quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

[Daqui e Dali] Polémica em Lisboa sobre o valor de um altar

Humberto Pinho da Silva

Levantou-se recentemente grande polémica em Lisboa, que ecoou com indignação pelo país. O motivo foi o preço da construção do altar onde Sua Santidade, o Papa Francisco, presidirá às cerimónias da JMJ.

A construção rondava cinco milhões de euros! Digo, rondava, porque já foi reduzida a quase metade.

Acrescente-se ainda que a despesa para a realização do evento, sobe a dezenas de milhões, mesmo com a redução drástica, que se fez atualmente!

Os católicos, ao tomarem conhecimento da colossal despesa, dividiram-se; e os não crentes, aproveitaram a ocasião para criticarem a Igreja.

Uns lembram com razão: que o país é pobre. A miséria alastra, devido à Covid e à guerra que explodiu à porta da Europa Ocidental; acrescentam ainda que grande franja da classe média já se inclui no limiar da pobreza, principalmente as famílias que vivem com um só salário ou pensão.

Argumentam outros, igualmente com razão: que nem sempre teremos, entre nós, o Papa; o dinheiro empregado terá retorno certo, e as estruturas servirão para outros eventos; a JMJ atrairá jovens de todo o mundo, e com eles, jornalistas e sacerdotes, que gastarão muito dinheiro, e além disso, será um bom investimento turístico.

Pode ser que seja assim. Mas será bom recordar, que o mesmo se dizia ao construírem-se os Estádios de Futebol, ao levantarem a Expo 98, até o Centro Cultural de Belém; mas, terminando os eventos, a população, em geral, ficou tão pobre como era.

Quem me lê, diga com sinceridade:

Ficaram a viver mais desafogados? Subiram os salários? As pensões e o bem-estar do povo após esses eventos? Não creio.

Todos sabemos que o Estado não tem condições de pagar a totalidade que é devido ao professorado, nem aos reformados, e muito menos pagar salários e pensões a nível europeu; por isso é difícil compreender como pode despender milhões para atividades religiosas.

Será que o Papa irá concordar com tanto luxo? Creio que não. Se bem conheço Sua Santidade. Não é verdade que adotou o nome de Francisco? Não se preocupa com os necessitados de Roma e de todo mundo? Não é Ele homem simples, como Jesus?

Além disso os que vêm a Lisboa serão todos crentes ou alguns meros turistas? Meio fácil de viajar a preços módicos?

Concluindo: recorde-se a visita do Santo Arcebispo de Braga ao Concílio de Trento, onde teve oportunidade de conviver com Sua Santidade. E de lhe criticar as colossais despesas:

Visitando o jardim Belveder, o Papa (Paulo III) [imagem] mostrou-lhe o que pretendia construir. Então sugeriu-lhe:

Quadro de Ticiano

"Por que não faz lá na sua Braga uns paços como aquele?"

"Santíssimo Padre – respondeu-lhe o Arcebispo – não é de minha condição ocupar-me em edifício que o tempo gasta.”

“Pois o que vos parece desta minha obra?”

"O que me parece Santíssimo Padre, é que não devia curar Vossa Santidade de fabricar, que cedo ou tarde, hão de acabar. E o que digo delas é que, de tudo isto, pouco e muito pouco e nada, e do edifício temporal das Igrejas seja mais do que se faz; mas no espiritual, aí sim, que é razão ponha Vossa Santidade toda a força e meta todo o cabedal dos seus poderes."

A que o Papa respondeu:

"Não fui autor dela, que não sou amigo de gastar dinheiro em vaidades; achei-a começada, folgarei de a acabar."

In Vida de Fr. Bartolomeu dos Mártires, por Frei Luís de Sousa. 

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, fevereiro de 2023

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