ContraCultura
A aquisição do Twitter por Elon Musk pode ter limitado os avanços fascistas na guerra da informação, na medida em que a liberdade de expressão ganhou uma pequena, mas crucial batalha. No entanto, os esforços de domínio totalitário de largo espectro sobre a realidade digital continuam a ganhar intensidade, como demonstra um novo relatório da Brookings Institution, um ator-chave no complexo industrial da censura.
Resmas e resmas de documentos
internos, conhecidos como os ficheirosTwitter, evidenciaram claramente que a censura dos meios de comunicação
social nos últimos anos foi muito mais ampla e sistemática do que qualquer
teoria da conspiração poderia supor. Pior, os ficheiros expuseram uma
cooperação ativa e profunda – até mesmo em termos de integração operacional –
entre o Twitter e agências governamentais americanas, incluindo o FBI, o
Departamento de Segurança Interna, a CIA, o CDC, e, claro, a Casa Branca.
As agências governamentais
também alistaram uma série de organizações académicas e sem fins lucrativos
para fazer o seu trabalho sujo. O Global Engagement Center,
patrocinado pelo Departamento de Estado, por exemplo, foi inicialmente lançado
para combater o terrorismo internacional, mas está agora vocacionado para
perseguir cidadãos americanos dissidentes.
O Departamento de Estado dos
EUA também financiou uma organização do Reino Unido,
a Global Disinformation Index, que faz uma lista negra de
indivíduos e grupos conservadores e convence os anunciantes a evitá-los.
As agências de segurança interna criaram acrescidamente parcerias para a
Integridade Eleitoral – incluindo o Observatório da Internet de Stanford, o
Centro para a Informação Pública da Universidade de Washington, e o DFRLab do
Conselho do Atlântico – que assinalam para supressão dezenas de milhões de
mensagens postadas pelos utilizadores das redes sociais.
Até antigos altos funcionários do Governo dos EUA entraram em ação – apelando diretamente (e com sucesso) para que o Twitter banisse a dissidência.
Com o colapso total da
credibilidade dos meios de comunicação social corporativa nos últimos 15 anos,
as pessoas em todo o mundo voltaram-se para os fóruns de notícias alternativos,
na web. Quando as redes sociais começaram então a censurar os tópicos mais
prementes, tais como COVID-19, as pessoas procuraram podcasts independentes.
Médicos e analistas que tinham sido suprimidos na imprensa, primeiro, e depois
no Twitter, no Facebook, e no YouTube, veicularam através de podcasts muitas
das melhores análises sobre a ciência e a política pandémicas.
O que nos leva ao novo relatório da Brookings, que conclui que uma das
fontes mais prolíficas de ‘desinformação’ são agora exatamente os podcasts. E
ainda que a sub-regulamentação dos podcasts é um grave perigo. E em certo
sentido, é verdade: é um grave perigo para a integridade das narrativas
oficiais.
Em “Audible reckoning: How top
political podcasters spread unsubstantiated and false claims’, Valerie
Wirtschafter escreve:
“O podcasting oferece uma
via através da qual proliferam as reivindicações infundadas e falsas. Termos
utilizados neste relatório como “falsas alegações”, “alegações enganosas”,
“alegações não substanciadas” ou qualquer combinação das mesmas, são avaliações
pela equipa de investigação das declarações e afirmações subjacentes
fundamentadas na metodologia apresentada a seguir na secção de concepção da
investigação e apêndices. Os dados sugerem que tais afirmações têm desempenhado
um papel vital na formação da opinião pública e do comportamento político.
Apesar destes riscos, o ecossistema do podcasting e o seu papel nos debates
políticos têm recebido pouca atenção por uma variedade de razões, incluindo as
dificuldades técnicas na análise de conteúdos multi-horários, áudio e conceitos
errados sobre o meio.”
Para analisar os milhões de
horas de conteúdo áudio, a Brookings utilizou redes de processamento de
linguagem baseada em inteligência artificial para pesquisar palavras e
frases-chave. Em seguida, cruzou esse volume de informação com sites de
“verificação de factos” como a Politifact e a Snopes – que são tudo menos fiáveis e não passam na verdade de instrumentos de propaganda
regimental – para determinar a verdade ou falsidade das afirmações feitas numa
amostra de podcasts. Em seguida, implementou uma “função de semelhança” para
detectar afirmações falsas noutros podcasts.
O resultado deste trabalho
transformista sobre a realidade foi exatamente o pretendido:
“Os podcasts conservadores
têm 11 vezes mais probabilidades do que os podcasts liberais de partilharem as
afirmações verificadas como falsas ou não substanciadas”.
Um dos programas que a
Brookings classificou incorretamente como “conservador” é o podcast de
ciência Dark Horse, apresentado por Bret Weinstein e Heather
Heying. Nos últimos três anos, eles exploraram meticulosamente toda a
complexidade de assuntos relacionados com a Covid, apresentando percepções
cintilantes e corrigindo, com rigor e humildade, os seus escassos erros ou
lapsos. A Brookings, contudo, determinou que 13,8% das suas emissões continham
informações falsas.
Qual seria a percentagem de
informações falsas sobre a pandemia de um estudo da Brookings, utilizando a
mesma metodologia, mas um conjunto diferente de verificadores de factos,
dedicado à CNN, ao Washington Post, à MSNBC, à Associated Press, às informações
médicas de telejornal e aos comunicadores de ciência dos poderes instituídos,
que se enganaram em quase tudo?
No podcast do jornalista
independente Matt Taibbi, o romancista Walter Kirn criticou este novo esquema de verificação de factos
com base em mecanismos de Inteligência artificial:
“A Brookings transformou a
censura numa matéria estatística, numa disciplina da matemática,
para-constitucional. É tudo treta cientificada e recientificada.”
A cadeia de pretensão
omnisciente, preconceito ideológico, falsos verificadores de factos e precisão pseudocientífica
empregue para chegar a estas conclusões supostamente quantitativas sobre o
vasto, diverso, por vezes volátil mas muitas vezes esclarecedor mundo do áudio
online é já uma séria ameaça à liberdade de expressão e de informação.
E esse colapso da liberdade de
expressão está no fundamento de muitos dos problemas das sociedades atuais, da
descredibilização das ciências médicas à propaganda que conspurca a comunicação
social quando o assunto é a guerra na Ucrânia. A desinformação é um estado
natural da interação humana, como qualquer aluno de teoria da comunicação sabe.
Uma abordagem dialética e aberta ao conhecimento científico, o debate vigoroso,
e a liberdade de inquirição e de pensamento são os instrumentos que sempre
utilizámos para reduzirmos a margem de erro que existirá inevitavelmente no
processamento e na divulgação de informação. A tomada de decisão individual e coletiva
depende da integridade desse processo e não de operações de censura mascaradas
como atividade científica.
Título e Texto: Redação,
ContraCultura,
27-2-2023
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