Nome completo: Lourenço Farrajota Cristina Bray
Nome de Guerra: Lourenço, mas na playstation e
outras plataformas de gaming online é aguia77
Onde e quando nasceu?
Bruxelas, Bélgica, 1977.
Onde estudou?
Instituto Superior de Economia
e Gestão, curso de Matemática Aplicada à Economia e Gestão.
Onde passou a infância e
juventude?
Passei a infância numa pequena
aldeia a 12km a sul de Torres Vedras, as Carreiras [foto abaixo], vindo de Bruxelas com 5
anos. Depois, com 9 ou 10 anos fui para Torres Vedras onde fiquei até ir para a
universidade.
Qual (ou quais)
acontecimento marcou a sua infância e juventude?
Na infância, salientaria mesmo
a transição de vida de uma grande metrópole europeia, num país rico e
desenvolvido como a Bélgica em 1981, para um contexto de aldeia no Portugal
rural pós-revolucionário. Nem falava português. Tinha apenas 4 ou 5 e anos e
recordo-me com grande nitidez da mudança, da viagem, das primeiras interações
com miúdos da minha idade, de ouvir português e não entender nada. Felizmente
tinha um amigo, o Marco, filho de emigrados em França regressados à aldeia, que
sabia falar francês e foi intérprete.
Foram sempre todos muito
amistosos e ainda hoje os considero amigos e sigo-os - vantagens de plataformas
como o facebook. Nem me recordo de aprender português, em poucas semanas ou
meses estava a falar. E com pronúncia local, para desespero do meu pai que me
corrigia. Foi um período muito feliz. A vida na aldeia nessa época era algo mágico.
Depois há uma série de
acontecimentos, como na biografia de toda a gente… Por exemplo, a morte do meu
primeiro cão, o Garoto, algo trágica, abatido pelo meu próprio pai. Era um cão
muito mau, muito perigoso, já me tinha atacado uma vez e arrancado uma unha de
um dedo, embora eu tenha sido palerma ao fazer-lhe uma festa enquanto comia.
Adorava o cão, toda gente
tinha medo ele. Um dia atacou uma vizinha, felizmente sem gravidade, mas teria
de ser abatido e o meu pai recusou-se a levá-lo a um matadouro ou ao
veterinário e fez o serviço ele próprio. Ainda me lembro de o ver com o corpo
do cão num lençol, nos braços.
Enfim, tenho mais memórias,
penso que as crianças registam “cenas” assim.
A juventude teve muitas memórias, saliento ter saído de Torres Vedras para Lisboa e, portanto, começado a viver sozinho. Também salientaria a primeira vez que beijei uma rapariga, foi muito tarde, porque sou uma pessoa das que vai para cursos de matemática, faz parte.
Vai frequentar que
faculdade?
ISEG, Instituto Superior de
Economia e Gestão, curso de matemática aplicada à economia e gestão. Era uma
universidade bastante simpática no centro de Lisboa, convenientemente perto dos
bares da 24 de julho e do Bairro Alto.
Escolhi o curso porque me parecia muito difícil, apareceu num artigo qualquer de uma revista que o colocava nos três mais difíceis do país a par de engenharia aeroespacial no técnico e outro que não me recordo. Confirmo que era difícil. Nunca tinha tido uma só negativa na vida e logo no primeiro exame a uma das cadeiras tive 3 em 20. Fiquei em choque.
“uma pessoa das que vai
para cursos de matemática”: qu’est-ce que ça veut dire?! 😉
Como dizer… Apesar de ser um
bocado marrão na adolescência e de colecionar selos e fósseis, não é que as
raparigas não fossem uma prioridade para mim... eu é que talvez não fosse uma
prioridade para as raparigas. Ou, pelo menos, para as de quem eu gostava mais.
