Humberto Pinho da Silva
Vou vos contar uma pequena história para desopilar a mente, ocorrida no Médio-Oriente, entre beduínos que cruzavam largo e árido deserto.
Este caso explica perfeitamente, o curioso
fenómeno psicológico, que nos ilude – pensamos erradamente, que estamos
naufragados em complicado labirinto ou cativos em fortes grilhetas, que, na
realidade, nunca existiram.
Atravessava imponente caravana de beduínos extenso
deserto, levando numerosa cáfila, carregada de tendas e mercadorias.
Pelo declinar do sol abrasador abrigaram-se num
aprazível oásis. Os criados apressaram-se a prender os quadrúpedes, mas
verificaram que perderam uma estaca. Eram trinta camelos e só havia vinte e
nove varas.
Pensaram prender dois animais na mesma estaca, mas
recearam que brigassem.
Não sabendo como resolver o problema dirigiram-se
ao senhor da caravana para pedir-lhe conselho.
Após aturada ponderação, recomendou-lhes:
- Espetem as 19 estacas, e prendam os camelos. O que sobrou, levem-no, mansamente, e executem os mesmos gestos, como se o tivessem, realmente a prendê-lo.
Assim fizeram. O camelo a tudo assistiu,
pacientemente. De seguida deitou-se, permanecendo quieto e tranquilo.
Ao romper da alva, levantaram o acampamento.
Desmontaram as tendas e foram libertar os animais.
Ao chegarem junto do camelo, que permaneceu solto, verificaram atónitos, que continuava sossegado, aguardando a hora de o soltarem.
Pontapearam-no brandamente, para que se erguesse,
mas o animal não obedecia.
Foram contar ao amo o sucedido, estupefacto pelo
que viram.
Este apenas lhes disse:
- Ide! Façam todos os gestos como tivesse sido
aferrado, e verão que prontamente obedecerá às vossas ordens.
Assim fizeram. O animal levantou-se, aguardando
calmamente que o carregassem.
Esta inocente historieta é uma, entre outras, que
o conhecido psiquiatra e psicólogo Platanov, narra no interessante livro:
"Psicologia Recreativa", e recorda que "existem" amarras
que não passam de ilusões que nos dominam, criadas pelo nosso cérebro.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, fevereiro
de 2023
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