segunda-feira, 20 de maio de 2013

Pobre Venezuela rica!

OS CORDÕES DA INTELIGÊNCIA VENEZUELANA SÃO MANEJADOS EM HAVANA
Francisco Vianna
O general venezuelano encarregado pelo governo para elaborar um plano de segurança a ser posto em prática durante a reunião de cúpula presidencial da CELAC, que se realizou em Caracas em dezembro do ano passado, tinha trabalhado minuciosamente na sua elaboração e o resultado, para ele circunscrevia diferentes áreas de proteção que envolviam a participação de centenas de militares e policiais que deveriam resguardar os presidentes, chefes de estado e ministros dos 33 países membros.

Membros das Forças Armadas da Venezuela se perfilam antes de sair em campo para controlar áreas específicas de Caracas. O regime de Raul Castro é que dita a ordem do dia em termos de segurança na Venezuela, com seus agentes distribuindo as ordens aos oficiais venezuelanos dentro dos organismos de inteligência militar do país. Foto: Juan Barreto/AFP/Getty Images
Mas quando entregou o plano á DGCIM (Direção Geral de Contra Inteligência Militar), o representante cubano conhecido como “Coronel Alcides” tinha outra coisa em mente.
 “Não, nada disso! Foi tudo o que disse o militar cubano antes de jogar o plano do general no lixo”, disse um oficial venezuelano que falou sob a condição de anonimato. “E quando nos demos conta disso, vimos que as três primeiras áreas circunscritas de segurança eram cubanas”.
Assim, ficou claro para os militares venezuelanos que o coronel Alcides e mais um punhado de agentes cubanos de alto escalão são quem ditam a pauta em matéria de segurança no país petroleiro, distribuindo ordens aos oficiais venezuelanos como se fossem seus superiores hierárquicos e controlando todas as manivelas e botões da repressão interna no país.
Conforme o testemunho de oficiais venezuelanos, os agentes castristas há já algum tempo deixaram de ser simples assessores para exercer hoje um papel de mando indiscutível no resguardo da “Revolução Bolivariana” – que não é mais venezuelana, mas cubana – encarregando-se de tarefas que vão desde a concepção de doutrinas a serem seguidas e esquemas operacionais até a construção e prática de estratégias para espionar e desarticular os adversários.

Foto da Guarda Nacional da Venezuela numa blitz de controle de “segurança à cidadania”. Vem de Havana a orientação diária do que devem e não devem fazer os militares venezuelanos no dia a dia do país. Foto: Ariana Cubillos/AP
Trata-se de uma submissão institucional que, na prática, colocou o regime de Cuba no controle de muitas das operações de repressão executadas atualmente no país, incluindo até a troca de comando de chefes militares venezuelanos de escalão superior e a movimentação e emprego de armamentos, disseram os militares e agentes da inteligência venezuelana que estão inconformados com tal situação e falaram sob a condição de anonimato. “Os cubanos tomam hoje todas as decisões dentro da DGCIM às quais os chefes militares estão obrigados a acatar e são eles os que ditam o modus operandi das ações e acima de tudo, os métodos que serão adotados em cada caso”, disse um deles.
Segundo os oficiais declarantes, o pessoal da inteligência cubana exerce um papel muito ativo na monitoração dos diferentes setores do país e em particular dos dirigentes políticos considerados como adversos ao processo revolucionário comunista em meio à crise de legitimidade que enfrenta o governo de Nicolás Maduro e que divide profundamente o povo. Interesse especial recai sobre o setor militar, onde dezenas de oficiais têm sido presos e interrogados nos últimos dias sob a suspeita de conspiração e deslealdade ao novo líder da Revolução Bolivariana.
 Funcionários de segurança cubanos, com ampla experiência em operações de “controle social”, levam tempo assessorando o governo bolivariano a pedido do falecido presidente Hugo Chávez, que em seus últimos anos de governo demonstrou ter mais confiança no pessoal cubano do que em seus próprios compatriotas.
A ingerência cubana ficou registrada em vários dos informes do Departamento de Estado americano e da agência de inteligência privada Stratfor filtrados pela WikiLeaks, que descrevem a grande dependência de Chávez dos agentes da ilha-cárcere dos Castros e como Havana faz uso de sua influência para assegurar cada vez mais sua posição de mando na Venezuela. Segundo esses cabogramas, agentes cubanos tinham acesso direto a Chávez e desempenham um papel fundamental para a manutenção do seu regime, informando-o constantemente sobre os movimentos da oposição, os cochichos nos quartéis e qualquer sinal de potencial traição ou inconformidade dentro das fileiras chavezistas.
Um ex-comissário do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (SEBIN) disse que os ‘assessores’ cubanos são tratados por todos os agentes dentro do organismo como se fossem generais venezuelanos de cinco estrelas. “Todos eles [funcionários e oficiais venezuelanos] se perfilam em continência a eles. Os cubanos têm a autoridade de fazer e desfazer o que bem entendem”, disse o ex-comissário, que vive hoje nos Estados Unidos, mas se mantém em contato com seus antigos companheiros.
Por fim, foram os cubanos que reformularam todo o aparato policial da Venezuela e efetivamente o comandam com mão de ferro, pouco se interessando em combater a violência criminal e aumentar a segurança das pessoas, mas sim tendo como prioridade o seu funcionamento como “polícia política”.
Os venezuelanos hoje medem com muito cuidado as palavras que pronunciam em público, pois se elas parecerem à polícia qualquer manifestação de insatisfação e inconformidade com o regime são imediatamente presos e levados a interrogatório.
Os oficiais venezuelanos da DGCIM são levados para Havana para receber uma espécie de lavagem cerebral ideológica destinada antes a preservar a ‘revolução’ do que propriamente o estado e suas instituições democráticas ainda existentes e cada vez mais débeis. “São cursos de formação ideológica, onde se ensina que o primeiro a preservar é a vida do Comandante em Chefe da Revolução, depois a Constituição, e em último caso o povo e as instituições”, disse um dos declarantes.
Essa doutrina coloca os nomes dos representantes da oposição no topo da lista de “inimigos do Estado” e considera os grupos opositores e qualquer outro partido político que não seja de apoio ao governo, como agentes externos contratados pela CIA e pelo FBI, entidades americanas que considera como seus principais inimigos.

