A histórica ruela repleta de imóveis
históricos tombados morreu e se transformou num imenso estacionamento pra
motocicletas. A bagunça impediria o renascimento do beco, que já foi boêmio
Quintino Gomes Freire
Ponto famoso do Centro Histórico do Rio de Janeiro, o Beco do Bragança, na região do primeiro distrito naval, tem se tornado um estacionamento culturalmente ”inconveniente” – digamos assim – de motocicletas. A antiga e estreita ruela é um dos logradouros mais históricos da cidade, lotada de sobrados históricos de rara beleza.
Recentemente, a reportagem
do DIÁRIO DO RIO passou a flagrar diversas motos estacionadas
em variados dias, sempre em grande quantidade, atrapalhando o ir e vir da
população e a visibilidade dos bens tombados ali localizados, uma
vez que o local é bastante estreito; poucos becos semelhantes sobreviveram ao
bota-abaixo do século XX. A rua, depois que virou estacionamento informal,
jamais foi a mesma; as lojas comerciais que existem no térreo e seus
sobradinhos se tornaram ”inalugáveis”, segundo corretores.
“Ninguém quer alugar as lojas que estamos oferecendo aqui. Todos reclamam que a rua acabou, virou estacionamento gratuito de motoqueiros”, diz Lucio Pinheiro, diretor de locação da tradicional Sergio Castro Imóveis, maior administradora da região. De fato, na nossa ida ao local, *todas* as lojas estão vazias.
O Beco do Bragança está localizado próximo de vias movimentadas do Centro do Rio, como as avenidas Rio Branco e Presidente Vargas, e é um importante ponto de ligação da Rua da Quitanda à Primeiro de Março, junto à boca do Túnel. Por isso, diariamente, muitas pessoas costumam circular pela região.
Procurada pelo DIÁRIO DO RIO para comentar o assunto, a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) afirmou que ”enviou uma equipe até o local na tarde desta terça-feira (04/04) e constatou que as motos não estão em desacordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), uma vez que não há sinalização de proibido estacionar e não estão impedindo a circulação de pedestres”. Ou seja, é permitido estacionar lá.
Ainda de acordo com a
pasta, ”não há acesso à garagem e todas as motocicletas estão
perpendiculares à guia da calçada”. Enquanto isso, a ruazinha charmosa
agoniza, em tempos de ”Reviver Centro”. As fotos abaixo mostram a transformação
dk bucólico local em depósito de motocicletas, numa região em que nas últimas
décadas foram gastos milhões em estacionamentos subterrâneos e garagens.
História
O primeiro nome da viela foi
Rua dos Quarteis, por ter recebido, em 1615, militares atuantes na defesa da
Baía de Guanabara. Posteriormente, veio a se chamar Beco Manuel André e,
depois, Beco Manuel Lopes, nomes de proprietários de imóveis ali localizados. O
beco tem inúmeros imóveis tutelados pelo órgão de patrimônio municipal, o IRPH.
Vale ressaltar que a moradora mais ilustre do local foi a icônica cantora
Carmen Miranda, que também residiu na travessa do Comércio.
Título, Imagens e Texto: Quintino Gomes Freire, Diário do Rio, 12-4-2023
Motos são rebocadas do Beco do Bragança após denúncia do DIÁRIO DO RIO; subprefeito do Centro comenta ação
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