Gabriel Mithá Ribeiro
Admitamos a possibilidade formal, nunca de
substância, de separar a inseparável ação
(visível e imediata) do pensamento
(invisível, profundo, de longo prazo). É a forma de explicar o tempo político
que vivemos.
Desde 2019, as sementes
da ação reformista têm sido corporizadas por André Ventura e estão a
germinar com vigor acrescido na campanha em curso para as presidenciais. Por
seu lado, as sementes de pensamento
reformista têm sido corporizadas, na vida política, pela orgânica interna
do Partido CHEGA refletidas nos documentos programáticos e estratégicos
elaborados desde a sua fundação, assim como nas publicações recorrentes feitas
nos meios de divulgação próprios do CHEGA (como este site, ou este) ou individuais, como o caso notável
de João Tilly nas redes sociais.
Se ao nível da ação,
o lado prático ou falado, as
barreiras impostas pelo regime vão sendo quebradas pela inteligência, habilidade,
frontalidade, coragem e força mobilizadora da liderança de André Ventura, é ao
nível do pensamento, o lado teórico
ou escrito, que desespera, como pão
para a boca, da possibilidade de afirmação além do Partido, na grande opinião
pública. Mais do que a ação, o pensamento estratégico que orienta o
movimento CHEGA precisa de sair à rua, ganhar raízes, porém está muito
dependente de um enquadramento institucional controlado pelos grandes órgãos de
comunicação social tradicionais, de ligações aos espaços acadêmicos e demais
espaços públicos de debate de ideias. É aqui que a hostilidade do regime
continua a resistir com virulência.
A inegável violência silenciadora facilita todo o
tipo de ataques, distorções e mentiras chegofóbicas que anulam as possibilidades
de defesa dos visados pela sua própria voz ou escrita nas plataformas às quais
o grande público tem acesso. Tamanha castração gerou o efeito paradoxal de
transformar o fenômeno no de maior impacto social, cívico e político em
Portugal no decurso do ano de 2020.
A componente intuitiva ou popular das transformações em curso, fundamental e cada vez mais sólida, ainda não está a ser devidamente sustentada, junto da grande opinião pública, pela componente não menos sólida e fundamental da produção escrita, a que garante solidez nos domínios moral, intelectual, cívico e civilizacional a qualquer grande movimento reformador que tem de sobreviver a médio e a longo prazos. Quem tiver dúvidas sobre a vitalidade da última componente basta consultar a página oficial e o Facebook do CHEGA, ou as publicações em textos e livros dos membros da atual Direção Nacional ou próximos.
É grosseiramente falsa a tese do CHEGA não ter
pensamento nem pensadores próprios e, acima de tudo, sustentados em grandes
referências intelectuais do Ocidente como Edmund Burke, Alexis de Tocqueville,
Nietzsche, Freud, Ludwig von Mises, Hayek, Jaime Nogueira Pinto, Roger Scruton,
Olavo de Carvalho, Jordan Peterson e mais uma lista interminável desde o Antigo
Testamento ou Platão. Claro que muitos deles não pensam como os intelectuais
favoritos de um regime patologicamente enviesado à esquerda, também com a sua
lista interminável de intelectuais que não são referências do CHEGA por representarem
a quinquilharia intelectual de um tempo miserável e caduco, que frutificou
sobretudo no último meio século, quinquilharia intelectual imposta a todos os
portugueses através do controlo ideológico hegemônico das mentes por via do
ensino, do básico ao universitário. Uma ditadura mental numa dimensão sem
precedentes históricos.
O ano novo
É nesse ambiente que se inicia o ano de 2021. O
momento diz muito, por um lado, sobre a enorme margem de crescimento do CHEGA,
pois é como se apenas metade do potencial do Partido estivesse na rua (a ação) e a outra metade continuasse em
prisão domiciliária (o pensamento) e,
por outro lado, onde se barricam os que o tempo provará serem os carrascos da
dignidade, liberdade e prosperidade dos portugueses. Barricaram-se nas
televisões, rádios, jornais, revistas, assim com nas demais instituições de
controlo do pensamento social como os órgãos de soberania ou as universidades.
Como o peixe, o regime apodreceu pela cabeça.
Além dela, está a emergir uma sociedade ainda
saudável na qual cresce a consciência de viver ostensivamente infantilizada no
seu direito fundamental de acesso a pensamentos, conhecimentos e ambições
incómodos para a casta dominante cuja legitimidade só aos cidadãos no seu
conjunto compete julgar, em especial através do voto livre. Os portugueses
estão a começar a reagir à gravidade da sua própria situação existencial, uma
vez que o óbvio silenciamento de André Ventura e do CHEGA está a revelar-se
tão-só um sintoma de recalcamentos tenebrosos. Estão em causa dimensões
fundamentais da vida religiosa, identidade nacional, história secular, filiação
a certos valores e tradições, liberdade de pensamento, direito humano
fundamental de ser branco e heterossexual, entre outros sentimentos legítimos e
características da vida quotidiana de uma sociedade civilizada do primeiro
mundo, mas grosseiramente escorraçados do direito de existir em Portugal por um
regime político terceiro-mundista. Desde 1974, este concedeu à esquerda o poder
exclusivo de reprimir os seus adversários e, por arrasto, humilhar a dignidade
secular de uma nação das mais antigas na face da terra.
