segunda-feira, 17 de abril de 2023

Benfica e o medo cénico do colapso

Lídia Paralta Gomes

O pior de tudo, é a incapacidade. Imagino eu, que nunca pisei o verde de um campo de futebol, pelo menos com o intuito de nele jogar. Porque é que o que resultava, de repente parece não resultar mais? Como é que aquela bola que sempre funcionava agora prende-se no marasmo das rotinas? O futebol tem piada por causa disso, porque não depende de uma só equipa e, a menos que falemos de um génio, de um só jogador. Às vezes a culpa será só nossa, mas do outro lado há quem esteja permanentemente à coca, quem nos esteja a estudar, a procurar os nossos pontos fracos.

Roger Schmidt, Técnico do Benfica

E, neste momento, parece estar tudo isto a acontecer ao Benfica.

Haverá variáveis que se podem explicar, outras quase do campo do esotérico. Como é que há duas semanas estávamos a falar de possíveis 13 pontos de vantagem e de Marquês cheio e agora a diferença escanzelou-se de tal forma que a maré parece irremediavelmente virada? Fala-se de férias de jogadores, da pouca confiança que Roger Schmidt terá fora daqueles 14 ou 15 elementos que sempre coloca a jogar, da apatia do treinador vendo-se por baixo, de gente desaparecida em combate, de uma quebra física avassaladora. Mas não nos podemos esquecer das equipas que terão percebido o antídoto para um futebol outrora dinâmico e arrebatador, diz-se que os treinadores portugueses têm bom olho para isso e aqui estamos, com um campeonato relançado quando muita gente já fazia as contas a quantas mais jornadas seriam precisas para o Benfica confirmar o título - o Sporting, recordemo-nos, já passa por isto há algum tempo, não lhe aconteceu tão cedo, mas encontrar uma solução constante não está fácil.

Mas voltemos à incapacidade. Porque o início dos problemas do Benfica, pelo menos aqueles que se nos entraram olhos adentro, não começaram na derrota com o FC Porto, ou melhor, na frieza dos números que nos oferece esse resultado da Luz. O Benfica poderia ter perdido esse jogo jogando bem, mas perdeu esse jogo prostrado na inabilidade de dar a volta à estratégia de Sérgio Conceição, manietado, de mãos atadas. Na Champions, com o Inter, um festival de muita bola e pouca uva e desmoronar anímico quando o adversário se viu em vantagem. E em Chaves, o futebol sedutor de antes pareceu apenas a décima tentativa falhada daquela frase de engate antes infalível.

E é por isso que estes agora quatro pontos de vantagem para o FC Porto soam a canto do cisne. Poderão até ser suficientes, mas saiu da caixa o medo cénico do colapso depois de nove meses de idílio. Schmidt falou de aprender com as derrotas, mas como aprender nesta fase de um contexto que era quase desconhecido para este Benfica? Por muito que procuremos explicações, teorias hiper-mega-científicas, há sempre o mantra pouco sofisticado em termos de rigor, mas que é aquele que, na verdade, continua a agarrar-nos inexoravelmente e este e a outros desportos: enquanto não for impossível, não é mesmo impossível, logo, olho aberto.

Vai ser engraçado este final de campeonato - e às vezes até nos esquecemos que o SC Braga está a dois pontos do FC Porto.

Título e Texto: Lídia Paralta Gomes, TRIBUNA Expresso, 14-4-2023

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