quinta-feira, 6 de abril de 2023

Plebeia do Mar: Copa, de lixão a Woodstock Baixa Renda, o drama da mais turística praia do país

Desordem avança pelo bairro enquanto o subprefeito posa de gari de colete nas redes sociais; para moradores, "em Copacabana, o Prefeito ainda é Marcelo Crivella"

Amanda Raiter

Enquanto o subprefeito da Zona Sul, Flávio Valle, aparece nas redes sociais limpando bueiros ou melhorando o Leblon na tentativa de que o bairro queridinho da elite pareça com o representado na novela do Manoel Carlos, o lendário calçadão de Copacabana acumula uma profunda e crescente desordem de camelôs e moradores de rua; a mendicância corre solta, junto com a venda de produtos falsificados e um sem-número de quinquilharias, além de bebidas de qualidade duvidosa. Vendedores de cangas e artesanatos, assim como produtos contrafeitos acabam resumindo o calçadão a uns poucos metros pelos quais temos que nos embrenhar pra não ter que dar de cara com os camelôs, mendigos e bêbados.

Durante a caminhada feita pra executar esta reportagem, um senhor visivelmente embriagado, magro, vomitava pelo chão, enquanto rolava de dor pelo calçadão. “Ele está aqui todo dia. Vomita e urina no chão, e dorme na porta dos quiosques todos os dias”, afirmou uma garçonete de um quiosque, que preferiu não se identificar, e completou: “conhecemos eles pelos apelidos. Tem um outro, que o apelido é papai. Ele carrega um balde e quando sente necessidades fisiológicas, abaixa as calças e defeca no balde que carrega“.

O camelódromo a céu aberto no ponto turístico mais importante da cidade ocorre até à noite e, em frente à Praça do Lido, embaixo das amendoeiras, na areia mesmo, se forma uma mini favela com vários mendigos ao estilo “Woodstock Baixa Renda”, com direito a um colchão de casal bem no meio da rua, no melhor estilo Cracolândia. “Em Copacabana, o prefeito ainda é o Marcelo Crivella. Todo o caos que ele trouxe pra cidade, por aqui, continua na mesma“, disse à reportagem Alcina Pereira, que disse ser subsíndica de um prédio na região.

Praia de Copacabana já foi eleita a melhor praia para as férias do mundo e ficou na frente de Miami Beach. Segundo a pesquisa realizada em 2021, o bairro conta com mais de 11 mil restaurantes e bares próximo à orla, o que garantiu a boa pontuação no ranking da Bounce, empresa multinacional especialista em viagens. Além disso, os hotéis mais caros da cidade ficam na orla da princesinha do Mar, que atualmente brinda os turistas com o que o carioca acostumou-se a chamar de “rio de nojeira“.

Ainda na Princesinha do Mar, um idoso, que não se identificou por medo, diz Rua Aires Saldanha virou um shopping do lixo com a aglomeração de catadores na esquina com a Xavier da Silveira; algo semelhante ao Centro de Reciclagem a Céu aberto que funcionou na rua Dias da Rocha, e depois mudou-se para a frente do empreendimento da Bait, na Avenida Atlântica. Segundo a testemunha, um morador de rua aproveita a frente de duas lojas fechadas para expor o lixo e impede a circulação de pessoas por toda a calçada em plena luz do dia. No período noturno, o local vira point do tráfico de drogas; pela manhã, cedo, o bairro é invadido por Kombis caindo aos pedaços com alto-falantes que anunciam, aos berros, que compram ferros e metais: são os receptadores do que é furtado na noite anterior.

Em nota, a Subprefeitura da Zona Sul informou que a Secretaria de Ordem Pública faz apreensões diariamente na praia de Copacabana. O órgão ainda completa que, todas as noites, realiza operações de acolhimento de “pessoas em situação de rua“, que, lembrando, não pode ser compulsório devido a um Termo de Ajuste de Conduta firmado pelo Ministério Público com o município.

Título, Foto e Texto: Amanda Raiter, Diário do Rio, 5-4-2023

Um comentário:

  1. Copacabana, capital da Mendicância
    Qual a razão de Copacabana ter virado a capital brasileira dos mendigos? Parece que todos estão convergindo para o bairro, como se houvesse um grande chamariz na Princesinha do Mar.

    Talvez a dica fosse não dar esmola, quentinhas… lembrando, de boas intenções está pavimentada a estrada para o inferno, e para a desordem da cidade.
    Quintino Gomes Freire, Diário do Rio, 11-4-2023

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