segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

The worst is yet to come

Henrique Pereira dos Santos

O título do post era o mantra do senhor diretor-geral da Organização Mundial de Saúde durante muito tempo e continua a ser a base de quase todo o discurso apocalíptico sobre a covid.

A defesa de medidas radicais de contenção da evolução da epidemia assentes na ideia simples (e simplista, mas deixemos isso agora) de que contágio é contato e, portanto, reduzir contatos, coercivamente, se preciso for, é sempre reduzir contágios, vive exclusivamente dessa ideia de que uma desgraça terrível se abaterá sobre nós se não estivermos todos em casa, a um canto, a usar apenas computadores para mantermos as nossas relações sociais.

Sendo verdade que contágio é contato, não é de todo verdade que contato seja contágio e, consequentemente, se o número de contatos que resultam em contágio for suficientemente pequeno, reduzir contatos não altera grande coisa a evolução da epidemia sem que, previamente, estejam bem identificados que tipo de contatos geram contágio.

Note-se que oficialmente um contato de risco elevado pressupõe distâncias menores de dois metros (esta distância varia, na verdade é mais provável que a distância que interessa esteja algures entre o metro e metro e meio), interação face a face e, muito relevante, mas frequentemente esquecido na definição das regras, pelo menos quinze minutos de contato.

Todos os outros contatos são considerados de baixo risco.

Se tomarmos a sério o que acima está dito, não faz o menor sentido obrigar ao uso de máscaras na rua, quando nos cruzamos, para circular momentaneamente num restaurante ou café, quando se está pontualmente numa loja. Note-se que mesmo que se esteja mais que um quarto de hora numa loja, basta estar a mais de um ou dois metros de outras pessoas, menos que quinze minutos, para não haver grande risco de contágio, o que permitiria alterar francamente as regras que hoje tolhem o comércio e a nossa vida quotidiana.

Eu sei que há a conversa dos aerossóis, mas basta arejar para resolver isso. Em qualquer caso, há pouquíssimos casos de contágio associados ao uso de aviões, ou de lojas ou mesmo de transportes públicos em geral, pode-se argumentar que não se sabem onde são a maioria dos contágios, mas isso não é bem assim, por alguma razão os inquéritos epidemiológicos se focam num tipo de contatos - de proximidade, prolongados etc. - e não noutros.

E, por alguma razão, grande parte dos surtos mais preocupantes - preocupantes por continuarem a ser frequentes, preocupantes por evoluírem em grupos especialmente vulneráveis à doença e preocupantes por darem origem a qualquer coisa como 40% da mortalidade - são em lares.

As afirmações de que daqui a duas semanas é que veremos como vai ser dramático continuam a ser desmentidas pela realidade: na maior parte das vezes não se verificam as previsões feitas e, quando aparecem surtos com relevância, apanham toda a gente de surpresa, quer no tempo, quer no espaço, quer na dimensão em que ocorrem.

Em qualquer campo do conhecimento em que uma visão de um problema dessa origem a manifesta incapacidade para prever a sua evolução, quer falhando porque o fenômeno não evolui como previsto, quer porque o fenómeno se manifesta em circunstâncias não previstas, essa visão teria claras dificuldades em se tornar dominante.

Mas na epidemia entram em jogo três fatores fundamentais.

O primeiro, da ordem da racionalidade, é o facto de, no momento da decisão, o erro da previsão não ter custos semelhantes quer se tome a decisão A ou a decisão B. Admitindo-se que a previsão está errada, não agir não tem um grande custo, mesmo que não tenha grande benefício. Admitindo-se que a previsão está certa, não agir tem um custo catastrófico. Logo a incerteza corresponde a um forte incentivo a que se tomem medidas, sejam elas quais forem, tenham elas a eficácia que tenham, que até pode ser nenhuma (no caso da epidemia isto é apenas verdade se se desconsiderarem, como desconsideram, os efeitos secundários das medidas adotadas).

O segundo, da ordem da astrologia sob o manto diáfano do que se decidiu considerar como ciência, é a ideia de que a previsão estava certa, mesmo que não confirmada pela realidade, porque a diferença corresponde ao efeito da ação. Logo, as ações adotadas estarão sempre certas: se a realidade confirmar as previsões, ou se a realidade não confirmar as previsões porque, entretanto, foram adotadas as ações recomendadas.

O terceiro, da ordem da natureza humana: o medo de que "the worst is yet too come", que reforça a aceitação das duas falácias anteriores.

E é isto, o medo do futuro, seja de epidemias, seja do terrorismo, seja da instabilidade social, seja do que for, tem vindo a fazer o seu trabalho de erosão das liberdades individuais e de responsabilização individual pelas opções de cada um.

