A Comissão Parlamentar de Inquérito não conseguiu apurar um único crime de corrupção praticado pelo governo no enfrentamento da pandemia
J. R. Guzzo
Após seis meses de
ilegalidades, de abusos e de comportamento em geral infame, durante os quais
impôs ao público espetáculos diários de hipocrisia, de má-fé e de falsificação
grosseira da verdade, a “CPI da Covid” se prepara para encerrar um dos piores
momentos de toda a história do Senado Federal. É uma história que já não
oferece — nunca ofereceu — grande coisa de útil ou edificante para quem paga os
seus atores. Agora ficou menor. Desonesta nas intenções, inepta na execução e
irracional nas conclusões, a CPI prepara-se para acabar no mesmo clima de
incompetência em que começou — seus donos não conseguiram, sequer, acertar
direito o dia para a leitura do “relatório dos trabalhos”.
A “CPI da Covid” já vai tarde.
Em todos os seus meses de atividade, e apesar de todas as agressões que seus
gestores cometeram contra o processo legal de investigação existente no país,
não conseguiram apurar um único crime de corrupção efetivamente praticado pelo
governo federal no combate à covid — como era a sua promessa central. Não
apuraram delito nenhum, na verdade. Nada do que enfiaram no seu relatório final
— uma palhaçada de 1.000 páginas, como se tamanho fosse documento — se sustenta
numa vara de Justiça de terceira categoria. Por isso mesmo, a farsa gigante que
armaram não vai resultar, na vida real, em absolutamente nada. Os proprietários
da CPI queriam derrubar o governo com a sua investigação. Não vão conseguir nem
mesmo uma vantagem eleitoral decente para o ano que vem.
A CPI que agora se encerra existiu, na prática, por uma única e exclusiva razão: a mídia brasileira se associou de corpo, coração e alma ao relator, ao presidente e aos seus subordinados diretos e passou os últimos seis meses publicando exatamente o que eles determinavam que fosse publicado.
Foram eles, na verdade, os
principais editores do noticiário político neste país desde que o STF, num ato
de pura militância, obrigou o presidente do Senado a abrir a CPI. Sem o apoio
maciço dos meios de comunicação, que durante todo o processo agiram como
participantes das “investigações” e instrumentos de propaganda para os seus
operadores, não teria havido nada. O que houve, no fim, foi só barulho — mas,
sem a imprensa, nem isso teria havido.
De maneira deliberada ou por
desatenção, na ânsia de “derrubar o governo” — o que seria ainda mais patético
—, a mídia transformou em novo herói da República um dos políticos mais
enrolados com a Justiça penal que se pode encontrar hoje em atuação no Brasil.
Para não encompridar o assunto: o homem tem nove processos no lombo por
corrupção e, como tantos outros, está escondido no Congresso para se proteger
com as suas “imunidades parlamentares”. Isso para não falar no presidente da
CPI — metido até o talo em denúncias de corrupção em seu Estado, justamente por
ladroagem na área da saúde. (Sua própria mulher e irmãos foram para o xadrez,
no mesmo episódio.)
É uma história que termina em
ruínas.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
Gazeta do Povo, via revista OESTE, 18-10-2021, 18h
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