Evoluí muito. Com o meu primeiro salário comprei um telescópio para me
dedicar à astronomia amadora e agora, vinte anos depois, estou a fazer
ultramaratonas, a partir o tornozelo num skate park e em vias de
comprar um pequeno descapotável de dois lugares em segunda mão. Estarei a ficar
cada vez menos uma pessoa que foi para cursos de matemática? Talvez.
Quando começou a trabalhar?
O meu primeiro emprego foi nas
vindimas, para comprar um fato de surf e um smoking para ir a um baile.
Na universidade, trabalhava
aos fins de semana numa quinta de casamentos, a Quinta do Espanhol, vestido com
uma fantasia medieval. Era divertido e pagava-me os copos.
Mas trabalhar a sério foi
ainda durante o meu último ano de curso pelo meu professor de estratégia
empresarial, o professor Luís Nazaré, para trabalhar com ele na ANACOM. Foi no
fim de uma aula em que fiz uma apresentação sobre o futuro dos media. Foi um
convite importante porque na altura eu estava desmotivado com perspectivas como
trabalhar em banca, seguros, consultoras de IT e, na verdade, gostava mesmo de
estratégia empresarial, a área em que mais tarde acabei por trabalhar mais e
trabalho ainda.
Era um aluno médio naquele
contexto, tinha colegas brilhantes, por isso o convite daquele professor
surpreendeu-me. Eu ainda disse humildemente “ó professor, olhe que a turma tem
aqui colegas com notas muito melhores que as minhas” e ele apertou-me o ombro
que até magoou e disse “nunca duvide do seu valor! Apareça lá na próxima
segunda feira!”
E o que aconteceu quando você
apareceu?
Começou a minha experiência
não apenas com a administração pública e sector público, mas com o que são
grandes organizações, adultos no local de trabalho etc. Iria fazer um estágio a
correr muitos departamentos, mas começaram a levantar questões, o que é normal,
aquilo furava um pouco os procedimentos burocráticos e as vontades de cada
diretor. Lá arranjaram um sítio para mim onde até me dei bem e fui muito bem
tratado, mas não era o que tinha em mente. Praticamente nunca mais vi o
presidente.
Não me queixo, é igual em todo
lado e em qualquer organização, embora haja graus diferentes. Um jovem é um
pouco idealista na universidade e, além disso, dá-se mais com pessoas da sua
idade.
No mundo do trabalho, de
repente, somos os mais novos e todos são mais adultos e crescidos. Então
imaginamos que são mais sensatos, maduros, competentes e por aí afora e que as
empresas e organizações são eficientes, racionais etc. e chegamos a qualquer
sítio real e costuma ser um choque. Só varia o grau. Ao fim de uns dois anos
acabei por decidir que me queria dedicar à escrita ou outra coisa qualquer.
Especificamente, em que
área/setor/empresa/repartição… aconteceu esse estágio?
Era regulação de mercados, no
caso, telecomunicações, e eu fui para o gabinete de comunicação. Na altura
estavam a migrar um website de uma plataforma para outra e o meu trabalho
durante meses foi verificar se faltavam vírgulas ou números nos textos que
migravam ou que eram publicados. A culpa não era das pessoas, de quem gostei
muito, aliás. Aquele trabalho tinha de ser feito.
Eu já tinha servido à mesa e
feito vindimas, não sou esquisito. Mas vinha de um curso de matemática onde
tinha estudado coisas mais elevadas, digamos assim, e foi um pouco um choque.
Mais tarde transferiram-me para um departamento mais ligado à minha área.
Depois, então, vai se
dedicar à escrita, certo?
Profissionalmente, acabei por
ser convidado para trabalhar em branding numa empresa chamada Mybrand,
pelo lado dos estudos de mercado e estatística e adorei a experiência. Aprendi
imenso e fui para uma área mais próxima das minhas competências, mais
holística. Não era só matemática, tinha análise cultural, social, económica,
tinha psicologia, cultura geral, gestão, tinha criatividade…
Mas antes disso, ainda fiquei
sete anos nesse regulador de mercado. Rapidamente percebi que para mim não era
muito relevante a fonte de rendimentos. Podemos ter qualquer emprego, desde que
com dignidade e tempo para explorar outras dimensões pessoais. Não depender do
que se gosta de fazer também dá liberdade criativa. Quando é preciso viver do
que se gosta de fazer também entram outras coisas chatas.
