. O território é uma teocracia nas mãos de uma família eleita pelos céus e guiada pela Sharia, onde a apostasia é punida com cadeia, chicotadas e, nos casos graves, fuzilamento; onde a blasfémia é punida com cadeia, chicotadas e, nos casos graves, fuzilamento; onde a homossexualidade é crime punido com cadeia, chicotadas e, nos casos graves, fuzilamento; onde o adultério… etc. No Qatar, as mulheres gozam da liberdade compatível com o islão, que do alto da sua bondade permite a existência delas e, com leviandade discutível, o respectivo voto.
Mas nem tudo é bom no Qatar.
Também há coisas óptimas. Os naturais do ermo, perdão, emirado têm dinheiro.
Consta que os shoppings são impecáveis. Os arranha-céus são
homenagens solenes à foleirice. Os carros de luxo abundam nas ruas. O tráfico
de crianças é corriqueiro. E isto sem referir os elevados padrões da península
na política internacional, com o histórico ódio a Israel, a devoção pela
“causa” palestiniana, a instigação do “jihadismo” no Médio Oriente e o suporte
diplomático e financeiro à Irmandade Muçulmana e ao Hamas. Não sei a que título
alguns protestam contra o “mundial” do Qatar.
Certas federações da bola,
pelo menos as dos EUA, da Austrália e da Dinamarca, mostraram-se chateadas com
a questão dos direitos humanos. Um jogador português, Bruno Fernandes,
confessou-se chateado com a questão dos direitos humanos e, sobretudo, com a
tenebrosa interrupção da época e o sinistro horário dos jogos. Por sorte,
nenhum dos queixosos compreende bem o conceito de discórdia, que no caso
consistiria em não participar naquilo que nos repugna. Assim, sem excepção,
todas as selecções apuradas e todos os futebolistas convocados estarão
presentes no Qatar, recebidos em histeria por claques falsas.
Ainda bem. Os “mundiais”
acontecem apenas a cada quatro anos e, para lá dos merecidos retornos para a
FIFA e os organizadores, são uma oportunidade episódica para que os profissionais
da bola exibam habilidade técnica, tatuagens sublimes e penteados na vanguarda
do universo capilar. Além disso, a exposição global permite a milionários
remediados a assinatura de contratos que os tornem milionários sem remédio. E
lembre-se os biliões de adeptos, que contam com a celebração do “beautiful
game” para despachar cervejas e inspirar os filhos nos nobres valores do
desporto.
Como antes os ligeiros
deslizes de Rússia, Brasil e África do Sul (e da Argentina, em 1978, e da
Itália, em 1934), os pecadilhos do Qatar não devem ser susceptíveis de
comprometer os desafios no relvado. O totalitarismo político, o esclavagismo, a
homofobia, a subalternização das senhoras, o racismo, o terrorismo, o
anti-semitismo e maçadas similares são só pechisbeques retóricos com que, em
determinados contextos sociais, as almas sensíveis enchem a boca – para a
esvaziarem mal o árbitro sopre o apito inicial. Por cá, o prof. Marcelo já deu
o mote: esqueçamos as irrelevâncias, que o importante é concentrarmo-nos no
essencial, ou seja, em gritar por valentes que vão legitimar uma simpática e
sangrenta ditadura, e em achar normal que o PR, o PM, o presidente da AR e
resmas de sumidades viajem a nossas expensas para observar e apoiar e comentar
ao vivo a “equipa de todos nós”.
A mim, por exemplo, ninguém
poderá acusar de ignorar o “mundial” e a “selecção” por causa das minúsculas
idiossincrasias do Qatar. Ignoro o “mundial” e a “selecção” porque tenho mais
que fazer.
Título e Texto: Alberto
Gonçalves, Observador,
19-11-2022
No Islã não existe Joanas D'arc nem Margareths Thatcher.
ResponderExcluirPois é... mas o Opressor é o Ocidente, particularmente, o homem branco, heterossexual...
ExcluirLevei 24 horas para assimilar "opressor é o ocidente".
ExcluirToda guerra desde sempre é por recursos. O Islã é possuidor dos recursos mais necessários do planeta, são recursos minerais altamente necessários. Também são os maiores traficante de opiáceos do mundo.
Os opressores são os maiores consumidores do Islã e da Rússia. Coloquei a Rússia porque é em síntese uma país de raça ariana que mais se aproxima do Islão.
Não existem guerras de ideologias religiosas, tem a ver com recursos.
Esse mimimi sobre escravidão é sobre recursos, se houvesse outros não haveria sistemas de castas como na África, na Índia, no Islão, e nos países socialistas, tais com Rússia, China e outros.
As tribos africanas vendiam negros de casta mais baixa aos europeus em troca de armas e pólvora. inclusive mulheres e crianças. mas o homem branco era opressor por quere mão de obra gratuita (recursos).
Eu sou hétero, mas não quero escravos, mas o Islão mata os homossexuais.
Acontece que os muçulmanos tem maioria branca.
Os amarelos também matam os homossexuais.
Um dos mais contundentes exemplos desse traço da cultura pode ser visto na figura do general Pausanias. Na qualidade de sucessor do rei Leônidas, este conhecido líder militar defendeu a prática homossexual como sendo uma forma de expressão amorosa superior e de fidelidade ao companheiro de luta.