sexta-feira, 30 de julho de 2021

Egotismo

Andrew Lobaczewski

Chamamos de egotismo a atitude, subconscientemente condicionada como uma regra, pela qual atribuímos valor excessivo aos nossos reflexos instintivos, às nossas imaginações e hábitos adquiridos desde muito cedo, e à nossa visão de mundo individual.

O egotismo atrasa a evolução normal da personalidade, porque estimula a dominação da vida subconsciente e torna difícil aceitar os estados desintegrativos que podem ser muito proveitosos para o crescimento e desenvolvimento. Esse egotismo e a rejeição da desintegração, por outro lado, favorecem o aparecimento de reações para-apropriadas como descrito acima.

Um egotista mede as demais pessoas pelos seus próprios parâmetros, tratando seus conceitos e modos de experiência como critério objetivo. Ele gostaria de forçar as outras pessoas a sentir e pensar exatamente do mesmo jeito que ele.

As nações egotistas têm um objetivo subconsciente de ensinar ou forçar as demais nações a pensar dentro de suas próprias categorias, o que faz com que sejam incapazes de entender as outras pessoas e nações, ou de se tornarem familiares com os valores de suas culturas.

A educação apropriada e a autoeducação, desta forma, sempre ajudam a “de-egotizar” uma pessoa jovem ou adulta e, com isso, abrem a porta para que a mente e o caráter se desenvolvam. Os psicólogos práticos, apesar disso, acreditam comumente que uma certa medida de egotismo é útil como um fator de estabilização da personalidade, prevenindo-a de desintegrações neuróticas demasiadamente simplistas e, com isso, tornando possível superar as dificuldades da vida.

Apesar disso, existem pessoas fora do comum, cujas personalidades são muito bem integradas, mesmo sendo quase totalmente desprovidas de egotismo; isso as permite entender os outros muito facilmente.

O tipo de egotismo excessivo que atrasa o desenvolvimento dos valores humanos e leva a um julgamento equivocado, e a aterrorizar os outros, merece muito bem o título de “rei das falhas humanas”.

Dificuldades, disputas, problemas sérios e reações neuróticas brotam em todos que estejam ao redor de tal egotista, tais como cogumelos após a chuva. As nações egotistas começam a gastar dinheiro e esforços para atingir seus objetivos derivados de seu raciocínio errôneo e de suas reações exageradamente emocionais. Sua inabilidade em reconhecer os valores e as diferenças de outras nações, derivadas de outras tradições culturais, levam ao conflito e à guerra.

Nós podemos diferenciar dois tipos de egotismo: o primário e o secundário. O primeiro vem de um processo mais natural, a saber, o egotismo natural da criança e os erros em sua criação, que tendem a perpetuar esse egotismo infantil.

O segundo ocorre quando uma personalidade que superou seu egotismo infantil regressa a esse estado sob pressão, o que leva a uma atitude artificial caracterizada por uma grande agressão e nocividade social.

O egotismo excessivo é uma propriedade constante da personalidade histérica, não importando se sua histeria é primária ou secundária. É por isso que o aumento no egotismo das nações deve ser atribuído, antes de mais nada, ao ciclo de histeria descrito acima.

Se analisarmos o desenvolvimento das personalidades excessivamente egotistas, nós sempre encontraremos algumas causas não-patológicas, tais como ter crescido em um ambiente com uma rotina exagerada e apertada ou ter sido criada por pessoas menos inteligentes que a criança.

Contudo, a principal razão para o desenvolvimento de uma personalidade exageradamente egotista em uma pessoa normal é a contaminação, através da indução psicológica, por pessoas excessivamente egotistas ou histéricas que, por si mesmas, desenvolveram esta característica sob a influência de várias causas patológicas.

Muitas das anomalias genéticas descritas anteriormente causam o desenvolvimento de personalidades patologicamente egotistas, dentre outras coisas.

Muitas pessoas com várias anomalias hereditárias e defeitos adquiridos desenvolvem um egotismo patológico. Para tais pessoas, forçar outros ao seu redor, grupos sociais completos e, se possível, nações inteiras a sentir e pensar como elas mesmas, torna-se uma necessidade interna, um conceito dominante.

Um jogo, que uma pessoa normal não levaria a sério, pode tornar-se um objetivo de vida para eles, objeto de esforço, sacrifícios, e estratégia psicológica perspicaz.

O Egotismo patológico deriva da repressão, do campo de consciência de uma pessoa, de quaisquer associações autocríticas censuráveis que se refiram à normalidade ou à natureza própria dessa pessoa. Questões dramáticas como “quem é anormal aqui? eu ou esse mundo de pessoas que sentem e pensam de forma diferente?” são respondidas desfavorecendo o mundo. Tal egotismo é sempre ligado a uma atitude dissimulada, com uma máscara de Cleckley sobre alguma qualidade patológica que está sendo escondida da consciência, tanto a sua própria como a das outras pessoas.

A maior intensidade de tal egotismo pode ser encontrada na caracteropatia pré-frontal descrita acima.

A importância da contribuição desse tipo de egotismo para a gênese do mal, assim, dificilmente necessita elaboração. Trata-se de uma influência social, principalmente, egotizando ou traumatizando os outros que, por sua vez, causam dificuldades posteriores.

O egotismo patológico é um componente constante de estados variados nos quais alguém que parece ser normal (embora, de fato, não seja tanto assim) é direcionado por motivações ou que batalha por objetivos que uma pessoa normal consideraria irreais ou improváveis.

A pessoa mediana pode perguntar: “o que ele espera ganhar com isso?”. A opinião do ambiente, contudo, frequentemente interpreta tal situação em concordância com o “senso comum” e é, então, propensa a aceitar uma versão “mais provável” da situação e dos eventos. Tal interpretação sempre resulta em tragédia humana.

Portanto, nós devemos sempre lembrar que o princípio da lei cui prodest torna-se ilusório todas as vezes que um fator patológico entra em cena.

Título e Texto: Andrew Lobaczewski, in “Ponerologia: Psicopatas no poder,” páginas 125, 126 e 127
Digitação: JP, 30-7-2021

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