quinta-feira, 13 de abril de 2023

[Daqui e Dali] Quando apelei a sentimento nobre

Humberto Pinho da Silva

Na década oitenta do século transato, assistindo na “Globo” animado programa de variedades, senti, de repente, forte e aguda dor no cotovelo do braço esquerdo, que se propagava até aos dedos da mão.

Como a dor fosse intensa e não passasse, dirigi-me preocupadíssimo ao médico assistente. Após examinar-me, tateando cuidadosamente o braço, recomendou-me que seria melhor consultar o ortopedista.

Receoso, fui. Comunicou-me a triste nova, que seria necessário operar urgentemente. Havia um nervo trilhado na articulação do cotovelo.

Para se poder realizar a cirurgia, tinha de realizar vários exames, entre eles, submeter-me a dolorosos choques elétricos, para se conhecer bem o grau de incapacidade. Escolhido o clínico, aguardei numa elegante e bem decorada sala de espera.

Chegada a minha vez, deparei com médica, já velhinha, que me tratou carinhosamente e de modo familiar. Durante o exame conversava animadamente, sorrindo, sobre casos curiosos passados na sua família, no propósito – segundo disse – de me distrair, enquanto aplicava os penosos choques.

Atrevidamente, abusando da extraordinária simpatia da senhora, arrisquei perguntando-lhe, quando terminei o exame:

- O que acha que devo fazer?

- Seu médico é que sabe. Respondeu secamente.

-  E se fosse seu filho, que faria?

- Ah!... Se fosse meu filho, não operava. Não! Há casos que passam sem nada fazer... Se a dor for intensa e continuar... é caso de operar. Quer um conselho: não se apoie nos cotovelos, nem guie com o braço de fora.

Semanas depois, a dor desapareceu da mesma forma como surgiu.

Casos há, como este, que se resolvem por si. É, todavia, de louvar a honesta atitude da médica que, indiferente à ética, revelou-me seu parecer, poupando-me assim dinheiro e tratamento doloroso.

Por vezes os diagnósticos dos médicos são bem diferentes, quando se lembram que também são pais e mães.

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, abril de 2023

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