Por exemplo, descobri que uma
coisa é escrever posts espontaneamente, outra é massacrar a cabeça horas a fio,
meses a, mesmo quando não nos apetece, O meu estilo definha. Não sei, não tinha
energia, vitalidade para algo assim. Quando me pediam contos ou tinha
autoconsciência de estar a escrever um romance, ficava mau.
Agora estou a tentar a publicação de um blogue/página que mantive uns cinco ou seis anos sobre a minha filha, o Diário de Um Pai Solteiro. Quando nasceu a minha filha perdi qualquer desejo de ser escritor. Ainda adoro escrever e escrevo todos os dias. Mas, francamente, passei a gostar mais de correr, fotografar, tocar piano.
Se bem entendi, você está
tentando publicar o que postou nesse blogue, certo?
Sim, estou. Aguardo respostas
nesse departamento, vamos ver como corre.
Que mal lhe pergunte, sei/sabemos
que é muito bom correr, fotografar, tocar piano, bandolim…, mas de onde vêm os
‘recursos’ para pagar as contas de luz, internet, gás, supermercado…?
Como vai a cidade de
Lisboa?
Teve melhores dias. Para mim,
estes confinamentos foram um ponto de viragem na minha relação com a cidade, e
vou sair para viver perto da serra e do mar. É uma tendência global, vimos
outras grandes cidades a passar pelo mesmo.
Na zona onde procurei casa,
por exemplo, todos os agentes dizem que houve um aumento de procura de casas
rurais. Isto pode ser por muitos motivos, para alguns pode ser por medo da
covid-19, para outros, como é o meu caso, pelo receio das medidas e do estado
sinistro a que chegámos.
Quero que a minha filha cresça
num contexto mais natural e saudável, também porque se é para fecharem a escola
todos os invernos, ao menos que tenha natureza ao pé. Também se nota menos a
presença da polícia ou de pessoas de máscara.
Como tem enfrentado a peste
chinesa?
Com grande preocupação pelo
caminho que isto levou. Percebi as decisões no início quando as pessoas
apanharam um grande susto, mas rapidamente a cura criou um problema maior do
que a doença. Não entendo.
As
previsões falharam todas e continuam a levar a sério os mesmos especialistas.
Percebo medidas positivas como vacinas para quem queira, mais camas, mais
médicos, o que for preciso. Não entendo as medidas passivas de ficar fechado em
casa e deixar de viver. Isto para mim logo em abril de 2020 parecia-me tão
absurdo como se o Reino Unido ao ser atacado pela Alemanha nazi em 1940
reagisse vivendo debaixo de terra ou fora do limite dos bombardeiros alemães,
em vez de unir toda a economia num gigantesco esforço de guerra.
Em vez do Keep Calm and
Carry on, temos constantes mensagens de terror em que é o próprio Estado a
aterrorizar os cidadãos. É incompreensível.
Permita-me aplaudir, de pé,
a frase “As previsões falharam todas e continuam a levar a sério os mesmos
especialistas.” No alvo!
Quase dois anos depois, com
confinamentos, restrições, proibições, injeções, vacinas (com uma, duas, três
doses), máscaras (de todo o tipo), multas e prisões… NADA MELHOROU! Pelo
contrário! E exatamente os mesmíssimos que não souberam enfrentar a peste
continuam no comando! Lamentável!
A ciência se deixou
penetrar por um enxame de políticos que de há muito completa as listas de
assalariados dos “centros de pesquisa” ‘daquelas’ universidades…
Permita-me só discordar, eu
acho que algumas coisas melhoraram e tenho a sensação de que as vacinas estão a
resultar. Se não for verdade, então é um embuste de uma dimensão que eu próprio
não seria capaz de conceber. Até acho que deveríamos era estar optimistas e de
parabéns por ter criado vacinas em tempo recorde. E virar a página! E não
voltar a cometer estes erros do passado.
