Haroldo Barboza
No final do século XX,
escolinhas de futebol pulverizaram pelo Brasil inteiro. Atletas aposentados
(sem alto patrimônio) que não se tornaram dirigentes, técnicos ou jornalistas
esportivos, tiveram de ser patrocinados por vorazes empresários para montarem
suas estruturas. A alta demanda de jovens sonhadores abriu espaço até para
Professores de Educação Física com um mínimo de raciocínio para incutir
conceitos básicos nos aprendizes.
Atualmente, para
simplificar, podemos dividir o mercado em duas categorias:
Categoria 1 -
grupo de escolinhas sociais, localizadas em áreas urbanas mais “seguras”, com
facilidade de transporte e perto de condomínios e escolas fundamentais. Tendo
um campinho com grama sintética, um bebedouro, dois chuveiros e uma maleta de
primeiros socorros, com sorte consegue congregar 200 jovens divididos em 8
turmas ao longo da semana. Estes jovens são educados por pais zelosos e usam o
esporte como lazer para descarregar energia física e ansiedades antes das
provas nas escolas que os preparam para a vida profissional onde um diploma
ainda possui peso.
São orientados a
praticar o jogo de forma respeitosa, obedecendo ao árbitro de qualquer jogo e
até aplaudindo o adversário vencedor. Segundo breves estatísticas, no máximo 0,5%
demonstram habilidade com a bola a ponto de ser candidato a “mercadoria” de
exportação para Europa.
A cada boa jogada de um
filhote, muitos beijinhos e fotos dos pais que os seguem nestes momentos de
descontração.
Categoria 2 - centros de triagem chancelados por grandes clubes nacionais, com vários campos espalhados nas beiradas de comunidades carentes. Um núcleo mais espaçoso (5 ou 6 campinhos consecutivos), consegue agregar 2 000 ou 3 000 jovens desnutridos, sem possibilidade de um estudo fundamental/universitário num futuro breve. Os empresários estão sempre passeando nestas áreas, com seus discursos (para os pais) sobre elevação de patrimônio a cada novo contrato. Algo que no máximo 2% terão chances de disputar com ferrenhos adversários de outras dezenas de comunidades.
No alambrado em torno
do campo, pais desempregados vociferam “orientações” (deturpações) constantes a
cada herdeiro (possível tábua de salvação da família carente) em campo, para
“complementar” as definições passadas pelo treinador.
Entre dezenas de
lembretes, podemos citar:
- Vai Fefeu! Entra
firme. Da cintura para baixo, tudo é canela;
- Se a bola passar,
arrepia sem dó;
- Dá uma cotovelada no
peito que ele não entra mais na área;
- Pisa no pé esquerdo
do ponta que ele já está “baleado”;
- Funga no cangote dele
que ele geme (esta é a mais branda de todas).
Com esta
responsabilidade jogada sobre seus ombros, cada atleta (que sonha com o
sanduiche e o guaraná oferecido pelo patrono após o treino) disputa cada
jogo/treino como se fosse gladiador (em luta com leões) nas arenas romanas do
século zero.
Título e Texto: Haroldo
Barboza, abril 2023
TESTO TEXTO - para jovens entenderem as notícias
Guardar no colchão?
Ninguém furta sargento
Vai comprar ingresso antecipado?
Tiro sem alvo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não aceitamos/não publicamos comentários anônimos.
Se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-