João Marques de Almeida
Paira sobre a política grega
uma nuvem bem negra: um governo minoritário. E um executivo sem maioria
arrisca-se a ser de curta duração e a enfrentar novas eleições.
O mundo e a Europa entraram em
2015 a olhar para a Grécia e para as eleições de 25 de Janeiro. Desde o
regresso da crise financeira à periferia europeia até à saída da Grécia da zona
Euro, voltaram os cenários pessimistas. Os mercados não sabem o que fazer,
Bruxelas e Berlim estão apreensivos e Madrid, Roma e Lisboa estão assustados.
O Syriza (extrema-esquerda)
lidera as sondagens, mas com pouco avanço em relação à Nova Democracia
(direita). Ou seja, é difícil prever o resultado eleitoral. Há, contudo, uma
certeza: não haverá uma maioria absoluta. E este ponto será decisivo. Paira
sobre a política grega uma nuvem bem negra: um governo minoritário. Um
parlamento sem maioria absoluta poderá não conseguir eleger um Presidente da
República. E um executivo sem maioria arrisca-se a ser de curta duração e a enfrentar
novas eleições. Quanto tempo resistirá a economia grega à instabilidade
política? Como vai um governo minoritário negociar um programa de apoio com a
União Europeia, essencial para manter a Grécia no Euro? E se o fizer, como vai
conseguir uma maioria parlamentar para o aprovar?
Os gregos irão certamente
entender o desastre que pode acontecer ao país. Apesar da insatisfação – e
mesmo revolta – e das divisões, há duas coisas que a maioria dos gregos não
ignora. Em primeiro lugar, a economia melhorou nos últimos dois anos. Em
segundo lugar, há muito a perder. Por exemplo, todos os estudos de opinião
mostram que a maioria dos gregos não quer perder o Euro.
Eis o drama grego: o país
necessita de consensos fortes, mas as eleições não vão eleger uma maioria
absoluta. Para evitar novas eleições passados uns meses e uma possível saída do
Euro, quem for eleito agora terá que ser capaz de construir maiorias
parlamentares para dois momentos decisivos: eleição do novo Presidente da
República e aprovação de um novo programa de ajuda da União Europeia. Samaras e
Tzipas irão competir para mostrar aos gregos qual dos dois será capaz de
construir maiorias. Tzipas está à frente nas sondagens, mas Samaras tem mais
credibilidade como líder de coligações.
Título e Texto: João Marques de Almeida, Observador, 6-1-2015
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