Sobre o que fazer, há dias
mandaram-me um belo ensaio do Soljenitsyn que vive o pesadelo dos gulags
soviéticos. A primeira coisa e mais fundamental é não participar na mentira, é
o que ele diz. A verdade é essencial. Por exemplo, os médias podem replicar
mentiras como a de que um “certificado digital facilita a circulação” ou de
“especialistas preveem mais xis mortos se não fechar as escolas”, temos o dever
de pensar criticamente e não acreditar em tudo o que os governantes e os media
dizem
Eu acho extraordinário que na
generalidade dos temas as pessoas tenham enorme desconfiança face ao discurso
dos políticos em qualquer país no mundo, mas nisto... não. Mesma coisa nos
médias.
Quando um presidente ou
primeiro-ministro diz “vamos baixar impostos” só mesmo um eleitor muito ingénuo
pode acreditar, e geralmente os media poderiam escrutinar. Mas nisto, de
repente, muitos media passaram a acreditar e a repetir ipsis
verbis o que as autoridades veiculam sem qualquer filtro crítico, vendo
as autoridades com um e apenas um vector.
Vendo a multiplicidade de
opiniões de “especialistas”, há uns de meia tigela que nem sequer são da área e
outros com créditos altamente firmados têm opiniões consideradas
“negacionistas”.
As oposições também se uniram
numa espécie de esforço patriótico. Na verdade, é muito arriscado para um
político não alinhar na narrativa oficial, são imediatamente trucidados.
O que fazer? Talvez endurecer
ativismo mais organizado, mas também com os pés mais assentes na terra.
Às vezes acho que só parece
haver dois extremos. O ativismo mais ativo, digamos assim, contra as medidas
tem partido de grupos que também têm opiniões que os descredibilizam por vezes,
como aquelas coisas do 5G, do chip, conspirações etc.
Certo. Falando em mídia e
primeiro-ministro:
Por que, de repente, “os media passaram a acreditar e a repetir ipsis verbis
o que as autoridades veiculam sem qualquer filtro crítico”?
Temos um problema de
independência dos media em Portugal, agravado com a penúria financeira e perda
de relevância que os faz depender cada vez mais dos apoios do Estado, seja em
subsídios, como os 15 milhões que o ministro lhes deu, ou em legislação, como o
recente diploma que supostamente serve para nos proteger de desinformação nas
redes sociais.
Em vários países vemos o mesmo
alinhamento: os media ajudam os governos que protegerem o seu mercado da ameaça
dos social media como fontes de informação. Mas penso que o motivo principal é
fruto do negócio dos media: em qualquer tema adoptam tendencialmente uma
postura sensacionalista, não consubstanciada em análises racionais e
ponderadas. Têm de concorrer por audiências e cliques e nada gera mais atenção
do que medo, morte, doença, catástrofe etc.
Dado que os Governos
precisavam do medo para alterar os comportamentos das pessoas e torná-las
receptivas a aceitar confinamentos e outras medidas, os media acabaram por
fazer a maior parte do trabalho nesse aspecto. A diferença é que desta vez
adoptaram essa postura com um sentido de missão, de responsabilidade social e
não apenas de negócio.
Depois, temos mais fatores,
como uma polarização ideológica que se reflete mais nos media que, em geral,
são alinhados à esquerda e muito hostis a figuras polémicas como Trump ou
Bolsonaro.
Rapidamente se gerou uma
divisão esquerda-direita no que respeita a ideologia covid-19 com o epicentro
nos EUA, mas também no Brasil, parece-me. Por exemplo, era completamente
proibido e negacionista falar na tese do laboratório de Wuhan porque foi Trump
a especular sobre isso.
