A propósito das manifestações
de júbilo da chefe do governo alemão na vitória da selecção do seu País no
mundial de futebol do Brasil, tenho a dizer que de algum modo chocou-me o
despudor de algumas manifestações de ódio irracional testemunhadas em
comentários nas redes sociais - às vezes provenientes de pessoas supostamente bem
formadas. As apreciações à aparência física ou modo de vestir e demais injúrias
feitas a Angela Merkel definitivamente qualificam mais quem as emite: além de
má criação, reflectem afeições bem obscuras e mesquinhas que no mínimo deveriam
ser disfarçadas por pudor.
Persistir no erro de pensar
que os alemães, que elegeram a sua chanceler democraticamente com 41,5% dos
votos, são os responsáveis pelos males dos países como o nosso que mostram mais
dificuldades em sair da crise do crédito fácil é demasiado básico, e assim
sendo, uma fatalidade para nós portugueses.
Recusar aceitar que o sucesso
económico da Alemanha reunificada é essencialmente mérito dos alemães, que para
tanto se sacrificaram durante anos, negar assentir que no actual modelo de
organização europeu ainda compete a cada governante privilegiar os objectivos e
interesses do seu País e pugnar pelo progresso e bem-estar do povo que os
elegeram, é um erro trágico que denúncia acima de tudo os nossos logros.
Finalmente, pretender reduzir
a herdeiros do nazismo ou boçais comedores de salsichas aquela que é a Pátria
de Mozart, Beethoven, Kafka, Goethe ou Thomas Mann, Kant, Hegel, Marx
Schopenhauer, Nietzsche, Habermas ou Marlene Dietrich, não será uma caprichosa
criancice?
Pela minha parte tenho a
confessar que após da eliminação do Brasil apoiei a Alemanha, selecção que já
vinha demonstrando desde o início do torneio ser a equipa mais bem preparada,
revelando um invejável (!) poder atlético, apuro técnico e eficácia táctica.
Notas duma excelência cuja dor de cotovelo não nos deveria fazer cegar, antes
saber tomar como bom exemplo. No futebol e no resto.
Título, Imagem e Texto: João Távora, “Corta-fitas”,
16-07-2014
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