quarta-feira, 21 de julho de 2021

‘O que o presidente do CFM faz é defender o óbvio’

O infectologista Ricardo Zimerman conversou com a Revista Oeste sobre sua participação na CPI da Covid

Paula Leal

A audiência com os médicos Ricardo Zimerman [foto] e Francisco Cardoso Alves causou uma debandada na sessão da CPI da Covid realizada em 18 de junho. O relator Renan Calheiros (MDB-AL) deixou a sala e foi acompanhado pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão, e Humberto Costa (PT-PE), que se recusaram a fazer perguntas aos depoentes.

O infectologista Ricardo Zimerman, convidado pelo senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), defende a utilização de remédios reposicionados para o tratamento da covid-19 — o chamado tratamento precoce. Em linhas gerais, ele é favorável ao uso de drogas já testadas para outras doenças como alternativa aos pacientes contaminados pelo coronavírus. “Em uma pandemia, quando se demora para desenvolver novos fármacos, o uso de medicamentos que já existem, com segurança validada por décadas e com disponibilidade em estoque, é particularmente desejável.”

Durante a sessão, que durou oito horas, Zimerman e o infectologista Francisco Cardoso defenderam a autonomia dos médicos na prescrição de remédios e o uso de medicamentos fora da bula para o tratamento da covid-19. Em entrevista a Oeste, Ricardo Zimerman relata sua experiência na condição de depoente na CPI e expõe a dificuldade enfrentada ao tentar divulgar seu trabalho científico em algumas redes sociais: “Você se sente muito mal porque eles o rotulam de disseminador de fake news. É meio humilhante isso“. De Brasília, ele conversou com a reportagem por telefone. A seguir, os principais trechos.

1 — Por que o senhor foi chamado para prestar depoimento na CPI da Covid?

Eles buscavam alguém com substrato técnico e com uma visão de quem trata pacientes ou de quem produz cientificamente. Não tenho conflito de interesses nem nada a esconder. Logo no começo da pandemia, fiz alguns vídeos caseiros externando algumas preocupações em relação aos rumos da pandemia, questionando o lockdown horizontal e a ausência de tratamentos de reposicionamento. Em uma pandemia, quando se demora para desenvolver novos fármacos, o uso de medicamentos que já existem, com segurança validada por décadas e com disponibilidade em estoque, é particularmente desejável. Hoje em dia existe muita tecnologia de redirecionamento. Já se consegue fazer análises computacionais para encontrar moléculas potencialmente úteis e testar essas moléculas de maneira mais rápida. Para mim, o reposicionamento de remédios era uma conduta clara como rota a ser seguida. E os cálculos que levam à conclusão de um lockdown absoluto eram cálculos muito malfeitos. Para minha surpresa, quando comecei a me posicionar sobre esses assuntos, sofri boicotes e uma série de ataques à minha reputação.

2 — Alguns senadores deixaram a sessão no dia de seu depoimento. Como o senhor avalia o tratamento recebido durante sua participação na CPI?

Foi a evolução de um tratamento que tenho recebido há mais de um ano e meio, desde que comecei a me posicionar a respeito de alguns temas da pandemia. Mas, de certa forma, eles tinham razão. No sentido de que a gente não pertence ao mesmo ringue, ao mesmo terreno. Eles foram embora e usaram termos como charlatanismo e coisas assim. Na verdade, eles foram embora porque, por mais que tenham recebido treinamento de pessoas que são contra o tratamento nas fases iniciais, eles viram que não tinham a menor possibilidade de argumentar, porque as falácias que usam são fáceis de desmascarar. O que aconteceu é que eles ficaram com medo por não ter recursos técnicos para discutir a questão, e, como os senadores que são contra o tratamento saíram da sessão, não recebemos tanto contraponto.

3 — O senhor pode citar um exemplo de “falácia fácil de desmascarar” usada durante a CPI?

Por exemplo, eles refutam o tratamento reposicionado dizendo que a Organização Mundial da Saúde e a Sociedade Brasileira de Infectologia não recomendam o uso de determinados medicamentos no tratamento da covid-19. Eles apelam para um argumento de autoridade para evitar o confronto da ideia em si. Acontece que a Organização Mundial da Saúde pode estar errada. De fato, errou miseravelmente em várias questões da pandemia. Protegeu a China, decretou estado de pandemia só no dia 11 de março, quando já havia mais de 100 mil casos em mais de 100 países. A Sociedade Brasileira de Infectologia nem autoridade é, autoridade é a autarquia, que representa as centenas de milhares de médicos no Brasil. Nesse caso, é pior do que argumento por autoridade, é argumento por uma autoridade que eles não têm. A Sociedade Brasileira de Infectologia errou muito desde o início. Errou ao não reconhecer o corticoide, errou ao manter a dose de corticoide baixíssima até hoje, errou ao não reconhecer o corticoide inalatório, errou ao não reconhecer a colchicina [medicamento usado no tratamento de crises de gota e outras doenças]. Não reconhece a nitazoxanida, a ivermectina. São burocratas que não têm pacientes na frente.

4 — O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), órgão máximo de medicina no país, já se manifestou e disse que cabe ao médico decidir o que usar com cada paciente. Como fica a autonomia médica para prescrever e receitar remédios diante da discussão sobre alguns medicamentos no tratamento da covid-19?

Em alguns hospitais no Rio Grande do Sul, de onde eu sou, pelo menos em um deles, sei que os médicos não podem prescrever certas medicações. Rasga-se o Código de Ética Médica, mas eles não podem prescrever. O que o presidente do CFM faz é defender o óbvio. Agora, alguns conselhos regionais questionam e defendem a ideia de que a autonomia médica não é absoluta e deve ser limitada a práticas cientificamente comprovadas. O CRM [Conselho Regional de Medicina] do Rio Grande do Sul veio com uma dessas, só que o CRM de lá tem uma comissão formada por três pessoas. Ora, são três pessoas que vão determinar o que está cientificamente comprovado? Eles não têm lastro moral para isso.

“Você se sente muito mal porque eles o rotulam de disseminador de fake news”

5 — O senhor continua usando as redes sociais para divulgar seu trabalho?

Não tenho mais como fazer lives [transmissão ao vivo na internet] no Instagram. Como várias publicações minhas foram retiradas, quando tento fazer uma live não consigo. Sempre que publico um estudo sobre ivermectina, a publicação é removida por violar padrões da comunidade, seja lá o que isso signifique. Já tive estudos sobre a proxalutamida, que é um estudo nosso, próprio, tachados de fake news. Como algum checador externo sabe dos meus dados de pesquisa mais do que eu? A coisa está em um nível absurdo. No Facebook acabei me irritando e saí, porque era ainda pior que no Instagram. Você se sente muito mal porque eles o rotulam de disseminador de fake news. É meio humilhante isso. Mas acho que esse é o objetivo: te humilharem. Com colegas que têm a mesma posição que eu, ocorre o mesmo. No meu caso, não tem nada de política. Aliás, quero dissociar a política da ciência. Sou muito técnico, e parece que hoje isso não faz a menor diferença. Se sua postura técnica não convém, o assunto é politizado.

Título e Texto: Paula Leal, revista Oeste, 21-7-2021, 8h40

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