Rodrigo Constantino
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Eis a imagem que os
sensacionalistas passam aos leigos do capitalismo:
um sistema que explora os
pobres
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Nada é mais fácil do que a
vida de um sensacionalista. Imbuído de uma autoimagem de nobre abnegado, o
sensacionalista se coloca sempre do lado de Davi contra Golias, ou seja, ele é
um sujeito bom pois toma sempre o partido do oprimido contra seu opressor forte
e insensível. O protetor dos fracos e oprimidos: eis como o sensacionalista
deseja se enxergar.
Reparem que um sensacionalista
não precisa gastar duas calorias refletindo ou apresentando argumentos num
debate realista e sincero: basta ele curtir uma mensagem piegas no Facebook ou
escrever um artigo condenando a ganância (dos outros), e logo depois ele pode
usufruir de todo conforto que tem como se fosse uma alma desprendida dos
sentimentos mesquinhos dos demais seres humanos. É um caminho fácil para os
vaidosos.
Quer um exemplo típico? Todo
sensacionalista condena o lucro, e diante da pobreza alheia, diz que considera
um absurdo as pessoas colocarem o dinheiro acima de seres humanos. O discurso é
lindo! Mas há um pequeno problema, ao menos: se ele realmente pensasse assim,
deveria distribuir automaticamente o seu próprio dinheiro para
salvar algumas vidas miseráveis. Por que não o faz? Por colocar o dinheiro
acima de seres humanos?
Na verdade, trata-se, além de
pura hipocrisia, de uma falsa dicotomia, de um dilema equivocado criado pela
mentalidade marxista, que enxerga a riqueza como um jogo de soma zero, um bolo
fixo que precisa ser apenas melhor distribuído, e vê o lucro como exploração.
Não existe essa necessidade de escolha entre lucro ou vidas humanas, apesar da
retórica sensacionalista.
Tenho um artigo que foi
publicado no GLOBO sobre o assunto, rebatendo um ataque comum dos
sensacionalistas, que condenam os laboratórios farmacêuticos, que seriam ícones
dessa ganância desmedida enquanto vidas se perdem por falta de remédios.
Chomsky, o mais sensacionalista de todos, tem até um livro com essa falsa
dicotomia no título.
Lembrei disso ao ler o artigo de Cacá Diegues hoje no GLOBO, pois o
cineasta esquerdista apela para o mesmo tipo de sensacionalismo barato. Ele
força seu leitor a escolher entre as bolsas de valores ou os pobres gregos,
como se fosse realmente essa a escolha a ser feita. No fundo, é apenas uma
tática sensacionalista para culpar “ricos” pela pobreza dos “pobres”. Abaixo,
meu artigo que refuta essa bobagem sensacionalista toda:
Lucro que salva vidas
A notícia divulgada semana
passada foi alvissareira para milhões de pessoas. A FDA aprovou o Truvada,
pílula para ajudar a prevenir o HIV em alguns grupos de risco. Segundo a
agência americana, o remédio pode reduzir em até 73% o risco de infecções
causadas pelo vírus da Aids. Trata-se de mais uma importante conquista do
capitalismo.
O laboratório responsável pela
conquista foi o Gilead Sciences, fundado em 1987 na Califórnia. Nestes 25 anos,
a empresa apresentou taxas aceleradas de crescimento, sempre em busca do lucro.
Graças a isso, seu faturamento ultrapassou US$ 8 bilhões em 2011, permitindo um
investimento acima de US$ 1 bilhão em pesquisa e desenvolvimento no ano.
O mercado farmacêutico é
bastante competitivo. Várias empresas precisam concorrer para atender melhor as
demandas dos consumidores. É este mecanismo de incentivos que garante uma
incessante busca por novidades desejadas pelos pacientes de inúmeros tipos de
doenças e transtornos.
Claro que há o outro lado da
moeda: grandes laboratórios pressionando médicos e fazendo campanhas para
estimular o uso excessivo de medicamentos. Qualquer desvio do padrão
comportamental virou motivo para diagnósticos precipitados. Vejo estarrecido o
dia em que a Anvisa vai nos obrigar a tomar antidepressivos. João Ubaldo
Ribeiro escreveu um excelente artigo sobre o tema neste jornal há alguns dias.
