Quando a SIDA apareceu nos anos 80 não se proibiu nada a ninguém. Em 2020, quando chegou o COVID proibiu-se quase tudo a toda a gente. Somos as cobaias de uma nova forma de governar: o social-sanitarismo
Helena Matos
Acabou. Não sei se se pode ou não circular, muito menos estou para aprender as horas a que o posso fazer e donde para onde se pode ir, se com ou sem testes. Acabou. O que for será. Não é revolta, é cansaço.
Cansaço de viver num país
reduzido à condição de cobaia de um governo incompetente, numa época que trocou
o ideal da liberdade pelo da proteção. Todos os dias estamos mais longe dos
cidadãos livres que fomos para nos tornarmos cidadãos protegidos. Ou na versão
socialista, assistidos: é a morte assistida; as redes sociais assistidas (ler,
censuradas): a escola transformada num espaço de pensamento assistido…
No século XX, os sonhos da
igualdade e da pureza racial levaram-nos ao inferno. No século XXI, o sonho de
vivermos protegidos do vírus, do risco, da História, está a levar-nos para uma
nova ordem: o social-sanitarismo. Uma concepção do mundo em que a divergência
deixa de ser um direito para se tornar numa patologia.
Quando a SIDA apareceu nos
anos 80 do século passado não se proibiu ninguém de amar, de viajar ou de estar
com os seus. Em 2020, quando chegou o COVID fechámo-nos em casa, os velhos
morreram sós nos lares, a economia privada aguentou uma nova onda de
austeridade e Portugal assumiu o estatuto de país-RSI: os portugueses pedem
apoios ao governo que por sua vez espera apoios dos fundos europeus. (Onde está
o sonho de produzir riqueza?)
Em 2021, conseguiu-se uma
vacina em prazos nunca antes alcançados, conceberam-se espantosos planos de
vacinação para milhões de pessoas, mas em vez de se celebrar o progresso
mantém-se o discurso do medo. E da culpa: o vírus não se vai embora porque nos
portamos mal. Uns dias portam-se mal os pais porque celebram a consoada,
noutros os filhos porque vão a festas de Verão. Só o que depende do Governo,
como acontece com os transportes públicos ou a final da Champions, nunca tem
qualquer impacto na propagação do vírus.
Em 2021, os doentes continuam semiprisioneiros nos hospitais, a polícia entra numa casa para retirar uma filha à sua mãe unicamente porque a criança não usou máscara na escola e nós todos vivemos a toque de regras absurdas e despóticas: o que se pretende ao fechar os supermercados às 15h 30m aos fins de semana? Que vamos todos fazer compras ao mesmo tempo?
Há ano e meio que vivemos em
estado permanente de estupidificação: primeiro as máscaras davam uma falsa
sensação de segurança, depois as máscaras tornaram-se obrigatórias. Levámos
semanas a ouvir que tínhamos de confinar para salvar os idosos mas em seguida fomos informados que os mais idosos não iam ser
vacinados em primeiro lugar. Depois, sem explicações de maior,
os mais idosos voltaram a ser prioritários. Passámos sem perguntar por
que do “milagre português” para o desastre (obviamente sem pátria” e do “está
tudo preparado para o Inverno de 2020-2021” para a “culpa foi do Natal”… Mas graças a Deus a condução errática da pandemia é um
problema do Brasil de Bolsonaro!
O social-sanitarismo fez de
cada um de nós um potencial paciente que vive centrado nos seus sintomas,
aceita a falta de coerência nas políticas governamentais com o fatalismo quem
vê a equipa médica que o assiste alterar-lhe os tratamentos e analisa o mundo como
quem interpreta os valores do colesterol depois de um jantar de festa: tudo, do
frio ao calor, da pobreza à doença, é o resultado das más ações. Mas não só. O
social-sanitarismo reduziu-nos ao estatuto do paciente que vê na privação a sua
salvação: Vamos deixar de andar de avião! Vamos ter zero emissões!… O zero como
reivindicação é um símbolo do social-sanitarismo: já não esperamos que o
progresso resolva os problemas, desistimos de fazer o que gostamos e de viver
como queremos. Pelo menos até que os vigilantes do nosso bem-estar determinem
que afinal o que fazia mal já não faz tanto mal assim.
Nos anos 60 do século passado
exigia-se mais liberdade aos governos. Nós esperamos que quem nos governa nos
dê alta e no nosso caso um apoiozinho!
As espécies não regridem, mas
as sociedades certamente que sim: o social-sanitarismo é a prova disso.
Ps. A senhora
secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade Rosa Monteiro já se
pronunciou sobre as declarações de Mamadou Ba sobre o apresentador de televisão
Manuel Luís Goucha? Acontece que a secretária de Estado Rosa Monteiro é responsável pelo Grupo de Trabalho para a Prevenção e o Combate ao Racismo e à Discriminação para o qual foi convidado Mamadou Ba, o mesmo que escreveu sobre Manuel Luís
Goucha “Goucha, o gay que tentou reabilitar Mário Machado, um criminoso
nazi homófobo assumido, sai agora definitivamente do armário racista e apoia a
candidata racista do PSD na Amadora. Isto vai para lá do sinistro
homonacionalismo”.
A não ser que Mamadou Ba
tenha sido convidado para ilustrar ao vivo o que é um discurso de discriminação
não se percebe o que está a fazer nesse grupo. E muito menos o silêncio da
secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade Rosa Monteiro.
Título e Texto: Helena
Matos, Observador,
11-7-2021, 8h25
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