Histeria, ignorância, desonestidade e falta
de educação dos inquisidores só serviram, até agora, para converter os que já
foram convertidos
J. R. Guzzo
A primeira denúncia de
corrupção no alto escalão da administração Bolsonaro, após dois anos e meio de
governo, começou mais ou menos ao contrário do roteiro normalmente seguido
neste tipo de novela.
Denúncia de ladroagem, pelo
modelo clássico, começa com a apresentação de fitas gravadas, um vídeo, uma
foto, ou algo assim, mostrando que alguém cometeu alguma safadeza — ou que é
altamente suspeito de ter cometido.
Pode haver também a divulgação
de documentos, assinaturas, contratos ou notas fiscais. Às vezes há testemunhas
de conversas ou de encontros — podem não ter sido gravados ou filmados, mas
alguém estava lá, viu e ouviu o que aconteceu. Pode haver, até mesmo, delação —
premiada ou grátis.
Enfim: sempre, na denúncia de
roubalheira, começa-se com as provas, ou com aquilo que o acusador diz que são
provas. Depois, é claro, essas provas podem se revelar fracas, mal apresentadas
ou falsas — mas é por aí que se começa sempre, pelas provas.
No caso da denúncia sobre a compra da Covaxin, episódio que por enquanto teve sua vida limitada ao ecossistema da “CPI” de Renan Calheiros e da mídia, está acontecendo exatamente o contrário. Primeiro apareceu o acusador, em meio à gritaria do circo armado dentro do Senado — mas provas mesmas, que é o que interessa, o homem diz que vai apresentar depois, “se for necessário”.
Como assim “se for
necessário”? A prova é tudo o que realmente interessa numa denúncia de
corrupção — não pode ser um detalhe, para se ver mais tarde. O deputado que
veio com a denúncia diz que, se for “obrigado”, ele terá “como provar” o que
está dizendo. Que história é essa? Ele acha que prova é algo opcional, que o
sujeito mostra ou não — e todo mundo no comando da “CPI” leva a coisa perfeitamente
a sério.
O pior é que o acusador fica
ameaçando detonar todo mundo, na base do “me segura, senão eu vou ter de
brigar”. Tira, põe, deixa ficar — e o que se tem de concreto, até agora, após
uma semana inteira de fim do mundo, é três vezes zero.
A “CPI” da Covid nasceu morta,
porque nasceu mal-intencionada. Fez questão, desde o primeiro minuto, de não
investigar a verdadeira corrupção na administração da epidemia — a que foi
praticada pelas “autoridades locais”, com a benção e permissão do Supremo Tribunal
Federal. Em vez disso, dedicou-se de corpo e alma ao seu objetivo de fazer
guerrilha política ao governo, na eterna esperança de virar a mesa que tem
marcado cada passo e cada ato da oposição.
O governo é acusado, ao mesmo
tempo, de retardar e de apressar a compra das vacinas. A denúncia
de corrupção é uma falsificação grosseira. A histeria, a ignorância, a
desonestidade e a falta de educação dos inquisidores só serviram, até agora,
para converter os que já foram convertidos. É um balanço triste.
Título e Texto: J. R. Guzzo, Gazeta do Povo, 27-6-2021, via revista Oeste, 28-6-2021, 18h
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