Percival Puggina
Não há democracia sem isso,
ainda que só isso não lhe baste. A vontade popular também se manifesta de
outras formas e um de seus piores inimigos é o cesarismo arrogante dos poderes
sem voto.
Não são necessárias lupas nem
microscópios para identificar os sintomas de que o topo do Poder Judiciário
brasileiro, ciente do desapreço social, abraçou-se a um roteiro de auto
degradação assumindo como seu, em quase tudo, um papel “contra majoritário”. Ou
seja, ao ignorar a vontade expressa nas urnas e ao voltar as costas para
manifestações populares, supõem tais autoridades estar salvando a nação de si
mesma! É o cesarismo arrogante, de convicções transitórias, que se crê
“herdeiro” dos pais da pátria.
Insistem os ministros em que o
voto impresso é inconstitucional, enquanto dar sumiço no voto do eleitor é
procedimento muito legal. Em entrevistas permeadas de desprezo a essa pobre
infeliz que atente pelo apelido de opinião pública, reiteram que são sem
fundamento as suspeitas manifestas no parlamento e nas ruas. Advertem que o
voto impresso suscitará pedidos de recontagem como se isso fosse uma anomalia
quando, na verdade, é apenas trabalho para a Justiça Eleitoral.
Sobre todos os argumentos em favor do deixa tudo como está, se eleva a afirmação de que nunca foi comprovada qualquer fraude ao sistema. Ora, pergunta-me o mais comum dos sensos comuns: como provar fraude em eleições cujos votos não podem ser auditados porque foram eletronicamente destruídos no apito da pequena maquineta?
Também dá o que pensar o fato
de o voto impresso, conferido pelo eleitor e mecanicamente guardado em
recipiente próprio, ter sido – também ele! – politizado. A direita é favorável;
a esquerda é contrária. Por quê? A esquerda confia na máquina e tem, também
nisso, aval do STF (aquele Supremo outorgado ao país por José Dirceu e seus
amiguinhos). Qual motivação leva o cidadão comum a se opor ao direito de
conferir seu próprio voto e de saber que, em caso de dúvida, ou por amostragem,
ele poderá ser auditado?
Dá ou não dá o que pensar? Dá,
sim, tanto quanto a irrelevância com que o assunto é tratado nos mais altos
escalões do Poder Judiciário, cujos membros deveriam meditar sobre o quanto é
essencial à democracia e à legitimidade social dos mandatos a credibilidade do
eleitor no processo de votação e apuração. Ou não? Por tais razões, sou pela
PEC do voto impresso.
Percival Puggina
(76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é
arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais
(Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões;
A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo
Pensar+. Puggina.org,
22-6-2021, 10h17
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