quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

O ódio ao cristianismo e a reação contra o totalitarismo feminista

Ana Caroline Campagnolo

É inevitável não notar a aversão do movimento feminista à fé cristã e, como demonstrei, assim tem procedido desde os primeiros textos feministas, desde suas primeiras líderes. Quando o escritor católico Patricio Randle observou a existência de “preferências negativas capazes de demolir as bases da sociedade”, ele parecia falar com propriedade do politicamente correto propagado por movimentos revolucionários.

Joseph Ratzinger [foto], quando cardeal, declarou que o feminismo era uma das maiores ameaças à Igreja. Alice M. von Hildebrand, teóloga e filósofa, escreveu que a origem do movimento feminista é a falta de fé e a perda do sentido do transcendente e do sobrenatural.

Vivemos num mundo tão profundamente mergulhado no secularismo, que muitos de nós sequer têm noção de que somos influenciados por essa desastrosa ideologia. Há inclusive alguns cristãos devotos e fiéis que se sentiriam ofendidos de estarem manchados pelo espírito dos tempos (ou Zeitgeist) e, contudo, em certas situações concretas, suas atitudes denunciam que a fumaça do secularismo já penetrou os pulmões de seus espíritos e, subindo até o cérebro, tingiu seus juízos.

Dentro de um projeto, muito maior que o movimento de mulheres revolucionárias – a respeito do qual até se poderia dizer que o lugar do feminismo desempenha um papel temporário, à beira da obsolescência –, pode-se apontar um alvo principal: a cultura ocidental, alicerçada no cristianismo e que preza pelo metafísico. Para apresentar sumariamente esse conjunto de valores, costuma-se recorrer ao tripé: a moral judaico-cristã, a filosofia grega e o direito romano.

O russo Pitirim Sorokin analisou, em quatro1 de suas obras, um processo de substituição ou “modificação básica” de valores que está em andamento no Ocidente desde o século XVI. Aponta ele que a modificação comportamental começou com a substituição dos valores religiosos medievais por valores seculares, baseados na “sensatez”, tendendo mais a legitimar os erros do que esclarecê-los. Há mais de sessenta anos, Sorokin escreveu que:

No atual estado de desintegração, os valores sensatos tendem a aprovar potencialmente uma liberdade sexual sem peias e recomendam a mais completa satisfação possível do amor sexual em todas as suas formas. Esta mudança básica de fatores psicossociais tem se manifestado na reavaliação dos padrões anteriores pelos homens e mulheres americanos (e ocidentais).

O protestante e professor de Teologia no Southeastern Baptist Theological Seminary em Wake Forest, Andreas Köstenberger, disserta sobre o mesmo tema. Ele publicou um exaustivo estudo sobre Deus, casamento e família. Sinalizou com propriedade que esse esmorecimento de princípios e valores é consequência de uma crise espiritual resultante do abandono dos preceitos cristãos:

Pela primeira vez em sua história, a civilização ocidental é confrontada com a necessidade de definir o significado dos termos “casamento” e “família” […] a crise cultural do momento, no entanto, é meramente sintoma de uma crise espiritual profunda que continua a corroer os fundamentos de nossos valores sociais antigamente comuns.

O filósofo e sacerdote católico Bonnewijn também observou que o movimento feminista ligado à ideologia de gênero tem três principais alvos que ambiciona subverter: a linguagem, a família  e a maternidade. Todos os três são caros ao cristianismo. O Prof. Dr. Domenico Sturiale confirma essa estratégia:

Aplicada a arranjos familiares emergentes nas sociedades ocidentais, essa lógica subversiva [do gênero] implode o conceito tradicional de família: a proliferação de novos arranjos familiares reconhecidos pela sociedade civil acarreta a negação da família tradicional como tal.

Se o número de modelos familiares se amplia em função do desejo e do livre-arbítrio de cada um, o termo família não tem mais qualquer aplicação genérica: a família se tornaria, assim, um constructo absolutamente arbitrário e discricionário a tal ponto de não poder mais operar como generalização descritiva, apta a referenciar algo definido e compreensível. Em outras palavras, se tudo é família, nada é família.

Não se trata apenas de uma impressão dos cristãos sobre como o movimento feminista pode ser ameaçador para a fé e a moral; as feministas, de fato, verbalizam seu desprezo pela cultura ocidental baseada no cristianismo. Simone de Beauvoir acreditava que a Bíblia, ou o que comumente se chamava de “ideologia cristã”, tinha grande responsabilidade pela situação opressiva em que as mulheres se encontravam.

Outra feminista conhecida em todo o mundo, Gloria Steinem, confessou esperar que todo teísmo fosse extinto. Ela disse: “Até o ano 2000 vamos, espero eu, criar nossos filhos a acreditar no potencial humano, não em Deus”.

Mais recentemente, Annie Laurie Gaylor, feminista americana, declarou: “vamos esquecer o mítico Jesus e olhar para o incentivo, consolo e inspiração de mulheres reais. Dois mil anos de domínio patriarcal sob a sombra da cruz deveriam ser suficientes para transformar as mulheres na salvação feminista do mundo”.

Como se vê, incontáveis escritores, pesquisadores e teóricos podem ser citados para confirmar esse fenômeno: um movimento político e ideológico, essencialmente anticristão, busca cooptar especialmente as mulheres para a consolidação de uma revolução sexual. Esse movimento é o feminismo do mais moderado ao mais radical, do mais sutil ao mais aberrante, do liberal ao socialista.

1 A Revolução Sexual americana, Dinâmica social e cultural, A crise do nosso tempo e Reconstrução da humanidade.

Título e Texto: Ana Caroline Campagnolo, in “Feminismo: perversão e subversão”, VIDE Editorial, 2019, páginas 297/300
Digitação: JP, 16-2-2023

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