Carlos Alberto Sardenberg, O
Globo
Uma das broncas do então
presidente Lula com a Vale estava no assunto siderúrgicas. A companhia
brasileira deveria progredir da condição de mero fornecedor de minério de ferro
para produtor de aço, tal era o desejo de Lula.
Quando lhe argumentavam que
havia um problema de custo para investir no Brasil — e não apenas em
siderúrgicas — o ex-presidente apelava para o patriotismo. As empresas privadas
nacionais teriam a obrigação de fabricar no Brasil.
Por causa da bronca
presidencial ou por erros próprios, o fato é que a Vale está envolvida em três
grandes siderúrgicas — ou três imensos problemas — conforme mostra em detalhes
uma reportagem de Ivo Ribeiro e Vera Saavedra Durão, no “Valor” de ontem.
Em Marabá, no Pará, o projeto
da planta Alpa está parado, à espera da construção de um porto e de uma via
fluvial, obrigação dos governos federal e estadual, e que está longe de
começar.
No Espírito Santo, o projeto
Ubu também fica no papel enquanto a Vale espera um cada vez mais improvável
sócio estrangeiro.
Finalmente, o projeto de
Pecém, no Ceará, está quase saindo do papel, mas ao dobro do custo original.
E quer saber? Seria melhor
mesmo que não saísse. Acontece que há um excesso de oferta de aço no mundo e,
mais importante, os custos brasileiros de instalação das usinas e de produção
são os mais altos do mundo.
Não, a culpa não é só do dólar
nem dos chineses. Estes fazem o aço mais barato do planeta, com seus métodos
tradicionais. Mas o aço brasileiro sai mais caro do que nos EUA, Alemanha,
Rússia e Turquia, conforme um estudo da consultoria Booz.
A culpa nossa é velha: carga e
sistema tributário (paga-se imposto caro até durante a construção da usina,
antes de faturar o primeiro centavo), burocracia infernal e custosa, inclusive
na disputa judicial de questões tributárias e trabalhistas, e custo da mão de
obra.
Dados do economista Alexandre
Schwartsman mostram que os salários estão subindo no Brasil na faixa de 11 a
12% anuais. A produtividade, estimado 1,5%. Ou seja, aumenta o custo efetivo do
trabalho, e mais ainda pela baixa qualificação da mão de obra.
Jorge Gerdau Johanpeter,
eterno batalhador dessas questões, mostra que a unidade de trabalho por
tonelada de aço é mais cara no Brasil do que nos EUA.
Não há patriotismo que
resolva. Mas uma boa ação governamental ajudaria. Reparem: todos os problemas
dependem de ação política e, especialmente, da liderança do presidente da
República. Trata-se de reformas tributária e trabalhista, medidas legais para
arejar o ambiente de negócios, simplificar o sistema de licenças ambientais,
reforma do Judiciário e por aí vai, sem contar com um impulso na educação.
Se isso não anda, é falha de
governo, não do mercado. A crise global é a mesma para todo mundo, mas afeta os
países diferentemente, conforme suas condições locais.
O Brasil precisaria turbinar
os investimentos, mas não há como fazer isso num ambiente tão desfavorável e
tão custoso. O governo cai então no estímulo ao consumo e no protecionismo para
barrar e/ou encarecer os produtos estrangeiros. De novo, não conseguindo
reduzir o custo Brasil, aumenta o custo mundo.
A situação é ainda mais grave
no lado dos investimentos públicos. Uma das obras de propaganda de Lula era a
Ferrovia Norte-Sul, tocada pela estatal Valec. Pois o Tribunal de Contas da
União verificou que o dormente ali saía por R$ 300, enquanto na
Transnordestina, negócio privado, ficava por R$ 220.
O atual presidente da Valec,
José Eduardo Castello Branco, nomeado há um ano, depois das demissões por
denúncias de corrupção, conta ainda que vai comprar a tonelada de trilho por R$
2 mil, contra o preço absurdo de R$ 3 mil da gestão anterior, que vinha lá do
governo Lula.
Claro que um presidente da
República não pode saber quanto custa uma tonelada de trilho, muito menos o
preço de um dormente. Nem pode acompanhar as licitações. Mas o ritmo
“vamo-que-vamo” imposto pelo ex-presidente, junto com o loteamento político das
estatais, criou o ambiente para os malfeitos e, mais importante, porque mais
caro, para os enormes equívocos na gestão dos projetos.
O diretor do Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes, general Jorge Fraxe, também nomeado
por Dilma para colocar ordem na casa, conta que encontrou contratos de obras no
valor de R$ 15 bilhões — ou “15 bilhões de problemas”.
Quando o mundo vai bem, todos
crescendo, ninguém repara. Quando a coisa aperta, aí se vê o quanto não foi
feito ou foi feito errado.
Título e Texto: Carlos Alberto Sardenberg, O Globo, via
Blog do Noblat
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