Mas compare este risco de
abuso com a quantidade de vidas salvas graças aos avanços medicinais, com a
redução do sofrimento dos doentes, com os sorrisos que retornam aos lábios
idosos quando o Viagra devolve sua virilidade. Tanto alívio e tantas vidas
salvas não têm preço. Ou melhor: têm sim, e custam caro!
Eis onde entra o capitalismo.
Ainda presos na era medieval, muitos criticam o lucro como motivador das
pessoas. Gostariam que a humanidade fosse movida somente pelo altruísmo. São
românticos bem-intencionados. De boas intenções, porém, o inferno está cheio.
Os países socialistas, que
seguiram esta receita, acabaram na miséria e escravidão, praticamente sem
nenhuma contribuição relevante à medicina. A despeito da propaganda, o fato é
que a medicina cubana é um lixo, principalmente para os pobres (todos aqueles
distantes do poder). A União Soviética colocou o Sputinik em órbita, mas
faltava papel higiênico e nenhum remédio importante veio deste regime.
Enquanto isso, laboratórios
capitalistas em busca do lucro fornecem mais e melhores remédios no mercado.
Pfizer, Merck, Eli Lilly, Roche, Sanofi, Novartis, Bayer, Schering-Plough,
Astrazeneca e tantos outros, investindo bilhões na busca de medicamentos inovadores.
Há quem acenda velas para santos. Eu agradeço a existência destes laboratórios
em busca de rentabilidade.
Noam Chomsky, adorado pela
esquerda, possui um livro cujo título já expõe a falsa dicotomia tão
disseminada entre lucro e vidas humanas. Chama-se “O Lucro ou as Pessoas?”, e é
uma crítica ao “neoliberalismo”, este fantasma inexistente na América Latina,
mas ao mesmo tempo culpado por todos os males da região.
Chomsky, que já defendeu a
candidatura de Heloísa Helena e foi citado com forte empolgação por Hugo Chávez
na ONU, é um socialista. Seria o caso de perguntar ao famoso intelectual
quantas vidas o regime socialista salvou, já que sabemos quantas ele ceifou:
algo na casa dos 100 milhões.
Toda a retórica de nossos
“intelectuais” contra o capitalismo não serve para salvar uma única vida. Por
outro lado, as dezenas de bilhões de dólares que os laboratórios capitalistas
destinam para pesquisas todo ano já salvaram milhões de vidas. E vão continuar
salvando mais ainda, se os socialistas não criarem obstáculos demais.
Esta é a parte difícil. O
sensacionalismo dos demagogos representa grande ameaça ao progresso. Sempre
pregando maiores impostos (o que reduz a quantidade de recursos disponível para
novos investimentos), ou então a quebra de patentes para reduzir os preços dos
medicamentos (o que gera insegurança no setor e também reduz investimentos), a
esquerda costuma agir como Maquiavel às avessas: para salvar dez vidas hoje,
condena cem à morte amanhã.
No próprio caso da Aids, a
esquerda insistiu que era preconceito falar em “grupo de risco”. Como o vírus
não liga para a sensibilidade politicamente correta, milhões de pessoas podem
ter contraído a doença desnecessariamente, por falta de maior precaução. A
praga do politicamente correto corrói até a ciência, que não possui ideologia.
O mundo seria um lugar muito
melhor se tivesse menos hipocrisia e mais laboratórios em busca de lucro.
PS: Talvez um dos mais
sensacionalistas em terras tupiniquins, Verissimo se supera na cara de pau em
sua coluna de hoje, bem acima da de Cacá Diegues. O humorista, que faz humor
involuntário quando resolve falar de economia, afirma que a Alemanha é
hipócrita por cobrar dívidas dos gregos, pois já deu calote no passado, e pior,
que foram esses calotes que permitiram seu progresso! Sim, para Verissimo, o
sucesso alemão não tem nada a ver com as reformas ordoliberais, mas sim com o
calote, o presente de não pagar as dívidas passadas. E claro, ele também usa,
como bom sensacionalista que é, a falácia dos bancos ricos contra pobres
gregos. E termina citando um bolero sobre hipocrisia. Há algo mais hipócrita do
que isso?
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, veja,
12-7-2015
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