Alexandre Garcia
Um juiz do Supremo, o ministro Gilmar Mendes [foto], aderiu ontem, aqui em Portugal, à campanha contra a liberdade de opinião nas redes sociais. Num painel chamado de “Futuro da democracia na era digital”, do Fórum Internacional Brasil-Europa (Fibe), ele chegou a afirmar que “se há uma mãe de todas as reformas, eu diria que é a da responsabilidade das plataformas digitais”.
Foto: Carlos Moura/STF |
Assim como esse ministro do
Supremo, muita gente está atordoada pelo megafone oferecido para cada cidadão
expressar sua opinião. Quando mal começavam a ecoar os decibéis digitais
emitidos pelo povo até então sem voz, Umberto Eco (o autor de O Nome da Rosa)
escandalizou-se com a novidade e ironizou que ela dá voz “a uma legião de
imbecis”, dizendo que agora pode percorrer o mundo uma besteira que antes
ficaria restrita à mesa de um bar. “Normalmente, eram imediatamente calados,
mas agora têm o mesmo direito à palavra que um prêmio Nobel”, disse Eco em
2015.
Quem
tem ouvidos feridos pela voz do povo e quer que bocas calem? Vamos fazer leis
para que digam apenas o que admitimos que vibre em nossos sensíveis e
preconceituosos ouvidos?
A manifestação de um grande escritor e de um juiz supremo seria uma reação à tecnologia que deu voz ao povo anônimo? Ampliar a voz de cada um não seria a ampliação do poder do povo, vale dizer, um reforço para a democracia? Não poderíamos pensar que os poderosos, que dominam o povo, temem perder o poder para os que ganharam a voz digital e universal? Umberto ecoa o desejo dos que querem calar a voz do povo, no raciocínio elitista de que os senhores da palavra são gente da estirpe de um ganhador do Nobel? Quem tem ouvidos feridos pela voz do povo e quer que bocas calem? Vamos fazer leis para que digam apenas o que admitimos que vibre em nossos sensíveis e preconceituosos ouvidos? A quem vamos dar o direito de falar no mundo digital e a quem vamos restringir esse direito? Saudamos tanto a diversidade, mas, pelo jeito, não suportamos a diversidade de ideias. Porque, no fundo, é uma questão de ideologia: só queremos liberdade de opinião para os que concordam conosco.
Para punir a calúnia, a
injúria e a difamação, já existe o Código Penal. Notícia falsa sempre existiu,
séculos antes de aparecerem as redes sociais. Além disso, a vida mostra que
mentira repetida vira verdade e que o que era enterrado como falso depois
ressuscita como verdade – basta comparar as “verdades” da pandemia com os fatos
que hoje testemunhamos. Aliás, fomos muito censurados nas redes sociais naquela
época de inquisição contemporânea… Agora, o projeto quer que as plataformas nos
policiem e ainda existe uma “entidade de supervisão”, que parece o Ministério
da Verdade, do profético 1984, de Orwell. A mídia, que já sofre com a
concorrência, apoia a inquisição.
Nesta semana, pode ser votada
no plenário da Câmara urgência para um projeto que restringe a liberdade nas
redes sociais e nelas interfere até financeiramente. O relator é um deputado do
Partido Comunista do Brasil. Ora, todo mundo sabe que é da natureza dos
partidos comunistas a censura e o totalitarismo. Isso já contamina o projeto. E
agride a Constituição, que nos artigos 5º e 220 garante a liberdade de opinião
e de expressão em qualquer plataforma, e veda a censura de qualquer natureza.
Título e Texto: Alexandre
Garcia, Gazeta do Povo, 25-4-2023, 11h
A presença da mordaça continua a todo vapor
Dino insulta parlamentares de Portugal por vaias contra Lula
Lula enfrenta protesto em Portugal: ‘Lugar de ladrão é na prisão’
Lisboa, 25 de abril de 2023: “Fora, Lula!”
Lula da Silva e a mulher Janja condecorados por Marcelo na visita a Portugal
Imagens de um país sem lei
Vídeo mostra discussão de ministros de Lula em 8 de janeiro
Adrilles: ‘A verdade encurralada pela Justiça e pelo jornalismo’
Três controvérsias da visita de Lula a Portugal
Lula viaja a Portugal em busca de acordos e sob críticas por declarações sobre guerra na Ucrânia
Brasileiro em Lisboa convocando para a Manifestação Em Lisboa,
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-