E isso não é questão que se resolva de forma racional: ou se percebe que os princípios se chamam princípios porque vêm antes de tudo o resto, ou haverá sempre razões para ir aceitando a ideia de que é legítimo ao Estado, arbitrariamente e sem nenhuma fundamentação séria, decidir que num fim de semana eu posso ir à pesca, no outro só posso ir à caça, no outro ainda posso ir visitar a minha avó e no que vem só posso esperar, mesmo que não saiba o que espero.

Título e Texto: Henrique Pereira dos Santos, Corta-fitas, 4-1-2021

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7 comentários:

  1. Tendo em conta que a situação em lugar de melhorar está piorando a olhos vistos, penso que é legitimo concluir que o que está a ser feito não serve para nada, e que os governos fracassaram completamente na missão a que se propuseram, e que o bicho é muito mais esperto que os humanos. Aliás, conseguiu que desaparecessem do mapa doenças como a gripe, é obra.
    Marina

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  2. CONCORDO! RESTA A ESPERANÇA NAS VACINAS,OU REZAR ,PARA QUEM ACREDITA!

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  3. Sempre Mais do MESMO4 de janeiro de 2021 às 17:32

    Taí uma excelente observação: esse virus reduziu as mortes por várias outras doenças. Não se morre de tuberculose, pneumonia, e insuficiências respiratórias como se morria até um ano atras. ...rsrs

    Deve ser um virus orgulhoso, que cura outras enfermidades para ele próprio matar. Algo assim: "agora quem mata sou eu!" ...e cura outras doenças ...rsrs
    O interessante foi mandar as pessoas acometidas ficarem em casa até sentir falta de ar. Como fez o ministro da saúde MANDETTA (um ortopedista por Hobby e político por profissão).
    Ora, os tais respiradores comprados, pagos e não entregues não curam, mas mantém a vida até o tratamento fazer efeito. ENTÃO POR QUE NÃO TRATAR PRECOCEMENTE???

    Ora, dizer que era para ficar em casa até piorar para não congestionar o sistema de saúde é ridículo. Melhor teria sido TRATAR os PACIENTES ANTES QUE PRECISASSEM DE INTERNAÇÃO em UTIs com respiradores. É ABERRAÇÃO LÓGICA.

    Depois negaram e proibiram medicamentos usados há décadas tidos por eficientes. Mesmo que não fossem tão eficientes nenhum mal causam.
    O pior foi o fato daqueles que PROIBIRAM o uso dos medicamentos os TEREM RECEITADO A SI MESMOS e negado (depois descobertos).
    ISSO É CRIME CONTRA A HUMANIDADE o Médico DAVI UIP (sec. saude SP) deveria ser o primeiro julgado por crime contra a humanidade. Um CANALHA, um MANÍACO!!

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  4. Enquanto isso, septuagenário ainda não tomou a vacina antigripal, adiada três vezes pelo Centro de Saúde. Sem data prevista para a aplicação.

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    1. Vacina contra a gripe agendada para amanhã, quarta-feira, 6 de janeiro de 2021.

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  5. ENGANO. "Taí uma excelente observação: esse virus reduziu as mortes por várias outras doenças. Não se morre de tuberculose, pneumonia, e insuficiências respiratórias como se morria até um ano atras. ...rsrs "
    Se morre ainda de tuberculose, pneumonia, e insuficiências respiratórias , mas agora por protocolo o óbito é registrado como covid, pois é o fator determninante que impossibilita as outras doenças ou comorbidades de regredirem.

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  6. Sempre Mais do MESMO5 de janeiro de 2021 às 12:44

    A verdade não é ofensa, é só a exposição da realidade.
    Quando disse que me surpreenderia, pelo que li, de que quem profere asneiras não ser capaz de entender coisa alguma nem do que ouve ou lê, compensando isso ao não entender nem o que fala ou escreve, me referi a coisas desse tipo:

    "Se morre ainda de tuberculose, pneumonia, e insuficiências respiratórias , mas agora por protocolo o óbito é registrado como covid, pois é o fator determninante que impossibilita as outras doenças ou comorbidades de regredirem."

    Bom, se é o covid que impede regressões de outras doenças que que regrediriam, devemos considerar o mesmo número médio e projeções, com padrão de "não regressão".
    Feito isso e fazendo as contas o tal covide praticamente só mata quem ia mesmo morrer. Afinal subtraindo-se dos mortos atribuidos ao virus aquelas mortes subtraidas da média de mortes por outras doenças, não sobra mortos especificamente por Covid. ...rsrsrs
    ...É essa ciência traseiral afirmativa de asneiras desconexas deve ser causada pelo virus também. ...rsrsrs PQP!!!!
    O virus também destrói cérebros impedindo-os de recuperar capacidade lógica que nunca possuiram. ...rsrs

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