quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Recessão se aprofunda na Venezuela

Francisco Vianna

O Presidente Nicolás Maduro durante a rodada de imprensa da terça-feira, no Palácio Miraflores. Foto: EFE
O Banco Central da Venezuela confirmou oficialmente aquilo que todos os mercados já sabiam, que a economia do país sob o tacão do “socialismo do século XXI” mergulhou numa recessão profunda ao longo deste ano. O documento, ao invés de tentar explicar as causas económicas da situação caótica em que se encontra o país sulamericano, preferir culpar os adversários políticos do governo socialista de Nicolás Maduro por terem-se dedicado a “sabotar a atividade econômica”...

Com uma contração de 2,3 por cento do PIB registrado apenas no terceiro trimestre de 2014, a economia venezuelana, o Banco Central da Venezuela afirmou que o relatório é o primeiro oficial sobre o desempenho econômico do país ao longo do ano que termina. No segundo trimestre desse ano a queda foi de 4,9 por cento, logo após registrar uma contração de 4,8 por cento nos três primeiros meses do ano. Conforme os parâmetros internacionais mais usuais, com dois trimestres contínuos registrando quedas no PIB, o país já é considerado em recessão econômica.

A contração ocorre enquanto so preços internacionais do petróleo caem de forma constante, já sendo cotados em torno de 46 dólares o barril. Com isso a Venezuela fecha o ano com uma inflação acunulada de 63% anual e é o segundo país do mundo com as maiores taxas de homicídio no ano que se finda.

Enquanto isso, o líder oposicionista Capriles aceita a convocação de Maduro para explicar como conseguiu comprar em Nova Iorque um apartamento no valor de 5 milhões de dólares.

A Venezuela praticamente não produz quase nada pelo fato de ter sido submetida por muitos anos a ideia de que o petróleo que tem seria o suficiente para prover todas as necessidades de seu povo. 

As necessidades da população fortemente dependente do petróleo consomem 96 por cento de toda a renda que o país consegue auferir de todas as suas exportações petrolíferas.

Como a queda dos preços internacionais ocorre numa hora em que a Venezuela enfrenta uma inflação galopante e severos problemas de escassez e desabastecimento de produtos básicos para a sua população, e o fato da contração econômica ocorrer em meio a um contexto de aceleração de aumento de preços, os analistas estimam que a Venezuela entrou num ciclo de “estagflação”, que implica contração econômica e inflação alta.

Seria se esperar que o Presidente Maduro anunciasse ontem algumas medidas econômicas, e de política monetária, recomendadas por analistas para reverter essa situação, entre elas a desvalorização do “Bolívar” e o aumento do preço da gasolina que é a mais barata do mundo. No entanto, depois de uma verborragia inútil que levou varias horas consumindo a paciência dos ouvintes, quase ininterruptamente numa entrevista de imprensa, o mandatário apenas apresentou algumas metas de seu “programa de recuperação econômica” para 2015, sem anunciar qualquer medida concreta imediata.

“Estou convencido de que o ano de 2015 será o ano da ‘grande mudança’ do modelo econômico”, assegurou Maduro, que deixou para depois do fim de ano as medidas na política cambial. Maduro disse aos jornalistas que “parece haver uma recuperação da dinâmica de crescimento, e talvez possamos ter a possibilidade de controle dessa inflação induzida”, que é esperada chegar a 64% em 2014, em termos oficiais. No câmbio negro, a inflação já supera os 110 por cento.

“Já desde o segundo trimestre estávamos em recessão. Dois trimestres consecutivos de queda na economia já é tecnicamente uma recessão”, afirmou o economista José Guerra, ex-gerente de Investigações Econômicas do BCV. Por outro lado, essa expectativa inflacionária de 64% será a más alta taxa de inflação desde 1996, segundo a consultoria Ecoanalítica.

A Venezuela, ao longo de 2014 viu secar sua reserva de moedas fortes graças aos pagamentos de armamentos das compras feitas por Chávez à Rússia e outros itens bélicos adquiridos inclusive do Brasil. Com isso a importação caiu em 12,3 por cento no já reduzidíssimo setor privado, e a queda do preço do petróleo fez o resto do estrago criando uma forte escassez de alimentos e medicamentos, entre outros itens. A queda dos preços de petróleo reduziu em menos de meio ano à metade a renda do país com a exportação da mercadoria, que também diminuiu em volume.

Maduro, com a cara de pau que Deus lhe deu, alegou que com a queda do preço do barril de petróleo que está em $46.77 dólares o barril, mas tudo não passa de uma “estratégia da elite dos EUA para destruir a OPEP e golpear outras economias, como a da Rússia, a do Irã e a da própria Venezuela”.

Os maus resultados econômicos afetam a popularidade de Maduro – que beira os 24 por cento – e ameaçam a possibilidade de que o chavezismo vença as eleições parlamentares que devem se realizar em 2015. Maduro e aliados asseguram que a oposição venezuelana e interesses estadunidenses e colombianos têm dirigido uma “guerra econômica” que – afirma – aspira destruir a economia da Venezuela. Ou seja, os maus resultados dos socialistas são sempre atribuídos aos outros, nunca à própria incompetência ou insustentabilidade do sistema.

A complicada situação econômica do “bolivarianismo” fez com que o governo impedisse a divulgação dos indicadores como a taxa de inflação, o PIB e a balança de pagamentos, levantando entre a oposição dúvidas sobre a autonomia do Banco Central frente ao executivo e denunciando a ingerência de Havana no governo venezuelano. O Banco Mundial qualificou as medidas de Caracas como práticas ultrapassadas.

Recentemente, a agência de graduação financeira FITCH baixou de forma severa a qualificação de solvência da Venezuela, de “B” para “CCC”, uma gradação destinada aos países nos quais o calote é uma “possibilidade real e iminente”. A Venezuela deverá enfrentar, pelo menos, o vencimento de $10 bilhões de dólares de sua dívida externa em 2015. 
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional), 1-1-2015

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