OS CORDÕES DA INTELIGÊNCIA
VENEZUELANA SÃO MANEJADOS EM HAVANA
Francisco Vianna
O general venezuelano
encarregado pelo governo para elaborar um plano de segurança a ser posto em
prática durante a reunião de cúpula presidencial da CELAC, que se realizou em
Caracas em dezembro do ano passado, tinha trabalhado minuciosamente na sua
elaboração e o resultado, para ele circunscrevia diferentes áreas de proteção que
envolviam a participação de centenas de militares e policiais que deveriam
resguardar os presidentes, chefes de estado e ministros dos 33 países membros.
“Não, nada disso! Foi tudo o que disse o
militar cubano antes de jogar o plano do general no lixo”, disse um oficial
venezuelano que falou sob a condição de anonimato. “E quando nos demos conta
disso, vimos que as três primeiras áreas circunscritas de segurança eram
cubanas”.
Assim, ficou claro para os
militares venezuelanos que o coronel Alcides e mais um punhado de agentes
cubanos de alto escalão são quem ditam a pauta em matéria de segurança no país
petroleiro, distribuindo ordens aos oficiais venezuelanos como se fossem seus
superiores hierárquicos e controlando todas as manivelas e botões da repressão
interna no país.
Conforme o testemunho de
oficiais venezuelanos, os agentes castristas há já algum tempo deixaram de ser
simples assessores para exercer hoje um papel de mando indiscutível no
resguardo da “Revolução Bolivariana” – que não é mais venezuelana, mas cubana –
encarregando-se de tarefas que vão desde a concepção de doutrinas a serem
seguidas e esquemas operacionais até a construção e prática de estratégias para
espionar e desarticular os adversários.
Segundo os oficiais declarantes, o
pessoal da inteligência cubana exerce um papel muito ativo na monitoração dos
diferentes setores do país e em particular dos dirigentes políticos
considerados como adversos ao processo revolucionário comunista em meio à crise
de legitimidade que enfrenta o governo de Nicolás Maduro e que divide profundamente
o povo. Interesse especial recai sobre o setor militar, onde dezenas de
oficiais têm sido presos e interrogados nos últimos dias sob a suspeita de
conspiração e deslealdade ao novo líder da Revolução Bolivariana.
Funcionários de segurança cubanos,
com ampla experiência em operações de “controle social”, levam tempo
assessorando o governo bolivariano a pedido do falecido presidente Hugo Chávez,
que em seus últimos anos de governo demonstrou ter mais confiança no pessoal
cubano do que em seus próprios compatriotas.
A ingerência cubana ficou
registrada em vários dos informes do Departamento de Estado americano e da agência
de inteligência privada Stratfor filtrados pela WikiLeaks, que descrevem a
grande dependência de Chávez dos agentes da ilha-cárcere dos Castros e como
Havana faz uso de sua influência para assegurar cada vez mais sua posição de
mando na Venezuela. Segundo esses cabogramas, agentes cubanos tinham acesso
direto a Chávez e desempenham um papel fundamental para a manutenção do seu
regime, informando-o constantemente sobre os movimentos da oposição, os
cochichos nos quartéis e qualquer sinal de potencial traição ou inconformidade
dentro das fileiras chavezistas.
Um ex-comissário do Serviço
Bolivariano de Inteligência Nacional (SEBIN) disse que os ‘assessores’ cubanos
são tratados por todos os agentes dentro do organismo como se fossem generais
venezuelanos de cinco estrelas. “Todos eles [funcionários e oficiais
venezuelanos] se perfilam em continência a eles. Os cubanos têm a autoridade de
fazer e desfazer o que bem entendem”, disse o ex-comissário, que vive hoje nos
Estados Unidos, mas se mantém em contato com seus antigos companheiros.
Por fim, foram os cubanos que
reformularam todo o aparato policial da Venezuela e efetivamente o comandam com
mão de ferro, pouco se interessando em combater a violência criminal e aumentar
a segurança das pessoas, mas sim tendo como prioridade o seu funcionamento como
“polícia política”.
