Humberto Pinho da Silva
Quando estou na cidade de São Paulo fico
estupefacto com o movimento atordoador das viaturas. São filas intermináveis de
ciclistas e motociclos que, sem respeito, se enfiam quase entalados, a grande
velocidade, pelos estreitos intervalos dos automóveis, fazendo autênticas e
perigosas habilidades circenses.
Sempre tive alma de montesino. Aprecio a calma da
minha modesta casa; e dentro dela, a paz do meu quarto – apesar de viver no
centro da cidade – quiçá por isso, o trânsito da Pauliceia, estonteava-me.
Nunca entendi como é possível conduzir, com
segurança, nessa balbúrdia, e chegar a casa (depois de um dia de trabalho) sem
ter os nervos em frangalhos.
Talvez, por isso, adorava a minha pacata cidade
onde sempre residi: paz, concórdia e respeito.
Desgraçadamente, para meu infortúnio, a sossegada
e quase familiar cidade do Porto, está, agora, transformada num saricoté
endiabrado.
Não falo dos turistas, que chegam aos montes, com
malas, malinhas e maletas, param e conversam nos passeios, desesperando o
portuense apressado, mas as malfadadas motos e as impertinentes trotinetes.Foto: Artur Machado/Global Imagens
De início pareciam brinquedos engraçados, quase infantis, transformados num rápido e simples transporte citadino, prático e econômico.
Mas, rapidamente se tornaram indesejáveis e
ameaçadoras.
Adolescentes irresponsáveis, quase crianças,
correm de trotinetes, pelas ruas, passeios, jardins e até pelas estradas, a
alta velocidade, algumas vezes em perigosas competições.
Circulam sem seguro, sem licença, sem capacete,
sem regras, sem conhecerem os sinais de transito, sem ordem, como se fossem
donos da via pública.
O que era um brinquedo, prático, útil e econômico,
passou a ser praga, um perigo para todos nós.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, fevereiro
de 2023
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Descaramento
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