sábado, 18 de fevereiro de 2023

Uma cerca sanitária em redor do PS

O PSD não sobe nas sondagens porque, desde a saída de Pedro Passos Coelho, abdicou do papel que lhe compete e não faz oposição compatível com a gravidade do momento

Alberto Gonçalves


Largo do Rato, temos um problema: há cidadãos a lucrar com o alojamento local e, em geral, com a exploração das suas propriedades. Claro que o governo decidiu enfrentar o problema, combatê-lo de imediato e erradicá-lo a prazo. Talvez o BE precise da liderança de Mariana – “temos de perder a vergonha de ir buscar dinheiro a quem está a acumular dinheiro” – Mortágua. O PS não precisa. O PS, agora apostado em assaltar casas, está repleto de Mortáguas sob diversos pseudónimos, e a vergonha perdeu-a há muito. O PS é um projeto totalitário vagamente ligado à realidade por gravatas horrendas e as obrigações da “Europa”, que impõem contrapartidas ao envio dos “fundos” com que os camaradas se regalam. Com menos “Europa” e mais um fato de treino, ninguém distinguiria Lisboa de Caracas. É provável que daqui a uma década, logo que o “pacote” para a habitação se traduza, mimoso, em ruínas e abandono, ninguém distinga.

Há sete anos que quem queria perceber percebeu a vontade desta gente em enfiar-nos no caminho que leva à Venezuela. Hoje podemos discutir a rapidez, o conforto e o percurso da viagem: o destino é indiscutível. A “geringonça” foi apenas instrumental no processo. O dr. Costa e os seus matutos não carecem dos partidos assumidamente leninistas para efeitos de inspiração ideológica. Naquelas cabeças, nada deve prosperar à revelia do Estado: tudo deve definhar dentro dele.

O “pacote” de anteontem, que num golpe certeiro condenou negócios, investimentos, contratos e, não sei se repararam, condicionou o único sector (o do turismo) que ainda trazia riqueza de facto, não aconteceu por engano ou acaso. Ao contrário do que sucedia por exemplo com o “eng.” Sócrates, não estamos a falar de meros pantomineiros sem escrúpulos: estamos a falar de fanáticos, tão iluminados por devoções coletivistas quanto empenhados na miséria coletiva. Se a miséria, que alastra a cada dia, não é o objetivo, é no mínimo o resultado inevitável de um vasto plano de controlo, saque e subjugação. No imobiliário e no resto, mesmo embrulhadas no linguajar “técnico” de bestuntos, as palavras não disfarçam os propósitos: proibir, punir, forçar, cobrar, ocupar, confiscar, roubar enfim os nossos bens e a nossa liberdade, que eles acham pertencer-lhes. Vamos continuar a dar-lhes razão?

Receio que sim. Em teoria, o regime continua a permitir alternativas. Na prática, não se nota. O debate alusivo aos partidos que não partilham de uma visão marxista da sociedade esgota-se, por submissão à infantil estratégia do PS, na questão do Chega. Para inúmeros especialistas, alguns respeitáveis, o importante é o PSD seguir o exemplo da IL e deixar claro que nunca se aliará ao Chega em qualquer circunstância. O importante é assegurar que o Chega nunca influenciará o poder. O importante é erguer em redor do Chega linhas vermelhas, cercas sanitárias e muros de betão com arame farpado em cima. Lamento informar os especialistas de que estão errados.

Por ironia, estão pertíssimo de estar corretos. Bastaria substituir “Chega” por “PS”. Caso não tenham percebido, é o PS, e não o Chega, o responsável pela catastrófica situação do país. Num regime representativo banal, os partidos civilizados estariam ocupados a denunciar a catástrofe, a defender a parte da população que já a sofre e a avisar a parte que depressa virá a sofrê-la. A “direita” indígena tem de compreender que o inimigo é o PS, com ou sem os penduricalhos comunistas, com ou sem o apoio do cavalheiro que reside em Belém e numa praia perto de si. A “direita” tem de decidir se se quer livrar da loucura vigente ou teimar em declarações de virtude. A “direita” tem de existir e dedicar ao governo as linhas, as cercas, os muros e a repulsa que os sujeitos de alma pura dedicam ao dr. Ventura. O governo, que intercala exibições de corrupção com a guerra aberta à propriedade privada, merece a repulsa: no célebre “arco democrático” não cabem nostálgicos do PREC.

Há por aí uma insuportável conversa, a de que o PSD não sobe nas sondagens porque hesita em recusar o Chega. É conversa, para cúmulo iniciada e alimentada pelo PS. O PSD não sobe nas sondagens porque, desde a saída de Pedro Passos Coelho, abdicou do papel que lhe compete e não faz oposição compatível com a gravidade do momento. O Chega, que embora errático às vezes produz qualquer coisa semelhante a um protesto, sobe nas sondagens. E a IL, com um pé na lucidez económica e outro na adolescência política, tem dias.

Desculpem lá a pompa, mas Portugal não possui arcaboiço para aguentar mais. A proclamação de princípios bonitos é irresponsável quando o fim se afigura próximo. Os entendimentos ou os desentendimentos entre o PSD, o Chega e a IL não interessam: interessante, e urgente, era todos entenderem que, no que depender do PS, isto está a um pedacinho assim de rebentar, com estrondo ou num sussurro. Convinha que isto não rebentasse. Convinha que isto não dependesse do PS. Convinha que houvesse vida inteligente. Convinha que houvesse vida.

Título e Texto: Alberto Gonçalves, Observador, 18-2-2023 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-