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Ilustração: Financial Times |
Wolfgang Münchau
Eu fiquei imaginando: quem
compra ativos de risco depois de uma dessas "históricas" declarações
do Conselho Europeu. Às vezes a alta dura algumas horas, outras vezes, apenas
dias. A mais recente terminou em menos de uma semana; os spreads italianos e
espanhóis já estão acima dos níveis pré-cúpula.
O consenso entre os
observadores era de que a União Europeia (UE) tinha dado um importante passo na
direção certa, adotando um caminho para a união bancária, mas que não havia
feito o suficiente quanto à resolução de crises. Discordo dessa afirmação.
Acredito ter sido um passo muito grande - na direção errada. A cúpula fez com
que a solução concreta para a crise dependesse de uma decisão futura, que será
ainda mais difícil de tomar e, portanto, ainda mais improvável.
Foi acordado que não haverá
uma recapitalização bancária coletiva até que seja estabelecida uma união
bancária completa, e o Bundesbank nos lembrou que isso não é possível sem uma
união política. A conclusão lógica é que não vamos resolver a crise em menos de
20 anos.
Um grupo de 160 economistas,
liderado por Hans-Werner Sinn, presidente do instituto econômico Ifo, publicou
um manifesto contra uma união bancária. O documento veio recheado de som e
fúria, mas o mais importante é que reflete uma visão consensual.
O que sabemos agora é que a
Alemanha não concordará com um seguro coletivo sobre depósitos. Os alemães
sequer concordam em dar ao Mecanismo de Estabilidade Europeu uma "licença
bancária" para que possa alavancar-se. Se a Alemanha não pode fazer o
mínimo necessário agora, por que alguém imaginaria que poderá aceitar uma união
política? Mais fácil é acreditar na promessa de um alcoólatra de que deixará de
beber daqui a cinco anos.
A política de socorro ao euro
cruzou um importante limiar na Alemanha. Uma pequena maioria ainda é favorável
ao euro, mas a maioria é contrária a novos socorros. Um grupo de 160
economistas, liderado por Hans-Werner Sinn, presidente do instituto econômico
Ifo, publicou na semana passada um manifesto contra uma união bancária. O
documento veio recheado de som e fúria, mas o mais importante é que reflete uma
visão consensual.
A resposta de Angela Merkel
foi reveladora. Ela disse não haver nenhum motivo para preocupações. A união
bancária diz respeito a supervisão coletiva, disse ela. Não haverá seguro
conjunto de depósitos. Ela tem um entendimento muito distinto do Banco Central
Europeu (BCE) sobre o que significa uma união bancária. Acredito que essa nova
união bancária cubra os 25 maiores bancos e deixará as "cajas" e os
"Landesbanken" sob controles nacionais. É como um alcoólatra
prometendo doravante beber apenas os melhores conhaques.
A união bancária necessária é
aquela que a Alemanha não aceitará: regulamentação e supervisão centralizadas,
um fundo comum para reestruturação e seguro de depósitos. Isso levaria anos
para ser criado. Se conduzido apropriadamente, isso exigiria uma mudança das
constituições nacionais e de tratados europeus, ao menos para redefinir o papel
do BCE. É loucura total sujeitar a solução da crise ao êxito do que seria o
maior exercício de integração europeia na história.
Com as taxas de juro dos
títulos de 10 anos acima de 6%, tanto a Itália como a Espanha poderão sustentar
sua participação na zona do euro. Isso é o que Mario Monti e Mariano Rajoy
deveriam ter deixado claro a Merkel durante a cúpula. Eles deveriam ter dito a
ela que seus governos irão se preparar para saírem da zona do euro caso não
haja mudança na política. Uma solução exige eurotítulos - ou alguma outra forma
de mutualização da dívida - tanto do setor público como do setor privado, e
compras de títulos pelo BCE. A Alemanha não aceita a primeira condição. O BCE
não aceita a segunda.
Se algo não é sustentável nem
autocorretivo, sobram apenas dois cursos de ação. A primeira é esperar
pacientemente até que ocorra uma ruptura na situação. Essa é a estratégia
seguida pelo Conselho Europeu e por alcoólatras. A alternativa é começar a
fazer os preparativos - e tomar cuidado para não provocar uma ruptura nesse
processo. É difícil imaginar uma saída sem desrespeitar centenas de leis
nacionais e europeias. É por essa razão que ninguém está fazendo isso. (O país
que o fizesse) precisaria alegar "força maior" em sua defesa. Levou
uma década para que o euro fosse criado. Será preciso mais do que um fim de
semana prolongado para destruí-lo. Um colapso se constituiria no maior choque econômico
de nossa época. Mas, entre uma lista de opções de ruptura, algumas são melhores
que outras. Escreverei sobre isso em uma coluna futura.
Em novembro, escrevi que o
Conselho Europeu tinha dez dias para salvar o euro. Se naquele momento tivessem
lançado as bases para uma união bancária e fiscal, poderiam estar agora em
condições de obter um consenso em torno de uma estratégia eficaz para solução
da crise baseada em recapitalização dos bancos e compras de títulos. Não o
fizeram naquele momento. E não estão em condição de solucionar a crise agora.
Para mim, a mensagem da cúpula
é de que a zona euro não solucionará a crise. Nesse sentido, foi, de fato, uma
reunião "histórica".
Título e Texto: Wolfgang Münchau é editor do Financial Times, especialista em União Europeia.
Tradução: Sergio Blum, para Valor Econômico, 10-7-2012
Colaboração: Rafael Picate
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