segunda-feira, 28 de junho de 2021

A CPI da Covid nasceu morta, porque nasceu mal-intencionada

Histeria, ignorância, desonestidade e falta de educação dos inquisidores só serviram, até agora, para converter os que já foram convertidos

J. R. Guzzo

A primeira denúncia de corrupção no alto escalão da administração Bolsonaro, após dois anos e meio de governo, começou mais ou menos ao contrário do roteiro normalmente seguido neste tipo de novela.

Denúncia de ladroagem, pelo modelo clássico, começa com a apresentação de fitas gravadas, um vídeo, uma foto, ou algo assim, mostrando que alguém cometeu alguma safadeza — ou que é altamente suspeito de ter cometido.

Pode haver também a divulgação de documentos, assinaturas, contratos ou notas fiscais. Às vezes há testemunhas de conversas ou de encontros — podem não ter sido gravados ou filmados, mas alguém estava lá, viu e ouviu o que aconteceu. Pode haver, até mesmo, delação — premiada ou grátis.

Enfim: sempre, na denúncia de roubalheira, começa-se com as provas, ou com aquilo que o acusador diz que são provas. Depois, é claro, essas provas podem se revelar fracas, mal apresentadas ou falsas — mas é por aí que se começa sempre, pelas provas.

No caso da denúncia sobre a compra da Covaxin, episódio que por enquanto teve sua vida limitada ao ecossistema da “CPI” de Renan Calheiros e da mídia, está acontecendo exatamente o contrário. Primeiro apareceu o acusador, em meio à gritaria do circo armado dentro do Senado — mas provas mesmas, que é o que interessa, o homem diz que vai apresentar depois, “se for necessário”.

Como assim “se for necessário”? A prova é tudo o que realmente interessa numa denúncia de corrupção — não pode ser um detalhe, para se ver mais tarde. O deputado que veio com a denúncia diz que, se for “obrigado”, ele terá “como provar” o que está dizendo. Que história é essa? Ele acha que prova é algo opcional, que o sujeito mostra ou não — e todo mundo no comando da “CPI” leva a coisa perfeitamente a sério.

O pior é que o acusador fica ameaçando detonar todo mundo, na base do “me segura, senão eu vou ter de brigar”. Tira, põe, deixa ficar — e o que se tem de concreto, até agora, após uma semana inteira de fim do mundo, é três vezes zero.

A “CPI” da Covid nasceu morta, porque nasceu mal-intencionada. Fez questão, desde o primeiro minuto, de não investigar a verdadeira corrupção na administração da epidemia — a que foi praticada pelas “autoridades locais”, com a benção e permissão do Supremo Tribunal Federal. Em vez disso, dedicou-se de corpo e alma ao seu objetivo de fazer guerrilha política ao governo, na eterna esperança de virar a mesa que tem marcado cada passo e cada ato da oposição.

O governo é acusado, ao mesmo tempo, de retardar e de apressar a compra das vacinas. A denúncia de corrupção é uma falsificação grosseira. A histeria, a ignorância, a desonestidade e a falta de educação dos inquisidores só serviram, até agora, para converter os que já foram convertidos. É um balanço triste.

Título e Texto: J. R. Guzzo, Gazeta do Povo, 27-6-2021, via revista Oeste, 28-6-2021, 18h

Relacionados: 
Número de brasileiros com primeira dose de vacina supera 70 milhões 
Carla Zambelli responde a Omar Aziz 
CoronaVac não é adequada para combater a pandemia, diz primeiro-ministro da Itália 
LIVE com o presidente Bolsonaro, 25 de junho 
Universidade de Oxford testa ivermectina contra a covid-19 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-