sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

[Foco no fosso] Terceiro plano

Haroldo Barboza 

Pessoas bem-informadas sabem que NADA é 100% seguro. Como exemplo, podemos citar:

- fortes barragens de concreto que desabam e inundam municípios ocasionando dezenas de mortes;

- chefes de estado que são eliminados apesar do aparato de segurança com dezenas de pessoas treinadas e aparelhadas para defendê-lo;

- cofres de bancos que são invadidos por túneis grotescos abertos na periferia ao longo de três meses;

- meliantes que abandonam prisões de “segurança máxima” - no final de janeiro de 2023 três internos escaparam de Bangu por “falta de energia”;

- obras que matam usuários trinta dias após sua inauguração com “aval” dos órgãos competentes” (lembram da ciclovia do RJ em 2016?). 

Família que reside em casa, dentro de seu orçamento, implanta equipamentos de vigilância e procura usá-los de forma correta para que durem o máximo possível. 

Dentro de um aglomerado de moradias, grupos de sessenta a oitocentas pessoas misturam hábitos e culturas diversas. Cada parcela da comunidade tem um valor diferente para as prioridades definidas pela maioria. Alguns dão mais valor a um painel colorido no elevador do que a um portão coberto de arames para dificultar invasões. 

Com tantas divergências e vaidades em conflito dentro de aglomerados humanos (vilas, condomínios, comunidades), chegar a um denominador comum para definir normas que possam deixar a segurança do grupo perto de 90% exige debates demorados e argumentados com lógica. Nada de “achismos”.  

Nosso país não é conhecido por ter um povo preventivo, que planeje seus projetos com cuidado para que sejam elaborados com calma, segurança, facilidade de manutenção e economia. Opta pelo mais barato mesmo suspeitando que o projeto não deve ter longa duração. Pronuncia a frase padrão (nossa):

deixe assim mesmo. Depois a gente dá um jeito”. 

E os maus hábitos (mais de 100) de cada grupo não são corrigidos para dar ênfase à segurança. os mais comuns são: 

- o distraído tranca o carro sem conferir se a porta da garagem ficou aberta;

- o preguiçoso não dá duas voltas na chave do portão;

- o apressado sai do prédio pela manhã e não observa se o portão fechou;

- o “inocente” entra e deixa o rapaz entrar com embrulho para entregar à tia Zuzu no último andar (o entregador de pizza da semana passada deu este nome ao parceiro que agora penetra no prédio);

- o irresponsável conta no facebook que o prédio não tem zelador para anotar

pontos críticos (rachaduras, vazamentos, empenamentos) a serem corrigidos;

- a exibida conta que no Carnaval vai viajar assim como os demais moradores de seu andar; os incautos anotam este detalhe para arrombarem em paz;

- os insatisfeitos não conferem câmeras pois mais da metade delas gera imagens

obscuras pela pouca luminosidade do local e por seu baixo índice de pixels;

- os “espertos” omitem suas ideias por não terem argumentos imediatos;

- cães sem focinheira se estranham nas dependências internas;

- prestadores de serviço possuem oportunidade de fazer cópia de chaves enquanto transitam pela área desacompanhados. 

Além de todas estas adversidades, os bairros não possuem política de união entre os condomínios que podem formar grupos de atuação a cada raio de duzentos metros, mas desperdiçam este potencial.  

Tal espírito de cidadania não é cultivado pelas autoridades que preferem o caos urbano “eterno” que rende boas comissões a mais em suas contas bancárias. 

O povo sem oportunidade de um aprendizado de qualidade de vida (“passa” de ano até tirando zero - lembram do Cesar Maia?), fica feliz por votar (até em condenados pela Justiça) “nos mesmos”, que permanecem no cenário político por quarenta ou cinquenta anos e ainda orientam seus herdeiros a praticarem as mesmas artimanhas para desviarem verbas das áreas sociais, que nunca são equacionadas para eternamente servirem de trampolim nas eleições “compartilhadas” entre as quadrilhas. 

Percebemos uma piora pós-covid das reações humanas, o que torna difícil obter uma fórmula semipronta para superar os atritos fúteis que surgem a qualquer instante em aglomerados humanos e esgarçam as conexões “fraternais” realçadas em belas prosas. Enquanto  isso, problemas sérios ficam em terceiro plano encobertos pela cortina da vaidade que seca as boas relações comunitárias.

Título e Texto: Haroldo P. Barboza – Vila Isabel/RJ – fevereiro 2023  

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