quarta-feira, 19 de abril de 2023

Crise da democracia

Luís Naves

Há duas teses opostas sobre a crise das democracias. Alguns estudiosos e comentadores julgam que o povo não sabe votar e que as maiorias criadas pelo voto tentam limitar os mecanismos de controlo (funcionários, instituições não governamentais, académicos, juízes, jornalistas).

Quando a direita vence eleições, procura conter os poderes destes grupos não eleitos que se autointitulam liberais. Como se reclamam da defesa das liberdades, estas entidades resistem, acusando o poder de ser populista. As palavras populista e liberal são apenas rótulos simplificados, mas os governos diabolizados consideram que a resistência vem de elites que não querem respeitar o veredicto popular.

Alguns chamam aos não-eleitos "o estado profundo". Isto é visível, por exemplo, nos poderes da União Europeia, que parece cada vez mais afastada dos interesses dos países que representa. Também é visível na influência de causas ultraminoritárias, como nos direitos trans e outros. Os intelectuais da direita dizem que a esquerda se apoderou das instituições não-eleitas.

A mesma esquerda ataca ferozmente todas as organizações que não controla, como é o caso das Igrejas. Lentamente, a ideia de que a democracia não se esgota nas eleições vai evoluindo para a ideia de que as eleições não contam, o mais importante é a mobilização, a denúncia permanente e, se for preciso, a desordem.

Título e Texto: Luís Naves, Delito de Opinião, 19-4-2023

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