O infectologista Ricardo Zimerman conversou com a Revista Oeste sobre sua participação na CPI da Covid
Paula Leal
A audiência com os médicos Ricardo Zimerman [foto] e Francisco Cardoso Alves causou uma debandada na sessão da CPI da Covid realizada em 18 de junho. O relator Renan Calheiros (MDB-AL) deixou a sala e foi acompanhado pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão, e Humberto Costa (PT-PE), que se recusaram a fazer perguntas aos depoentes.
O infectologista Ricardo
Zimerman, convidado pelo senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), defende a
utilização de remédios reposicionados para o tratamento da covid-19 — o chamado
tratamento precoce. Em linhas gerais, ele é favorável ao uso de drogas já
testadas para outras doenças como alternativa aos pacientes contaminados pelo
coronavírus. “Em uma pandemia, quando se demora para desenvolver novos
fármacos, o uso de medicamentos que já existem, com segurança validada por
décadas e com disponibilidade em estoque, é particularmente desejável.”
Durante a sessão, que durou oito horas, Zimerman e o infectologista Francisco Cardoso defenderam a autonomia dos médicos na prescrição de remédios e o uso de medicamentos fora da bula para o tratamento da covid-19. Em entrevista a Oeste, Ricardo Zimerman relata sua experiência na condição de depoente na CPI e expõe a dificuldade enfrentada ao tentar divulgar seu trabalho científico em algumas redes sociais: “Você se sente muito mal porque eles o rotulam de disseminador de fake news. É meio humilhante isso“. De Brasília, ele conversou com a reportagem por telefone. A seguir, os principais trechos.
1 — Por que o senhor foi
chamado para prestar depoimento na CPI da Covid?
Eles buscavam alguém com substrato técnico e com uma visão de quem trata pacientes ou de quem produz cientificamente. Não tenho conflito de interesses nem nada a esconder. Logo no começo da pandemia, fiz alguns vídeos caseiros externando algumas preocupações em relação aos rumos da pandemia, questionando o lockdown horizontal e a ausência de tratamentos de reposicionamento. Em uma pandemia, quando se demora para desenvolver novos fármacos, o uso de medicamentos que já existem, com segurança validada por décadas e com disponibilidade em estoque, é particularmente desejável. Hoje em dia existe muita tecnologia de redirecionamento. Já se consegue fazer análises computacionais para encontrar moléculas potencialmente úteis e testar essas moléculas de maneira mais rápida. Para mim, o reposicionamento de remédios era uma conduta clara como rota a ser seguida. E os cálculos que levam à conclusão de um lockdown absoluto eram cálculos muito malfeitos. Para minha surpresa, quando comecei a me posicionar sobre esses assuntos, sofri boicotes e uma série de ataques à minha reputação.
2 — Alguns senadores
deixaram a sessão no dia de seu depoimento. Como o senhor avalia o tratamento
recebido durante sua participação na CPI?
Foi a evolução de um tratamento que tenho recebido há mais de um ano e meio, desde que comecei a me posicionar a respeito de alguns temas da pandemia. Mas, de certa forma, eles tinham razão. No sentido de que a gente não pertence ao mesmo ringue, ao mesmo terreno. Eles foram embora e usaram termos como charlatanismo e coisas assim. Na verdade, eles foram embora porque, por mais que tenham recebido treinamento de pessoas que são contra o tratamento nas fases iniciais, eles viram que não tinham a menor possibilidade de argumentar, porque as falácias que usam são fáceis de desmascarar. O que aconteceu é que eles ficaram com medo por não ter recursos técnicos para discutir a questão, e, como os senadores que são contra o tratamento saíram da sessão, não recebemos tanto contraponto.
3 — O senhor pode citar um
exemplo de “falácia fácil de desmascarar” usada durante a CPI?
Por exemplo, eles refutam o
tratamento reposicionado dizendo que a Organização Mundial da Saúde e a
Sociedade Brasileira de Infectologia não recomendam o uso de determinados
medicamentos no tratamento da covid-19. Eles apelam para um argumento de
autoridade para evitar o confronto da ideia em si. Acontece que a Organização
Mundial da Saúde pode estar errada. De fato, errou miseravelmente em várias
questões da pandemia. Protegeu a China, decretou estado de pandemia só no dia
11 de março, quando já havia mais de 100 mil casos em mais de 100 países. A
Sociedade Brasileira de Infectologia nem autoridade é, autoridade é a
autarquia, que representa as centenas de milhares de médicos no Brasil. Nesse
caso, é pior do que argumento por autoridade, é argumento por uma autoridade
que eles não têm. A Sociedade Brasileira de Infectologia errou muito desde o
início. Errou ao não reconhecer o corticoide, errou ao manter a dose de
corticoide baixíssima até hoje, errou ao não reconhecer o corticoide
inalatório, errou ao não reconhecer a colchicina [medicamento usado no
tratamento de crises de gota e outras doenças]. Não reconhece a
nitazoxanida, a ivermectina. São burocratas que não têm pacientes na frente.
4 — O presidente do
Conselho Federal de Medicina (CFM), órgão máximo de medicina no país, já se
manifestou e disse que cabe ao médico decidir o que usar com cada paciente.
Como fica a autonomia médica para prescrever e receitar remédios diante da
discussão sobre alguns medicamentos no tratamento da covid-19?
Em alguns hospitais no Rio
Grande do Sul, de onde eu sou, pelo menos em um deles, sei que os médicos não
podem prescrever certas medicações. Rasga-se o Código de Ética Médica, mas eles
não podem prescrever. O que o presidente do CFM faz é defender o óbvio. Agora,
alguns conselhos regionais questionam e defendem a ideia de que a autonomia
médica não é absoluta e deve ser limitada a práticas cientificamente
comprovadas. O CRM [Conselho Regional de Medicina] do Rio Grande do Sul
veio com uma dessas, só que o CRM de lá tem uma comissão formada por três
pessoas. Ora, são três pessoas que vão determinar o que está cientificamente
comprovado? Eles não têm lastro moral para isso.
“Você se sente muito mal
porque eles o rotulam de disseminador de fake news”
5 — O senhor continua
usando as redes sociais para divulgar seu trabalho?
Não tenho mais como
fazer lives [transmissão ao vivo na internet] no
Instagram. Como várias publicações minhas foram retiradas, quando tento fazer
uma live não consigo. Sempre que publico um estudo sobre
ivermectina, a publicação é removida por violar padrões da comunidade, seja lá
o que isso signifique. Já tive estudos sobre a proxalutamida, que é um estudo
nosso, próprio, tachados de fake news. Como algum checador
externo sabe dos meus dados de pesquisa mais do que eu? A coisa está em um
nível absurdo. No Facebook acabei me irritando e saí, porque era ainda pior que
no Instagram. Você se sente muito mal porque eles o rotulam de disseminador
de fake news. É meio humilhante isso. Mas acho que esse é o
objetivo: te humilharem. Com colegas que têm a mesma posição que eu, ocorre o
mesmo. No meu caso, não tem nada de política. Aliás, quero dissociar a política
da ciência. Sou muito técnico, e parece que hoje isso não faz a menor diferença.
Se sua postura técnica não convém, o assunto é politizado.
Título e Texto: Paula Leal,
revista Oeste, 21-7-2021, 8h40
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