Obviamente que há excepções,
conheço algumas pessoas de esquerda que estão contra o estado atual de coisas e
pessoas de direita que gostam dos confinamentos e de usar máscara, mas em geral
é o que é.
Em Portugal tem sido a Iniciativa Liberal e o Chega os mais críticos das medidas e não há partido mais hostilizado pelos media do que o Chega.
A que se deve essa
hostilidade?
Não sei, múltiplas
possibilidades que já entram quase no domínio da psicologia, mas não só.
Gostaria de perceber. Penso que uma parte da questão pode prender-se com aquele
ressentimento e hostilidade que as pessoas às vezes podem nutrir pelo outro,
por exemplo, os “jovens”. Isso é muito comum no discurso moralista que também
se vê noutros temas eternos, os clássicos “esta nova geração não tem valores”,
“o mundo está perdido”, “não respeitam ninguém” etc. e que é patente ao longo
da história da humanidade, até filósofos gregos se queixavam disso.
Mas aqui de facto chegou às
crianças e isso já me custa mais perceber. Das imagens que retenho é o absurdo
de esplanadas cheias de gente a conviver sem máscara e a beber cervejas, mesmo
ao lado de um parque infantil coberto de fitas da polícia. E mesmo agora, o
primeiro reflexo dos burocratas no Algarve foi fechar as escolas só porque
“tinham de fazer alguma coisa”.
Depois há a questão do que
acontece ao rendimento das pessoas em virtude do pânico e dos confinamentos.
Antes de avaliar a opinião da
covid-19 de alguém, gosto sempre de saber que profissão e se o rendimento dele
está garantido. Costuma ter uma estranha correlação alguém gostar de fecho de
restaurantes e o facto de não trabalhar na restauração, por exemplo, ou de não
ser motorista da Uber e achar muito bem trabalho a partir de casa.
Pode ter a certeza de que se
os políticos e jornalistas deixassem de receber dinheiro na conta com as
medidas que defendem, a covid-19 desaparecia praticamente em 24h.
Não tenho dúvidas disso.
Muito bem. Me referia à hostilidade da mídia ao partido ‘Chega!’ Por que será?
Em grande parte, a mídia é
dominada por um pensamento tendencialmente à esquerda, progressista,
politicamente correta e está muito traumatizada com fenômenos como Donald
Trump, Bolsonaro ou Boris Johnson. Ri-me muito com um título qualquer de um
jornal português que dizia “O impopular Boris Johnson vence com maioria
absoluta”. É fascinante, eles nem se apercebem.
Claro que há coisas no Chega
de que se pode não gostar. É subjetivo, eu pessoalmente abomino o discurso
anti-imigração ou anti-ciganos. Não que não possam existir problemas, que
certamente existem, a questão é fazer disso um tema e cavalgá-lo de forma
populista, com ódio. E o André Ventura também é uma personagem que irrita
facilmente quem não gostar dele. Aliás, essa é a principal qualidade que vejo
no André Ventura, como via no Donald Trump: irritar os mídia e mostrar quão
entrincheirados estão em ideologia na forma de ver a realidade. Estão
convencidos que são do bem, que são excelentes pessoas e quem pensa diferente é
malévolo. Dão um tom moral completamente diferente às mesmas coisas. Ainda
agora o democrata Joe Biden bombardeou a Síria e o Iraque e zero capas de
jornais com “Biden é uma ameaça à paz mundial” ou algo assim, no tempo do Trump
era todos os dias, aliás vaticinaram a 3ª guerra mundial com a sua eleição.
Pelo que se lê no Diário
de Notícias, Público, Expresso… não há governo mais
competente do que o governo de Portugal. A culpa (única) do número de casos, ou
aumentos dos, é da população, do Natal, da Páscoa, dos aniversários,
casamentos, batizados etc. é isso mesmo?
Sim. Isso é uma mudança de
paradigma, a meu ver. Em vez de vermos um vírus ou doenças ou tragédias como
algo que infelizmente aconteceu e com que temos de lidar, algures deu-se a
mudança e passou a ser visto como algo moral, até porque eles acreditam que os
assintomáticos são uma força relevante na transmissão da doença quando não há
estudos que o demonstrem, pelo contrário.