Os venezuelanos hoje medem com
muito cuidado as palavras que pronunciam em público, pois se elas parecerem à
polícia qualquer manifestação de insatisfação e inconformidade com o regime são
imediatamente presos e levados a interrogatório.
Os oficiais venezuelanos da
DGCIM são levados para Havana para receber uma espécie de lavagem cerebral
ideológica destinada antes a preservar a ‘revolução’ do que propriamente o
estado e suas instituições democráticas ainda existentes e cada vez mais
débeis. “São cursos de formação ideológica, onde se ensina que o primeiro a
preservar é a vida do Comandante em Chefe da Revolução, depois a Constituição,
e em último caso o povo e as instituições”, disse um dos declarantes.
Essa doutrina coloca os nomes
dos representantes da oposição no topo da lista de “inimigos do Estado” e
considera os grupos opositores e qualquer outro partido político que não seja
de apoio ao governo, como agentes externos contratados pela CIA e pelo FBI,
entidades americanas que considera como seus principais inimigos.
HOJE A ESCASSEZ SOCIALISTA ESTÁ NO CENTRO
DA VIDA VENEZUELANA
![]() |
Uma mulher agarra com avidez
alguns pacotes de açúcar e garrafas de óleo de cozinha num mercado em Caracas
|
O país, a cada dia vai se
tornando mais parecido com Cuba. Já há cartões de racionamento distribuídos
pelos agentes bolivarianos àqueles que são simpáticos e dizem apoiar o governo.
Falta tudo para ser adquirido,
desde gêneros de primeira necessidade até mesmo papel higiênico na Venezuela.
Filas longas e caóticas se formam ao menor boato de que determinado produto,
como frango, por exemplo, chegou ao estabelecimento comercial, cujas
prateleiras estão progressivamente mais vazias.
O povo venezuelano, além do
empobrecimento visível e comparável à situação que havia há uma década, tenta
suportar com estoicismo e um silêncio imposto os rigores da escassez.
No interior do país, nas
cidades pequenas, o desabastecimento é muito mais grave do que nos
supermercados de Havana, mormente aqueles que estão situados em alguns bairros
diferenciados onde vive a maior parte da pequena burguesia que hoje forma o
politiburo bolivariano de Caracas. Pior ainda nos estados que são
majoritariamente contra o regime.
A fantasia da revolução
socialista com que tanto sonhou Hugo Chávez começa a se transformar na amarga
realidade de hoje. E vem Jorge Giordani, o Ministro do Planejamento, dizer ao
jornal El Universal que “o socialismo se constrói a partir da escassez”, sem, decerto
mencionar que isso não se aplica à burguesia do politiburo caraquenho.
Os venezuelanos que conseguem
viajar ao exterior estão indo com muito mais frequência à Colômbia, ao Brasil e
ao Panamá para fazer, entre outras coisas, compras de artigos domésticos de
primeira necessidade, entre eles, principalmente, remédios.
Há o perigo de a alfândega
considerar tais compras como contrabando, mas nada que uma propina deixe de
garantir a entrada desses produtos no país.
A escassez na Venezuela é
consequência também de uma política de estado que pretende encurralar o setor
privado, que já sofreu a expropriação estatal a torto e à direita de mais de 7
milhões de hectares de terras produtivas desde abril de 2012, segundo cálculos
do então ministro da Agricultura, Elías Jaua, e de um gasto público
exorbitante, que no ano passado, chegou a 77 bilhões de dólares em importações,
principalmente de armamentos e – pasmem – de combustíveis. Isso liquidou a
produção nacional e depreciou a contribuição do setor privado, deixando o
governo sem dinheiro e com o volume de petróleo comprado pelos EUA tendo
diminuído em quase 30%.
Título e Texto: Francisco Vianna (da mídia
internacional), 20-05-2013
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