segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Rua Dias da Rocha é latrina a céu aberto em Copacabana

A Dias da Rocha se tornou uma espécie de "polo industrial" na Zona Sul. Lá, funciona um verdadeiro centro de reciclagem de lixo, a céu aberto, com um odor de chorume que contamina a vizinhança e chega a ser sentido dos andares mais altos dos prédios

Diário do Rio


Os moradores de Copacabana (…) vêm convivendo com uma crescente situação de abandono. A maioria esperava que com a posse do prefeito Eduardo Paes, as coisas começassem a mudar, para melhor. Paes nomeou para a suprefeitura da Zona Sul Ana Ribeiro, assistente social e moradora do bairro, o que, inicialmente, gerou muita esperança; se não se esperava um retorno aos gloriosos anos 60, ao menos que o bairro voltasse à situação que estava antes da posse do bispo da Universal. 

Apesar de uns acertos aqui e ali, os moradores de Copacabana não veem a mudança esperada. Algumas vias do bairro estão completamente entregues às baratas. A outrora nobre rua Dias da Rocha é uma das que experimenta dias de terror, independente das inúmeras chamadas e protocolos abertos todos os dias por seus moradores e frequentadores no manjado serviço 1746. A via, fechada para pedestres num trecho que já foi seu mais aprazível, é o epicentro do mais completo caos.

Apesar da abertura de mais de 30 novas lojas nos últimos meses em Copacabana, nada parece ser capaz de desacelerar sua transformação na nova cracolândia carioca. “Copacabana virou uma lixeira, total abandono”, diz Gilsonete Silva, moradora do bairro. As informações do vizinho Fernando Bonel são assustadoras: “Ando da Siqueira [Campos] até a Raimundo Corrêa pela Nossa Senhora, às 21hs, durante a semana. Já vi vários arrastões. Quem não anda armado sugiro que fique em casa depois das 21hs.” O DIÁRIO ouviu diversos moradores, e vem acompanhando os grupos de discussão sobre a princesinha do mar há cerca de 30 dias, para a confecção desta reportagem. Os relatos fariam inveja a Sodoma e Gomorra. 

A Dias da Rocha se tornou uma espécie de “polo industrial” na Zona Sul. Lá, funciona um verdadeiro centro de reciclagem de lixo, a céu aberto, com um odor de chorume que contamina a vizinhança e chega a ser sentido dos andares mais altos dos prédios. Durante toda a noite, moradores de rua descarregam lixo de todo o tipo na rua de pedestres, e caminhões e caminhonetes recolhem todo este “lixo”. As aspas são por uma razão nada legal: como “lixo”, são receptadas e levadas tampas de bueiros, fios arrancados de postes por viciados em drogas, grades roubadas de edifícios, hidrômetros arrancados de imóveis vazios, pedaços de portas de enrolar, e tudo o mais que os moradores de rua e criminosos arrancam. Esta semana, o “recolhimento” de “recicláveis” foi além do normal: levaram todas as grelhas dos ralos da ‘praça’. Em outras levas, já levaram bancos de praça inteiros, e às vezes ripa por ripa. 

A moradora Rosana A. parece ter chegado a um nível de revolta grande, compreensível tamanho o abandono do bairro. Em um dos grupos do bairro no Facebook, sentencia: “Mas a culpa é nossa! Um monte de gente apoia, dá comida, dinheiro e mantém o povo na rua. Sugiro aos apoiadores que hospedem em suas casas.” Mariana Bernardo complementa: “Praça Dias da Rocha nesse momento lixo, lixo, lixo! Cheiro insuportável que sobe p os apartamentos.“ 

Administrador de um edifício no bairro, Adriano do Nascimento diz que a Dias da Rocha se tornou um foco de furtos e consumo de drogas durante o dia, e um verdadeiro centro industrial de reciclagem à noite. “O barulho é tão grande que se escuta dos andares mais altos, pois eles gritam, fazem uma espécie de pregão de troca de materiais, gritam valores por quilo, e por vezes há brigas e berros a noite inteira”. O local se tornou um depósito de lixo, mas também uma hospedaria de viciados em todo tipo de drogas. A pracinha que fica no entroncamento da Dias da Rocha com a Avenida Copacabana (onde antigamente havia a via de automóveis) é um ambiente hostil. Quem olha, fotografa ou passeia com seus cachorros reclama do assédio dos moradores de rua. “Faturam a noite com a reciclagem e a receptação de tudo que furtam durante o dia, mas não contentes com isso ameaçam a gente e se impõem até darmos dinheiro para eles“, disse uma idosa que se identificou como dona Isaura, enquanto nossa equipe tirava fotografias. 

Todas as noites, o que já foi apelidado pelos moradores de Centro de Reciclagem da Dias da Rocha, funciona a noite inteira. Moradores de rua de todos os pontos do bairro trazem carroças, carrinhos de supermercado, sacos, e é feita, a céu aberto, a seleção deste lixo, que inclui tampas de bueiro, pedaços de poste, gradis e tudo o mais que é furtado na região e pode ser vendido a peso.

Caminhões passam (na foto, um azul) e recolhem tudo o que é separado, aos berros, durante a noite. A seleção conta com o barulho de latas e garrafas quebrando, entulho sendo mexido, e tudo o mais capaz de transformar a rua Dias da Rocha, de uma das melhores ruas do bairro, numa das mais desvalorizadas. Especialistas consultados dizem que nos últimos 2 anos, tem sido muito difícil vender imóveis na rua, por conta do cheiro de lixo e do barulho que, todas as noites, atormenta a vizinhança. “Nas barbas da prefeitura, nossa rua se tornou praticamente uma área industrial“, disse ao DIÁRIO José Euztáquio, morador da região, inconformado com a situação.

A transformação da Dias da Rocha em caos e latrina a céu aberto não é o único problema de Copacabana, que sofre de todas as formas com o vandalismo e a presença de moradores de rua. O canteiro central da Avenida Atlântica, cartão postal da cidade, tem sido outro problema sem solução, apesar das sucessivas incursões do pessoal da Secretaria de Ação Social.

A questão principal é que o espaço público está sendo usado sabe-se lá por quem com finalidade econômica. Alguém está lucrando muito com a miséria desses catadores, com o descaso da subrefeitura da Zona Sul, e com o inferno que diariamente vivem os moradores da Dias da Rocha. Caminhões e mais caminhões retiram o lixo todas as noites. Qual a razão para não tomarem providências? Quem estará lucrando com isso?” pergunta o síndico de um edifício da Dias da Rocha, que pediu para não ter seu nome citado, mas cujas dúvidas, certamente, são as mesmas de outros cidadãos. 

Título, Imagens e Texto: Redação, Diário do Rio, 22-8-2021

Um comentário:

  1. A Tendencia destas latrinas é aumentar. Sempre. A Rua Dias da Rocha deveria mudar de nome, urgentemente, antes que o bairro acabe. Sugeriria ao prefeito um nome pomposo, elegante, digno da atual Cidade Maravilhosa. Brazzzilia II.
    Aparecido Raimundo de Souza
    aparecidoraimundodesouza@gmail.com
    Vila Velha Espírito Santo ES

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