Houve campanhas dos media e da
DGS que tornaram isto muito explícito, seja em reportagens sobre o “sentimento
de culpa” de filhos que infectaram os pais e os mataram, seja em outdoors na
rua com pessoas moribundas em ventilação com frases como “uma janela aberta
poderia ter evitado isto” etc. É surreal.
Imagine, ao longo da história
quantos milhares de milhões de pessoas não infectaram alguém sem querer? Claro
que há limites, uma pessoa com tuberculose em fase contagiosa por exemplo já
tinha limitações para não contagiar outros.
Mas agora até fazem acreditar às crianças que elas podem matar os pais e os avós, como se fosse alguma coisa razoável. E agora querem vaciná-las. É absolutamente surreal. E eu não sou contra as vacinas, bem pelo contrário.
Já foi vacinado?
Primeira dose, falta a
segunda. Já tinha viagem marcada há muito tempo e não queria arriscar a lotaria
dos testes a lixar-me os planos. Hesitei bastante, mas na altura ainda não
havia a pressão que há agora com os restaurantes e hotéis.
Depois de investigar, nesta
fase percebi que não havia um risco significativo, pelo menos não maior do que
a própria covid-19 para a minha faixa etária - que já considerava irrelevante.
Vi mais como um procedimento burocrático. Mas está cada vez mais a deixar de
ser e é vergonhosa a pressão.
Eu nunca irei a um hotel ou
restaurante ou espetáculo em que tenha de mostrar um certificado ou teste. Vi o
contexto de viagens mais lógico para algo assim - discordo, mas é mais lógico
porque já se controlam as fronteiras com passaportes e vistos e outras
burocracias. Ou seja, são pontos em que os cidadãos são sujeitos a condições
que podem até ser muito arbitrárias, mas são o direito daquele país ou região
de nos aceitar lá.
Se um país ou uma região
autónoma impõe condições draconianas como Austrália e Nova Zelândia posso
discordar, mas estão no direito deles: cadastro, emprego, país de origem, se
transporta animais de estimação ou não etc.
Conhecia o “Cão”?
Eu acho que já o tinha visto
há muito tempo, é uma referência nos blogues, mas não o conhecia. Entretanto já
estive (visitando).
Torres Vedras tem assim
pronúncia diferente?
Tem, mas é difícil colocar por
escrito. É como um alentejano muito rápido e tem uma entoação cantada, irónica,
em suspenso. Tem expressões como “ó quê?” Que se usam em frases como “Tás parvo
ó quê?” Ou “tás a anhar ó quê?”. Outras são “na vês ó…” Nunca me apercebi disso
até me terem dito, em Lisboa, que eu tinha pronúncia de Torres Vedras.
Tem opinião sobre o Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa (1990)?
Tenho: quase nunca uso, só
quando obrigado por questões profissionais. Posso usar algumas coisas
inconscientemente. Acho uma aberração. “Conceção”, “receção”, “espetador”… O
óptico dos olhos que passou a ótico que na realidade significa próprio do
“ouvido”, portanto criando confusão.
Temos Egito, mas também temos
egípcios. Enfim, só mesmo burocratas doidos é que se lembrariam de esquartejar
uma língua dessa forma, num gabinete.
É também não reconhecer a
legitimidade de todas as línguas, como se houvesse uma forma correcta de
escrever ou falar. E negar que podem evoluir organicamente.
Não sou conservador, mas
irrita-me quando burocratas sem qualquer sensibilidade se unem num projecto
utópico qualquer de uniformizar algo.
Conhece o Brasil?
Conheço mal o Brasil. Só estive
em São Paulo algumas vezes, a trabalhar para a Heineken, e fui ao Rio de
Janeiro uma tarde, para ter uma reunião na Oi e voltar. Foi muito estranho
visitar aquele local tão exótico e nem sair do taxi.
