Ana Caroline Campagnolo
É inevitável não notar a aversão do movimento feminista à fé cristã e, como demonstrei, assim tem procedido desde os primeiros textos feministas, desde suas primeiras líderes. Quando o escritor católico Patricio Randle observou a existência de “preferências negativas capazes de demolir as bases da sociedade”, ele parecia falar com propriedade do politicamente correto propagado por movimentos revolucionários.
Joseph Ratzinger [foto], quando cardeal, declarou que o feminismo era uma das maiores ameaças à Igreja. Alice M. von Hildebrand, teóloga e filósofa, escreveu que a origem do movimento feminista é a falta de fé e a perda do sentido do transcendente e do sobrenatural.
Vivemos num mundo tão profundamente
mergulhado no secularismo, que muitos de nós sequer têm noção de que somos
influenciados por essa desastrosa ideologia. Há inclusive alguns cristãos
devotos e fiéis que se sentiriam ofendidos de estarem manchados pelo espírito
dos tempos (ou Zeitgeist) e, contudo, em certas situações concretas,
suas atitudes denunciam que a fumaça do secularismo já penetrou os pulmões de
seus espíritos e, subindo até o cérebro, tingiu seus juízos.
Dentro de um projeto, muito
maior que o movimento de mulheres revolucionárias – a respeito do qual até se
poderia dizer que o lugar do feminismo desempenha um papel temporário, à beira
da obsolescência –, pode-se apontar um alvo principal: a cultura ocidental,
alicerçada no cristianismo e que preza pelo metafísico. Para apresentar
sumariamente esse conjunto de valores, costuma-se recorrer ao tripé: a moral
judaico-cristã, a filosofia grega e o direito romano.
O russo Pitirim Sorokin
analisou, em quatro1 de suas
obras, um processo de substituição ou “modificação básica” de valores que está
em andamento no Ocidente desde o século XVI. Aponta ele que a modificação
comportamental começou com a substituição dos valores religiosos medievais por
valores seculares, baseados na “sensatez”, tendendo mais a legitimar os erros
do que esclarecê-los. Há mais de sessenta anos, Sorokin escreveu que:
No atual estado de desintegração, os valores sensatos tendem a aprovar potencialmente uma liberdade sexual sem peias e recomendam a mais completa satisfação possível do amor sexual em todas as suas formas. Esta mudança básica de fatores psicossociais tem se manifestado na reavaliação dos padrões anteriores pelos homens e mulheres americanos (e ocidentais).
O protestante e professor de
Teologia no Southeastern Baptist Theological Seminary em Wake Forest, Andreas
Köstenberger, disserta sobre o mesmo tema. Ele publicou um exaustivo estudo
sobre Deus, casamento e família. Sinalizou com propriedade que esse
esmorecimento de princípios e valores é consequência de uma crise espiritual
resultante do abandono dos preceitos cristãos:
Pela primeira vez em sua história, a
civilização ocidental é confrontada com a necessidade de definir o significado
dos termos “casamento” e “família” […] a crise cultural do momento, no entanto,
é meramente sintoma de uma crise espiritual profunda que continua a corroer os
fundamentos de nossos valores sociais antigamente comuns.
O filósofo e sacerdote
católico Bonnewijn também observou que o movimento feminista ligado à ideologia
de gênero tem três principais alvos que ambiciona subverter: a linguagem,
a família e a maternidade.
Todos os três são caros ao cristianismo. O Prof. Dr. Domenico Sturiale confirma
essa estratégia:
Aplicada a arranjos familiares
emergentes nas sociedades ocidentais, essa lógica subversiva [do gênero]
implode o conceito tradicional de família: a proliferação de novos arranjos
familiares reconhecidos pela sociedade civil acarreta a negação da família
tradicional como tal.
Se o número de modelos familiares se
amplia em função do desejo e do livre-arbítrio de cada um, o termo família não
tem mais qualquer aplicação genérica: a família se tornaria, assim, um
constructo absolutamente arbitrário e discricionário a tal ponto de não poder
mais operar como generalização descritiva, apta a referenciar algo definido e
compreensível. Em outras palavras, se tudo é família, nada é família.
Não se trata apenas de uma
impressão dos cristãos sobre como o movimento feminista pode ser ameaçador para
a fé e a moral; as feministas, de fato, verbalizam seu desprezo pela cultura
ocidental baseada no cristianismo. Simone de Beauvoir acreditava que a Bíblia,
ou o que comumente se chamava de “ideologia cristã”, tinha grande
responsabilidade pela situação opressiva em que as mulheres se encontravam.
Outra feminista conhecida em
todo o mundo, Gloria Steinem, confessou esperar que todo teísmo fosse extinto.
Ela disse: “Até o ano 2000 vamos, espero eu, criar nossos filhos a acreditar no
potencial humano, não em Deus”.
Mais recentemente, Annie
Laurie Gaylor, feminista americana, declarou: “vamos esquecer o mítico Jesus e
olhar para o incentivo, consolo e inspiração de mulheres reais. Dois mil anos
de domínio patriarcal sob a sombra da cruz deveriam ser suficientes para
transformar as mulheres na salvação feminista do mundo”.
Como se vê, incontáveis
escritores, pesquisadores e teóricos podem ser citados para confirmar esse
fenômeno: um movimento político e ideológico, essencialmente anticristão, busca
cooptar especialmente as mulheres para a consolidação de uma revolução sexual.
Esse movimento é o feminismo do mais moderado ao mais radical, do mais sutil ao
mais aberrante, do liberal ao socialista.
1 A Revolução Sexual americana, Dinâmica
social e cultural, A crise do nosso tempo e Reconstrução da humanidade.
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