sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

O saldo da Segunda Onda

Ana Caroline Campagnolo

Depois de muitos direitos definidos – como o voto e propriedade – teve início uma nova fase de reivindicações. O final da primeira onda e início da segunda se destaca pela atuação de Sanger, eugenista responsável pela criação da clínica de aborto que viria a se tornar a Planned Parenthood.

Ainda em 1920, as discussões acerca da contracepção e do aborto começam a ganhar corpo e apontam para o que será a marca da segunda onda do movimento feminista, datada de 1960: a reprodução feminina dos vícios masculinos. Comumente se dizia que os homens eram promíscuos, tendiam à vida libertina e à irresponsabilidade com os próprios filhos. Também sempre foram descritos como afetivamente desapegados e socialmente violentos.

Por alguma razão, as mulheres começaram a querer trocar suas virtudes mais famosas pelos piores defeitos masculinos; estava aberta a temporada de sexo irresponsável e abandono dos filhos.

O papel da mulher como mãe e esposa começa a ser contestado por feministas como Simone de Beauvoir e Betty Friedan, que propõem uma mulher livre do controle marital e religioso e propagam a liberdade sexual. Na mesma década do lançamento do anticoncepcional, como amante de Jean-Paul Sartre, a socialista e autora do livro seminal da segunda onda, Simone, leva uma vida licenciosa e irresponsável.

O feminismo radical norte-americano se desenvolveu entre 1967 e 1975 e partiu de um projeto comum. As duas obras fundamentais da “radicalização” foram Política sexual e Dialética do sexo.

O objetivo definitivo da revolução feminista deve ser […] não apenas acabar com o privilégio masculino, mas também com a distinção entre os sexos, assim como o objetivo final da revolução socialista não era apenas acabar com os privilégios da classe econômica, mas também com a própria distinção que existia entre as diferentes classes econômicas. 1

O movimento revela sua essência e faceta mais extremista através das obras das radicais Valerie Solanas (1936-1988) e Shulamith Firestone (1945-2012). Juntas, defendem sem constrangimento uma nova política sexual para o ocidente, tema direto do livro de Kate Millett (1934-).

Mais recentemente, as escritoras Amy Richards (1979-) e Jennifer Baumgardner (1970-), ativistas feministas e autoras de Young Women, Feminism and the Future, tentaram resumir e definir os interesses do movimento feminista em uma única frase: “O feminismo busca as leis do divórcio sem culpa, busca o direito ao aborto, rejeita Deus enquanto pai, busca a aceitação da sexualidade feminina e tem um compromisso com o trabalhador”.

O advogado e pastor pentecostal americano Pat Robertson, ao ouvir a definição das meninas, a traduziu2 para termos mais práticos: “As feministas querem que as mulheres deixem seus maridos, matem seus filhos, pratiquem bruxaria, tornem-se lésbicas e destruam o capitalismo”. A tradução de Robertson pode parecer caricata, mas classifica ponto por ponto o trabalho das militantes da segunda onda.

Tudo isso para quê? Para chegarmos a um estágio de mundo pós-sexual. Esse objetivo, por sua vez, precisa da ideologia de gênero para ser completado, para promover o desaparecimento da categoria filosófica do sexo, de masculino e feminino.

Os sistemas dominantes e dominadores estabelecidos pelos heterossexuais são artificiais. Eles devem ser desconstruídos, a começar pelo da família tradicional baseada num fato simplesmente biológico: a diferença dos sexos. 3

(…) O psicólogo que ajudou a plantar a semente da ideologia de gênero já nunciava que “essas forças, e outras ianda mais sutis, estão nos obrigando a uma reavaliação radical do que significa ser homem ou mulher” e completava: “Estamos vivendo uma revolução sexual e ela está mudando as nossas vidas”. 4

1 Shulamith Firestone, The Dialectic of Sex. New York: Bantan Boooks, 1970, p. 72.
2 Mcculley, 2017, p. 87
3 Bonnewijn, Gender, quem é tu?, p. 64
4 Money & Tucker, 1981, p. 11

Título e Texto: Ana Caroline Campagnolo, in “Feminismo: perversão e subversão”, VIDE Editorial, 2019, páginas 224/226 
Digitação: JP, 10-2-2023

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