Quero voltar, talvez volte
para fazer uma ultramaratona que um amigo meu organiza, a Extremo Sul, que
decorre na maior praia do mundo em Rio Grande.
O que conheço do Brasil é mais
pela televisão e pela cultura e por amigos brasileiros. Em Portugal há uma
forte ligação ao Brasil pelo que sempre fez parte da nossa cultura.
Acompanha a atualidade
brasileira?
Acompanho a atualidade sim,
pelo menos as linhas gerais, os grandes temas que têm eco internacional.
Depois, o que sei é por amigos brasileiros que imigraram para Portugal.
Vai votar nas próximas
eleições autárquicas?
Vou votar no Bruno Horta
Soares, candidato da Iniciativa Liberal em Lisboa. Na verdade, agora que penso
nisso, não sei se vou votar em Lisboa porque, entretanto, já mudei de casa e,
portanto, se calhar, voto na área de Sintra.
Mas em Portugal nesta fase identifico-me mais com a Iniciativa Liberal, partido no qual me filiei para apoiar. É um partido recente e o que mais se adequa às minhas opiniões, e é um tipo de pensamento que faz muita falta em Portugal.
Qual a sua posição em
relação às touradas?
Pessoalmente não gosto da
tourada. O meu pai gostava bastante. Tive muitas discussões com ele sobre isso,
lembro-me de sair da sala em protesto enquanto ele via a tourada. Mas após
bastante reflexão sou contra qualquer proibição.
Primeiro, acho que é uma
hipocrisia muito grande, eu como carne, eu sei o que os animais sofrem. Teria
de examinar a minha própria consciência. Segundo, acho residual, talvez fosse
mais significativo a nível de sofrimento animal comermos menos carne e de
melhor qualidade do que ficarmos focados no sofrimento de alguns animais (que
de resto têm vidas magníficas antes da tourada em si, muito melhores que
qualquer animal de abate). Terceiro, irrita-me a urbanidade a ditar o que é
correcto ou errado, há algo verdadeiramente deprimente nisso. E por último o
valor cultural que efectivamente tem, sempre o reconheci, é algo bonito e
único. Como disse, eu não gosto porque não consigo escamotear o sofrimento do
animal, sinto-o sozinho numa arena e acossado e vejo a crueldade humana sublimada
naquela encenação. Mas a crueldade humana é real e está em mim, nem que seja
quando compro carne embalada no supermercado. Se calhar não gosto porque me faz
ver quem eu sou na verdade.
A lei antipedofilia votada
no Parlamento da Hungria, que proíbe propaganda LGBT e da homossexualidade
junto dos menores de 18 anos, foi aprovada por 157 votos contra 1. Você
concorda com a interferência do Parlamento Europeu no legislativo húngaro?
Não concordo com a
interferência, mas também não concordo com uma mistura da “antipedofilia” com
outros temas, isto porque acho que há um preconceito em ligar as coisas e a
Hungria tem um governo que me parece homofóbico e populista. Teria de conhecer
a fundo os diplomas, que não conheço. Em geral contudo sou absolutamente contra
as escolas entrarem nesses domínios. E contra o Parlamento Europeu querer impor
a sua ideologia específica aos estados. Acho que o Parlamento devia ficar-se
por coisas mais económicas. Vejo a UE como uma mera união pragmática de moeda
única, de resto deixe-se estar sossegada que é melhor.
Uma pergunta que não foi
feita?
Acho que foram feitas todas as
perguntas 😊
A derradeira mensagem:
Não tenho uma derradeira
mensagem. Sinto que não estou em posição de dar uma mensagem a ninguém. Se
calhar essa é a minha mensagem!
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Vista do meu escritório, Amoreiras, Lisboa |
Obrigado, Lourenço! 😉
Vitor Dias
ResponderExcluir👏👍
Parabéns pela entrevista!
ResponderExcluirDa nossa parte, obrigado!
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