Os raptos recentes do
Arcebispo Ortodoxo Siríaco Yohanna Ibrahim e do seu homólogo Ortodoxo Grego,
Paul Yazigi, refletem não apenas a crescente brutalidade da guerra civil Síria,
mas também a escalada da crise para os Cristãos em todo o mundo Árabe – uma
crise que poderá terminar por afastá-los completamente desses países.
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Catedral cristã maronita em Beirute, no Líbano |
Por exemplo, a 26 de
Fevereiro, num mercado de roupa em Bengazi, na Líbia, membros de uma poderosa
milícia Islamita reuniram dezenas de Cristãos Coptas Egípcios – identificados
por cruzes tatuadas nos seus pulsos direitos – que depois detiveram,
torturaram, e ameaçaram executar. Entre as vítimas estava um padre Copta, a
quem os captores agrediram severamente antes de lhe rapar o cabelo e o bigode.
Padres foram também agredidos em Trípoli, e igrejas foram incendiadas. Tudo
isto envia uma mensagem clara: os que não são muçulmanos não estão seguros na
Líbia.
Embora a Líbia não possua uma
minoria religiosa significativa, há centenas de milhares de egípcios que vivem
e trabalham no país, onde o proselitismo cristão é ilegal e onde se pode ser
acusado de proselitismo simplesmente por se possuir uma Bíblia. Mas o governo
do Egito, controlado pela Irmandade Muçulmana, não parece particularmente
empenhado em proteger os seus cidadãos cristãos na Líbia; fez apenas um apelo
pouco empenhado pela libertação dos seus cidadãos detidos.
Isto reflete uma similar
deterioração da situação para os cristãos no Egito, onde representam algo em
torno de 15% da população. No início de abril, o funeral na Catedral de São
Marcos (a sede da Igreja Copta no Cairo) de quatro Cristãos mortos em motins
sectários dias antes, transformou-se num caos, com o ataque a milhares de
participantes enlutados enquanto tentavam sair após o serviço religioso.
A polícia disparou gás
lacrimogêneo para o interior do recinto, aguardando que saíssem, enquanto quem
estava fora da catedral lançava coquetéis Molotov e pedras, e disparava contra
quem se encontrava no interior. Pelo menos duas pessoas morreram e 80 ficaram
feridas num confronto de cinco horas.
Os cristãos culpam a Irmandade
Muçulmana não apenas por permitir aos muçulmanos egípcios atacá-los
impunemente, mas também por permitir – e professar – uma retórica anticristã
inflamada. Por exemplo, num comício a favor do Presidente Mohamed Morsi, no ano
passado, o clérigo Safwat Hegazy avisou que os muçulmanos egípcios iriam
“salpicar de sangue” os cristãos que “salpicassem de água” a legitimidade de
Morsi.
Em fevereiro, o patriarca
Copta do Egito, Papa Tawadros II, criticou de modo incisivo a liderança do país
numa entrevista televisionada, apelidando a nova constituição de
discriminatória e desvalorizando os “diálogos nacionais” de Morsi como gestos
vazios. Esta postura invulgarmente assertiva reflete a frustração crescente
entre os cristãos, bem como na oposição secular e liberal, com o monopólio de
poder da Irmandade Muçulmana.
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Cristãos coptas egípcios
exibem pano manchado de sangue após conflito com soldados e a polícia durante
protesto no Cairo.
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O Patriarca católico grego,
Melquita Gregório III, afirmou recentemente que, desde 2011, foram mortos mais de 1.000 cristãos e mais
de 40 igrejas e outras instituições cristãs (escolas, orfanatos, e centros de
assistência) foram danificadas ou destruídas. Estima-se que 300.000 Cristãos
tenham fugido da Síria.
Para adiante disso, as
repercussões do incessante conflito regional estão a desestabilizar o Líbano,
um país que oferece aos cristãos uma garantia constitucional de representação
política. Cerca de 400.000 refugiados – muitos deles muçulmanos sunitas,
incluindo rebeldes fugitivos – irromperam ao longo da fronteira com a Síria,
exacerbando as tensões sectárias e ameaçando romper o delicado equilíbrio
social e político do Líbano.
Dado que, como salienta
Martin Tamcke da Universidade de Göttingen, não restam alternativas aos
refugiados cristãos no Médio Oriente, eles dirigem-se cada vez mais para a
Europa e a América do Norte. Se for permitido que tal tendência continue, o
Médio Oriente perderá gradualmente as suas congregações cristãs. De modo a
prevenir tal resultado trágico, os líderes Ocidentais devem ter um papel mais
ativo na defesa da proteção das minorias cristãs em todo o mundo árabe.
Em última instância, cristãos
e muçulmanos no mundo árabe possuem os mesmos desejos: liberdade, dignidade, e
direitos iguais. Aqueles que perseguem os cristãos deveriam reconhecer que a
Primavera Árabe deveria beneficiar todos os árabes e não apenas os islâmicos
fundamentalistas.
Título, Imagens e Texto: Francisco Vianna, 18-05-2013
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