Jornalista afirma que a mídia tradicional se distanciou dos fatos
Cristyan Costa
Há mais de 50 anos no jornalismo, Alexandre Garcia [foto] é uma das poucas vozes na mídia que discorrem com lucidez sobre diversos assuntos. Ao longo de sua trajetória, o gaúcho de Cachoeira do Sul foi repórter, radialista, porta-voz da Presidência e chegou ao cargo de diretor de jornalismo da Globo de Brasília.
Ao deixar a Globo, em 2018,
passou a fazer comentários no quadro Liberdade de Opinião, da CNN
Brasil, em 2020. Deixou a emissora dois anos depois, após ser censurado por
opiniões a respeito do tratamento precoce contra a covid-19. Atualmente,
escreve para o jornal Gazeta do Povo, tem um canal no YouTube e é
comentarista da Jovem Pan. A Oeste, Garcia discorreu sobre o fim do
consórcio de imprensa, o jornalismo e os caminhos da profissão.
A seguir, os principais
trechos da entrevista.
1 — O que é jornalismo para
você?
Há mais de 50 anos na
profissão, aprendi que o jornalista tem de ser escravo dos fatos. O comunicador
é apenas o intermediário entre a plataforma, seja ela impressa ou audiovisual,
e o público. O que se tem hoje é uma mídia tradicional muito opinativa e
jornalistas se achando os donos da verdade. As redações estão povoadas de
militantes. A culpa não é totalmente dessas pessoas, mas também dos professores
universitários. A faculdade de hoje forma o aluno para ser um militante, com o
objetivo de conquistar corações e mentes. Lembro-me de uma palestra que dei na
Universidade de Brasília, onde citei dois elementos essenciais na profissão:
isenção e imparcialidade. Indignado, um professor se levantou da cadeira e
protestou ao dizer que ensina os seus estudantes a serem militantes ideológicos
de modo a combater o “status quo opressor”.
2 — Qual a sua avaliação
sobre o consórcio de imprensa e por que ele acabou?
Não dei a menor importância para o consórcio de imprensa desde que ele foi criado. Não merecia a confiança de ninguém. Supostamente fazia jornalismo independente. A razão do pool ter acabado é simples: o governo anterior caiu. Cumpriram a missão, da mesma forma que a Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19. Durante o governo Bolsonaro, a velha imprensa levou absolutamente a sério a frase do escritor Millôr Fernandes: jornalismo é oposição; o resto é armazém de secos e molhados. Até mesmo a cobertura sobre a pandemia foi deturpada, cheia de preconceitos e verdades prontas.
3 — Com o fim do consórcio,
vai ter mudanças na linha editorial dos veículos de comunicação?
Vai continuar a mesma coisa,
por falta de percepção da realidade. No meu grupo de amigos, apenas eu sou
jornalista. Se eu conversar apenas com gente da minha profissão, vou me
autoalimentar das mesmas opiniões e crenças. Os jornalistas precisam escutar as
pessoas que estão na rua, em vez de ficar fechados na redação. Só virando essa
chave é que vamos conseguir mudar a linha editorial. Esse é o motivo pelo qual
a tiragem dos jornais e a audiência das TVs e rádios estão em queda. A rede
social mudou a forma de se comunicar. Ela aproximou o emissor do receptor. A
nossa imprensa vive o oposto disso.
4 — A imprensa estrangeira
é melhor que a nossa?
É muito parecida, até porque
nossa mídia tem espírito colonialista e copia tudo dos norte-americanos. Até os
termos, os preconceitos e o politicamente correto são repetidos. Isso é
carência de criatividade.
5 — Há alguma solução para
os problemas da nossa mídia tradicional?
Estou pessimista quanto a
soluções, porque o problema começa na faculdade, e dificilmente vamos conseguir
mudar a cabeça de um professor. Trata-se de um problema sério que vai do ensino
superior ao básico. Será um grande desafio obter êxito nisso, porque os
professores de agora têm cada vez menos cultura. A origem disso está lá atrás,
quando os seguidores de Antônio Gramsci aqui no Brasil estavam com pressa de
tomar o poder. Atualmente, esse processo está mais avançado e alcança outras esferas.
Desde cedo, já fazem a cabecinha das crianças nas escolas. É uma coisa
assustadora e escabrosa.
Cristyan Costa, Revista Oeste, 11-2-2023, 9h
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