Ana Caroline Campagnolo
Depois de muitos direitos
definidos – como o voto e propriedade – teve início uma nova fase de
reivindicações. O final da primeira onda e início da segunda se destaca pela
atuação de Sanger, eugenista responsável pela criação da clínica de aborto que
viria a se tornar a Planned Parenthood.
Ainda em 1920, as discussões
acerca da contracepção e do aborto começam a ganhar corpo e
apontam para o que será a marca da segunda onda do movimento feminista, datada
de 1960: a reprodução feminina dos vícios masculinos. Comumente se dizia que os
homens eram promíscuos, tendiam à vida libertina e à irresponsabilidade com os
próprios filhos. Também sempre foram descritos como afetivamente desapegados e
socialmente violentos.
Por alguma razão, as mulheres
começaram a querer trocar suas virtudes mais famosas pelos piores defeitos
masculinos; estava aberta a temporada de sexo irresponsável e abandono dos
filhos.
O papel da mulher como mãe e esposa começa a ser contestado por feministas como Simone de Beauvoir e Betty Friedan, que propõem uma mulher livre do controle marital e religioso e propagam a liberdade sexual. Na mesma década do lançamento do anticoncepcional, como amante de Jean-Paul Sartre, a socialista e autora do livro seminal da segunda onda, Simone, leva uma vida licenciosa e irresponsável.
O feminismo radical norte-americano se desenvolveu entre 1967 e 1975 e partiu
de um projeto comum. As duas obras fundamentais da “radicalização” foram Política
sexual e Dialética do sexo.
O
objetivo definitivo da revolução feminista deve ser […] não apenas acabar com o
privilégio masculino, mas também com a distinção entre os sexos, assim como o
objetivo final da revolução socialista não era apenas acabar com os privilégios
da classe econômica, mas também com a própria distinção que existia entre as
diferentes classes econômicas. 1
O movimento revela sua essência e faceta mais extremista através das obras das radicais Valerie Solanas (1936-1988) e Shulamith Firestone (1945-2012). Juntas, defendem sem constrangimento uma nova política sexual para o ocidente, tema direto do livro de Kate Millett (1934-).
Mais recentemente, as
escritoras Amy Richards (1979-) e Jennifer Baumgardner (1970-), ativistas
feministas e autoras de Young Women, Feminism and the Future, tentaram
resumir e definir os interesses do movimento feminista em uma única frase: “O
feminismo busca as leis do divórcio sem culpa, busca o direito ao aborto,
rejeita Deus enquanto pai, busca a aceitação da sexualidade feminina e tem um
compromisso com o trabalhador”.
O advogado e pastor
pentecostal americano Pat Robertson, ao ouvir a definição das meninas, a
traduziu2
para termos mais práticos: “As feministas querem que as mulheres deixem seus
maridos, matem seus filhos, pratiquem bruxaria, tornem-se lésbicas e destruam o
capitalismo”. A tradução de Robertson pode parecer caricata, mas classifica
ponto por ponto o trabalho das militantes da segunda onda.
Tudo isso para quê? Para
chegarmos a um estágio de mundo pós-sexual. Esse objetivo, por sua vez, precisa
da ideologia de gênero para ser completado, para promover o desaparecimento da
categoria filosófica do sexo, de masculino e feminino.
Os
sistemas dominantes e dominadores estabelecidos pelos heterossexuais são
artificiais. Eles devem ser desconstruídos, a começar pelo da família
tradicional baseada num fato simplesmente biológico: a diferença dos sexos. 3
(…) O psicólogo que ajudou a
plantar a semente da ideologia de gênero já nunciava que “essas forças, e
outras ianda mais sutis, estão nos obrigando a uma reavaliação radical do que
significa ser homem ou mulher” e completava: “Estamos vivendo uma revolução
sexual e ela está mudando as nossas vidas”. 4
2 Mcculley, 2017, p. 87
3 Bonnewijn, Gender, quem é tu?, p. 64
4 Money & Tucker, 1981, p. 11
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