Atribuir a André Ventura e ao CHEGA o mero
aproveitamento da insatisfação popular faz parte do dever de impor a alienação
mental por aqueles que venderam a alma a troco da subsidiodependência,
colocando-se na vergonhosa subserviência mental face ao poder político vigente.
Basta ler com um mínimo de inteligência e honestidade os escritos produzidos
desde 2019, e que se adensam, para não restarem quaisquer dúvidas de que a
legitimidade da afirmação social de André Ventura e do CHEGA apenas cresce
porque se alimenta da reivindicação do respeito absoluto pelos mais nobres
princípios da dignidade, plenitude e complexidade da condição humana.
Tal postura está necessariamente filiada aos mais
nobres princípios da Justiça, Liberdade Individual, Democracia e Estado de
Direito sedimentados ao longo da milenar Civilização Ocidental que o narcisismo
esquerdista jamais entendeu ou entenderá. É justamente por causa desses
princípios que se pode, deve e tem de se criticar ciganos, negros, islâmicos,
brancos, pobres, ricos, os reiterados abusos do Estado e todos e tudo o mais.
Só em regimes censórios e repressivos a crítica social é seletiva, tem de pedir
licença aos ideólogos do turno, vive permanentemente vigiada por leis e
decretos do parlamento e governos ou por polícias
do espírito, como o SOS Racismo. Não existem diferenças de substância entre
o que hoje existe e a repressão do tempo do PIDE e da DGS.
Faz ainda parte dos princípios do mundo civilizado
o direito inalienável das nações à prosperidade econômica, sendo que a autoridade moral da prosperidade é uma
das fontes da legitimação dos regimes políticos. Em sentido inverso, o arrastar
por décadas de sucessivos falhanços econômicos deslegitima esses mesmos regimes
aos olhos de sociedades conscientes da sua dignidade e direitos na relação com
os seus poderes tutelares.
Apesar das circunstâncias profundamente adversas,
é irrefutável que a sociedade portuguesa evidenciou fissuras na relação com o
regime político vigente ao eleger livremente, em 2019, para o Parlamento
Nacional pelo círculo eleitoral da capital, Lisboa, um deputado antissistema
pelo Partido CHEGA. Decorrido cerca de um ano, ficou evidente que as fissuras
se estendem por todo o território nacional e numa dimensão bem mais
pronunciada, conforme comprovou a eleição de dois deputados para o Parlamento
da Região Autónoma dos Açores que, além do facto em si, teve consequências
substantivas na alteração dos equilíbrios políticos da região ao fim de mais de
duas décadas de domínio da esquerda socialista.
Num curto intervalo de três meses, seguir-se-á a
eleição presidencial no próximo dia 24 de janeiro de 2021. Esta seguramente
confirmará transformações que se avolumam de baixo para cima, da Sociedade
contra o Regime. A próxima consulta popular deixará evidente que as fissuras
assumiram a dimensão de uma cratera. Basta que o único candidato antissistema,
André Ventura, obtenha uma percentagem de votação de dois dígitos para
ratificar a aceleração da cadência da dissociação entre o Poder e o Povo (expressão feliz de Vasco Pulido Valente), e que irá
certamente prosseguir se juntarmos o detalhe de uma parte fundamental da força
do CHEGA, a doutrinária ou escrita, ainda continuar desconhecida da grande
opinião pública, e mais o desgaste irreversível de um regime agonizante.
Nada disto estaria a acontecer, por um lado, se a
sociedade portuguesa não tivesse começado a sentir, por si mesma, ter sido
encaminhada pelo regime vigente para o falhanço e, por outro lado, se essa
mesma sociedade não começasse a vislumbrar no horizonte possibilidades de
resposta efetiva aos seus anseios.
Acrescento um último «se». Se o resultado da
eleição presidencial confirmar o cenário traçado, como tudo indica, a
sobrevivência do regime passará a situar-se numa dimensão de tal modo
significativa que ficará, daí em diante, aberta a possibilidade real do fim da
Terceira República Portuguesa, a nascida em 1974. O seu destino
transformar-se-á num assunto corrente no debate político habitual e, pela mão
de André Ventura e do CHEGA, cada vez mais portugueses legitimarão o advento da
Quarta República.
Façamos, por isso, de 2021 o ano da dobragem do
Cabo das Tormentas.
Título e Texto: Gabriel Mithá Ribeiro, Vice-Presidente do CHEGA!, 4-1-2021
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