HOJE A ESCASSEZ SOCIALISTA ESTÁ NO CENTRO DA VIDA VENEZUELANA

Uma mulher agarra com avidez alguns pacotes de açúcar e garrafas de óleo de cozinha num mercado em Caracas
O país, a cada dia vai se tornando mais parecido com Cuba. Já há cartões de racionamento distribuídos pelos agentes bolivarianos àqueles que são simpáticos e dizem apoiar o governo.
Falta tudo para ser adquirido, desde gêneros de primeira necessidade até mesmo papel higiênico na Venezuela. Filas longas e caóticas se formam ao menor boato de que determinado produto, como frango, por exemplo, chegou ao estabelecimento comercial, cujas prateleiras estão progressivamente mais vazias.
O povo venezuelano, além do empobrecimento visível e comparável à situação que havia há uma década, tenta suportar com estoicismo e um silêncio imposto os rigores da escassez.
No interior do país, nas cidades pequenas, o desabastecimento é muito mais grave do que nos supermercados de Havana, mormente aqueles que estão situados em alguns bairros diferenciados onde vive a maior parte da pequena burguesia que hoje forma o politiburo bolivariano de Caracas. Pior ainda nos estados que são majoritariamente contra o regime.
A fantasia da revolução socialista com que tanto sonhou Hugo Chávez começa a se transformar na amarga realidade de hoje. E vem Jorge Giordani, o Ministro do Planejamento, dizer ao jornal El Universal que “o socialismo se constrói a partir da escassez”, sem, decerto mencionar que isso não se aplica à burguesia do politiburo caraquenho.
Os venezuelanos que conseguem viajar ao exterior estão indo com muito mais frequência à Colômbia, ao Brasil e ao Panamá para fazer, entre outras coisas, compras de artigos domésticos de primeira necessidade, entre eles, principalmente, remédios.
Há o perigo de a alfândega considerar tais compras como contrabando, mas nada que uma propina deixe de garantir a entrada desses produtos no país.
A escassez na Venezuela é consequência também de uma política de estado que pretende encurralar o setor privado, que já sofreu a expropriação estatal a torto e à direita de mais de 7 milhões de hectares de terras produtivas desde abril de 2012, segundo cálculos do então ministro da Agricultura, Elías Jaua, e de um gasto público exorbitante, que no ano passado, chegou a 77 bilhões de dólares em importações, principalmente de armamentos e – pasmem – de combustíveis. Isso liquidou a produção nacional e depreciou a contribuição do setor privado, deixando o governo sem dinheiro e com o volume de petróleo comprado pelos EUA tendo diminuído em quase 30%.
Título e Texto: Francisco Vianna (da mídia internacional), 20-05-2013

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